Essa energia presente é essa energia da Consciência. Nós estamos falando da Liberdade de lidar com a experiência, seja ela qual for, sem atritar, sem conflitar, sem se ver separado dela. Eu tenho usado muito a expressão “a consciência comum a todos”, consciência egoica, a consciência mental, mas eu quero falar sobre essa Real Consciência. Essa consciência de percepção de mundo, por exemplo, é uma consciência mental, tem você e aquela cadeira.
A diferença entre o ser humano e um animal é que o ser humano tem muito claramente consciência de si e um animal tem essa consciência externa. O ser humano tem consciência de si. Essa “consciência de si” eu tenho chamado de autocentramento ou autoconsciência. Essa autoconsciência, que a gente chama de “consciência de si mesmo”, é apenas um pensamento sobre “quem sou” – nesse sentido parece que a psicologia ainda não entrou ou não tem isso ainda muito clara.
A consciência desse “eu”, desse “mim”, é chamada de autoconsciência. Essa autoconsciência não passa de uma ideia do pensamento sobre a existência de um “eu” dentro dessa experiência corpo em percepção, em sensação, em experimentação. Até aí é o que nós conhecemos no mundo por autoconsciência ou consciência. Isso eu tenho chamado de consciência egoica, consciência do “eu”, consciência mental ou egoconsciência. E o que é essa Real Consciência? O que é essa Verdade da Consciência? É o que eu tenho chamado de Consciência Pura.
Agora, nesse momento, o que temos presente não é esse elemento “eu” se separando da experiência da percepção, da visão, do tato ou do paladar. O que nós temos presente é essa Consciência, mas não é a consciência de objetos separados do sujeito, é a Consciência. Essa Consciência não é a consciência do “eu”, é a Consciência que não se separa do que quer que esteja surgindo para se ver como um elemento separado dela.
Para ficar simples isso: quando você olha para uma árvore, para um pássaro ou para uma nuvem – são exemplos assim bem simples –, é impossível você ter algum resultado de ordem pessoal, você particularizar aquela experiência e colocar dentro do seu mundo, a não ser que você seja um pintor que esteja pintando um quadro, olhando uma paisagem e transferindo aquela imagem para um quadro ou um fotógrafo fotografando um pássaro, uma árvore ou um conjunto de montanhas, porque aí nesse momento você está capturando dentro da sua experiência muito particular e pessoal aquele momento ou procurando capturar. Fora isso, quando você olha para um pássaro, para uma árvore ou para uma cadeia de montanhas, é só um olhar livre de uma identidade presente.
Nesse olhar não existe interesse pessoal, não existe esse autocentramento, não existe essa autoconsciência, é só a Consciência do ver sem “alguém”, do olhar sem “alguém” olhando. Notem que esses momentos na sua vida são os momentos mais preciosos, são os momentos da ausência do “eu”. Uma cadeia de montanhas não tem nada para te dar a não ser sua presença. As nuvens também, aquele pássaro cantando naquela árvore também. Nesse momento, o sentido de “alguém” presente autocentrado não está. Então, esse é um exemplo do que aqui eu tenho chamado de Consciência Pura.
Quando o sentido de um “eu” não está presente, Aquilo que está presente é a Vida. É tão simples, natural e real esse momento que não há qualquer ideia, imagem ou lembrança de “si mesmo” na experiência. Nem mesmo você consegue dizer “Estou vendo, estou sentindo, estou vivendo isso” porque, de fato, não tem o “eu”, não há “alguém”.
Nós apreciamos esses momentos de tal forma que viajamos para estar em lugares novos, para estar em uma trilha, para estar à beira de um lago sentado sem fazer nada, sem buscar nada. Não há nenhum pensamento, você nem pensa em coisas materiais, nem em coisas espirituais, neste momento não tem o “eu”. É nesse momento que a Realidade da vida está e “você” não está. Isso é Ser-Consciência-Felicidade. Todos apreciam a ausência do “eu” e todos vivem Isso, então não é algo estranho esse apontar que temos aqui.
Nós queremos que você descubra essa qualidade de Consciência de Ser Felicidade no viver, no dia a dia, falando com as pessoas, olhando para as pessoas, se relacionando com negócios, com o mundo, com a vida. Então esse momento é assim quando o sentido do “eu” não está. Não importa se você está dirigindo se “você” não está, se você está falando se “você” não está, se você está ouvindo e “você” não está, há um escutar, há um ver, há um falar, há um fazer sem o “eu”.
Essa é a Realidade do Buda, é a Realidade do Cristo, é a Realidade de Ramana Maharshi, a Presença de sua Natureza Essencial livre do tempo psicológico. Compreendem o que eu chamo de tempo psicológico? É esse autocentramento, é essa identidade, é a história de um personagem que é um conjunto de memórias, de lembranças com a qual você se confunde, e esse personagem – o “eu” – está traduzindo, interpretando tudo do jeito que ele deseja, o que é completamente falso.
Então, o que é essa Realidade de Ser-Consciência-Felicidade? É Aquilo que está presente agora, aqui. “Ah, mas eu sinto raiva, eu sinto medo, eu sinto desejo”. O que você sente é um sentir e esse sentir é uma forma de energia presente no corpo, se expressando nesse modelo. Acompanhem isso. A raiva é uma energia presente no corpo. O medo é uma energia se expressando no corpo de uma forma, é uma emoção, está no corpo. Nós rejeitamos isso, rejeitamos a raiva, rejeitamos o medo, rejeitamos o desejo ou nos identificamos com o desejo, nos identificamos com a raiva e aí temos um prazer de expressar a raiva – isso é uma forma de se identificar com a raiva, não é de rejeitar. A busca da sensação do medo pode ser para rejeitarmos ou pode ser para buscarmos a sensação.
É difícil reconhecermos o quanto apreciamos, também, a sensação do medo em alguns momentos bem particulares. Não é só a rejeição. A rejeição ou aceitação disso é a intervenção ilusória desse autocentramento, dessa autoconsciência, da consciência do “eu”, isso é energia. Quando você rejeita ou se identifica com essa experiência, você coloca uma identidade presente. Quando você faz isso, quando dá identidade à experiência, o sentido de autocentramento egoico aparece e há uma completa alienação da vida como ela é, é quando você se separa como sendo o “eu”, o ego, e aí toda essa percepção de Realidade, de Pura Consciência, Felicidade desaparece. Mas a presença em si da experiência a nível emocional é só uma energia presente quando o sentido do “eu” não está.
Assim, se aproximar do que quer que se passe externamente ou internamente – no mundo externo, naquela cadeia de montanhas, as nuvens, a natureza, a vida, as pessoas – e perceber que há apenas uma ilusória identidade aparecendo nesse formato de fundo de condicionamento psicológico – que é o modo como nós reagimos às experiências –, olhar isso, ver isso, tomar ciência disso basta para esse “eu” não conseguir a continuidade que ele busca. Basta isso. Você não reage, você apenas olha. Quando você olha, essa energia que antes tinha essa apresentação de raiva, de medo, de ciúme, de inveja produzindo esse conflito de separação, essa dor de separação, esse sofrimento, essa infelicidade, não tem como continuar se sustentando quando esse olhar está presente, quando há essa quebra de identificação com a experiência da emoção, da sensação ou da percepção.
É fácil a gente olhar assim para uma cadeia de montanhas, mas é difícil quando alguém diz: “Seu idiota, pare com isso, seu burro”, porque isso suscita de dentro de nós uma reação muito rápida a nível mental, psicológico, neurofisiológico de raiva. Essa raiva é a mesma energia da percepção da Consciência que vê e contempla a cadeia de montanhas, o pássaro cantando e aquelas nuvens no céu. É a mesma energia. Só há uma energia presente, é a energia dessa Consciência Pura. É que quando ela se perde temporariamente nessa identificação que é o “eu”, aí o sofrimento surge.
Vamos descobrir aqui como desmontar esse mecanismo, ok? Vamos descobrir aqui como nos livrar dessa mecânica, desse mau funcionamento, dessa desordem psicológica. Vamos realizar Deus, realizar a Verdade do seu Ser.
Então a pessoa te chama de idiota, aí você escuta, você coloca atenção nisso. Nessa atenção, se algo surge, só pode estar surgindo de um condicionamento. Você olha para isso que surge e agora aquilo que tem que ser visto é essa reação. Quando essa reação surge, ela surge com um conjunto de pensamentos, como: “Idiota é você”. Isso é tão rápido, é tão veloz que na raiva, você está tomado de raiva e isso é expresso, mas isso levou um segundo para se formar uma resposta.
O momento “Idiota! Seu idiota” é de pura energia, não tem o “eu”. Ele tem que levar um ou dois segundos para ter uma resposta reativa, para sentir a dor e querer chorar. Ou você reage chorando: “Eu não mereço…” ou você reage jogando para ele de volta: “Idiota é você, pá, pá, pá…” e algumas palavras daquelas bem “amáveis” – “filho da melancia, do abacaxi”. Isso é muito rápido, veloz, mas levou um segundo para se formar. Mas o instante da raiva é de energia pura, uma coisa se processando no corpo em razão, sim, de um condicionamento psicológico. Não dá para você atingir Ramana, um Ser Realizado, chamando ele de idiota, não vai surgir isso, lhe garanto que não vai surgir, porque não há mais um condicionamento na máquina para responder assim.
Quando você olha para essa energia sem colocar uma identidade para se defender, você está ouvindo só em uma Atenção Plena. O pessoal usa a expressão “atenção plena” sem saber o que significa. Atenção Plena é estar cônscio do instante e isso não vem com uma prática, com um sistema ou com um método, isso vem com uma Atenção Plena. Isso não se aprende, não há técnica, não há cursos.
O pessoal faz cursos de “atenção plena” e depois saem de lá desatentos. Atenção é Consciência, é Presença e isso não se aprende. Você tem Atenção Plena olhando para uma cadeia de montanhas, isso não te magoa, não te ofende, não te aborrece, não te entristece, não mexe no seu “eu”, no seu ego. O que você precisa é de Atenção Plena agora, porque ele te chamou de idiota. Como, em geral, não sabemos o que é isso porque desde criança estamos sempre reagindo às experiências, completamente inscientes do momento, do que elas representam e significam, essa resposta inconsciente está se processando o tempo todo.
Mas, quando você olha para isso sem colocar esse elemento “eu”, que é essa consciência egoica, essa autoconsciência, essa identidade pessoal se separando daquela energia que está assumindo essa… “raiva”. Não tem nome, é uma experiência no corpo, e é tão interessante essa coisa da raiva, por exemplo, que ela não é pessoal.
A energia em si, o movimento que ela faz na máquina não tem nada de pessoal. Ela só se torna pessoal e com o nome de raiva quando você entra para dizer para alguém o que aconteceu, porque no momento que acontece não tem “alguém”. Em nenhuma experiência nesse momento fica ”alguém”, ele leva um, dois segundos para particularizar, personificar a experiência para depois contar para outros, para xingar, reagir e depois dizer: “Estava com tanta raiva”.
Mas é uma experiência emocional da máquina, é uma coisa física, é energia. Você coloca agora Consciência nesse momento, Atenção Plena e ao escutar “Idiota”, você escuta. Esse escutar Real requer a Presença da Consciência Verdadeira para ouvir “Idiota”. É uma palavra, não atinge ninguém uma palavra. Então você particulariza a experiência, se você lê isso em um livro, você não se ofende.
Então é muito importante essa arte de Ser Consciência, que é a Atenção Plena, porque você vai descobrir como viver momento a momento sem estar presente na experiência sendo uma pessoa, olhando, na verdade, para todo esse movimento interno do “eu” surgindo quando ele é desafiado, sem colocar uma identidade presente. Isso é possível quando você está plenamente atento a todo o movimento interno do “eu” em si mesmo.
Essa energia, que é a energia da Consciência, começa a trabalhar na máquina, no corpo de uma forma inteiramente nova. Agora você não precisa de uma cadeia de montanhas, não precisa de uma viagem, você não precisa estar caminhando em um bosque. Você está no seu viver, no dia a dia atento a si mesmo, observando todo o movimento do “eu” dentro de si mesmo e na relação com o outro, sem colocar uma identidade presente nessa experiência. Essa energia começa a trabalhar no corpo, começa a assumir um lugar inteiramente novo e desconhecido, que é o Despertar da Kundalini.
A palavra Kundalini é Consciência. Não é uma experiência esotérica, mística, algo que você teve e depois conta para todo mundo, não é isso. É a simples constatação da ausência de uma identidade presente aqui e agora, no olhar a cadeia de montanhas, as nuvens, aquele pássaro e, também, ao olhar para uma pessoa sem uma imagem. Olhar, um olhar livre desse sentido do “eu”, do ego; ouvir sem o sentido do ego, então as pessoas falam o que quiserem falar e você escuta, percebe que são ideias, são conceitos, são opiniões. Elas têm todo o direito de ter o conceito, as opiniões, as ideias, gesticularem como querem e você só as olha, sem o sentido de “alguém” que as condena, as critica, as julga, porque elas são o que são. Essa Presença, essa Consciência, a Verdade daquilo que é você é essa energia de Atenção Plena, de Plena Constatação sem aquele que constata.
Então, percebam a diferença entre “estar consciente” e Ser Consciência. “Estar consciente” é estar consciente que você é “alguém” e eu sou “alguém”; “estar consciente” que aquilo ali é uma cadeira, aquilo ali é uma mesa, aquilo ali é um pássaro e eu vou dando nomes para tudo, vou tendo minhas ideias, minhas opiniões, meus julgamentos, minhas comparações para tudo – isso é “estar consciente”.
Essa é a condição da vida comum a todos nesse “estar consciente”. Isso é viver dentro de um desperdício de energia constante que quando há essa Atenção Plena – e isso é parte do Autoconhecimento, isso é parte da Real Meditação na prática – realiza uma mudança nesse corpo e mente. Na verdade, o cérebro passa por uma mudança, o corpo passa por uma mudança, esse mecanismo, esse corpo passa a ser, de verdade, a expressão dessa Consciência Pura, seu Estado Natural que alguém chama de Iluminação, Despertar e Realização de Deus.
Esse é o assunto e aí fica para vocês olharem para isso, se aproximarem disso vivencialmente.