Muito bem! Existe um assunto que eu quero considerar com vocês agora nos próximos minutos aqui: é a questão do ego. Alguns dizem: “O ego é o seu inimigo”. Mas inimigo de quem? Ao usarmos essas expressões, queremos dar a entender que existe “aquele” que nós somos e existe esse elemento que é o ego, então existe “eu” e o ego. Qual será a verdade sobre isso? Vamos investigar um pouco isso aqui com você.
Quando dizemos: “O ego é o meu inimigo”, a pergunta é: inimigo de quem? A sua resposta será naturalmente: “De mim, o ego é o meu inimigo, então ele é um inimigo meu”. Isso é como se houvesse dois presentes: o “eu” – esse “mim” – e o ego. Mas a verdade é: o que é o ego? Na resposta a essa pergunta, nós temos a verdade, e eu quero olhar com você isso aqui, nesse encontro. O ego é simplesmente um falso centro em torno do qual a nossa vida está acontecendo. Então quando nós usamos as expressões “minha vida” ou “nossa vida”, estamos falando de uma vida, que gira em torno de um centro que é ilusório, que é falso, que é o “eu”. Esse “eu” é o próprio “mim”, o ego. Então de quem esse “mim”, esse “eu”, esse ego, é o inimigo se só o que temos agora, aqui, nesse momento, é o sentido do “eu”? Se aquilo que está presente é o sentido do “eu”, o que temos presente é o sentido de separação. Esse sentido de separação está em conflito com ele próprio, com ele mesmo, como o “eu” e o “não eu”, ele está criando a ilusão do sentido de separação. Então o sentido de um “eu” presente é aquele que se separa, sim, nessa ilusão “eu” e “não eu” do mundo, “eu” e o “não eu” do pensamento.
O ego, se investigado, será claramente compreendido como uma ilusão. O ego não passa de um falso centro, é como se houvesse uma roda, e você sabe: uma roda tem um ponto central que eles chamam de eixo. Toda a força aplicada naquele eixo irá determinar a força daquela roda, a velocidade daquela roda, o movimento, o poder de movimento daquela roda. Então todo o poder de movimento da roda é aplicado ali, naquele eixo. O eixo é o centro. O ego é uma espécie de centro em torno do qual a nossa vida está acontecendo.
Então essa “nossa vida” é a vida particular desse centro, desse falso centro, que é o “eu”, o ego. A nossa vida tem se constituído de problemas, nós temos inúmeros problemas. Esses inúmeros problemas só existem, têm realidade, se sustentam, têm verdade nesse centro, nesse falso centro, nesse falso eixo dessa roda ilusória. Essa roda ilusória é todo o sentido de movimento de existência separada. Esse sentido de existência separada consiste de inúmeros problemas. Todos os problemas na sua vida estão presentes em razão da “sua vida”, ou seja, dessa particular vida que é onde ocorre tudo isso a partir desse centro, desse ilusório centro, desse falso centro. Assim, quando as pessoas dizem: “O ego é o meu inimigo” ou “O ego é o seu inimigo”, o que é que elas chamam de ego? A ideia ilusória aqui é de que existe “eu e um inimigo”, que é o ego. Isso é real? Qual é a realidade do ego? Então a pergunta é: quem sou eu?
Não existe esse “inimigo” e esse “eu”. Quando nos referimos a nós mesmos como “eu”, estamos nos referindo a esse “mim”, a esse centro, a esse eixo em torno do qual a vida está acontecendo, a particular vida de cada um de nós. Esse é o sentido do “eu” presente. Então nossa vida é realmente complexa, ela é realmente problemática, ela é realmente carente de Verdade, de Beleza, de Amor, de Paz, de Felicidade, em razão desse “eu”. Esse “eu” é nossa identidade irreal.
Quando nós investigamos a natureza do “eu”, e isso é possível através da autoinvestigação, de uma aproximação direta através do Autoconhecimento, isso lhe coloca num contato direto com a Realidade do seu Ser. A auto-observação lhe mostra que aquilo que hoje atua, trabalha, opera, se movimenta em nossas vidas particulares é um conjunto de lembranças, memórias, experiências, conhecimentos, ideias, julgamentos, opiniões, desejos e medos. É nisso que se constitui o “eu”, esse “mim”, esse ego. A observação do movimento desse “eu” desfaz com essa ilusão, que é a ilusão desse centro falso, desse falso ilusório “eu” com o qual sempre temos nos confundido.
Então não se trata de você ter um inimigo. Você é o único inimigo, o sentido de um “eu” presente é o único inimigo, o único adversário. Adversário de “alguém”? Não! É apenas o adversário no sentido de resistir à vida, à Real Vida como Ela está acontecendo, agora aqui. Então, quando as pessoas usam a expressão “o ego é o seu inimigo” é porque elas se sentem desconfortáveis com a presença do ego em suas vidas. Mas o próprio ego é a vida delas. Assim, querer se livrar desse inimigo é uma ilusão, porque é o próprio “inimigo”, é o próprio “eu”, se disfarçando de policial para prender o ladrão. Então é o “eu” que fala de um inimigo fora dele, à parte dele. Esse próprio “eu” chama esse “inimigo” de ego, mas esse “eu” é o próprio ego, esse “eu” é o próprio inimigo.
Veja como é importante nós compreendermos isso. As pessoas querem se livrar do medo, querem se livrar da inveja, do ciúme, dos “seus” apegos, mas elas são esses apegos, essas diversas formas de ciúmes, esses temores, esses medos diversos são elas mesmas. Então o “eu” quer se livrar do medo, mas o “eu” é o medo. O “eu” quer se livrar do ciúme, mas o “eu” é o ciúme. O “eu” quer se livrar da inveja, mas o “eu” é inveja. É que a ideia que se tem, criada pelo próprio “eu”, é que existe algo em nós que não é esse “eu”, mas essa é a própria imagem que o “eu” cria dele próprio, então ele mesmo se separa ideologicamente e idealiza uma libertação que ele, de fato, nunca realiza. Repito: ele é o ladrão que se disfarça de policial para prender o ladrão.
Então veja: o ego não é o seu inimigo. Você é o “eu”, o ego, e esse é o único inimigo presente. Não é o inimigo de “alguém”, é o inimigo da Vida como Ela se mostra, agora, aqui. Quando esse “eu” não está, quando esse ego não está, não há conflito, não há dilema, não há problema. A Realidade do seu Ser é a Realidade de Deus. Não idealize seu Ser, não projete uma imagem, uma ideia sobre Deus, porque essa ideia sobre Deus, essa idealização sobre o seu Ser, será apenas mais uma imaginação do próprio “eu”, que é esse ilusório sentido de “alguém” aqui presente se separando da Vida.
Então é muito interessante a gente observar isso. Nós temos muitas teorias sobre Deus, muitas teorias sobre a Verdade, muitas teorias sobre a Libertação, sobre o amor, sobre a paz, sobre a felicidade, mas são teorias tecidas pelo próprio “eu”, por essa ilusão. Portanto, nenhuma dessas teorias está em linha com a Realidade, em linha com a Verdade sobre o Ser, sobre Deus, sobre a Felicidade, sobre o Amor, sobre a Paz. Se nós aqui estamos trabalhando essa coisa de uma aproximação da Verdade do Ser ou da Verdade de Deus, precisamos começar por aquilo que apresentamos ser, aqui e agora. O que nós apresentamos ser, aqui e agora? É com isso que nós temos que trabalhar. Se há medo, é isso que nós temos agora, aqui; se há inveja, é isso que nós temos agora, aqui; ciúme, é o que temos, violência, é o que temos, desejo, é o que temos… Assim, todas essas peculiaridades desse falso centro estão presentes agora, aqui, e precisamos nos aproximar, olhando para isso sem um ideal de alguma coisa diferente disso, porque isso é o que nós temos agora, aqui. Se é o que nós temos agora, aqui, é aquilo que nós agora, aqui, somos. É aquilo que aqui somos agora que precisa ser visto. Nós não podemos trabalhar com “alguém” do passado ou com “alguém” do futuro, é só com “alguém” agora, aqui. Então essa ideia de realizar algo amanhã ou se livrar de algo de ontem, isso não tem qualquer realidade.
Qual é a forma real de nos aproximarmos desse falso centro, desse inimigo, que é o ego? Olhando para aquilo que somos, agora, aqui, investigando a natureza do “eu”, observando todo esse movimento interno de memórias, lembranças, imagens, de gostar, não gostar, de apreciar, não apreciar. Quando você olha para esse movimento do “eu”, agora, aqui presente, sem qualquer resistência a esse movimento, você pode perceber agora, em si mesmo, a inveja, o ciúme, o medo, o desejo. E perceber em si mesmo isso é perceber esse “si mesmo” como sendo isso. Se não surge uma ideia sobre isso, uma imagem sobre isso, um conceito intelectual, ideológico sobre isso, se o que você tem agora, aqui, é o que se mostra, essa sensação, esse sentimento, esse sentir, quando você não se separa disso, o que ocorre com essa energia? O que ocorre com o medo, essa energia no corpo, no sistema nervoso, nesse mecanismo, nesse organismo? O que ocorre com esse movimento chamado “medo” quando ele não encontra o pensamento, a imagem, a ideia pra fazer alguma coisa? O que ocorre com essa energia que agora está presente aqui no corpo? Primeira coisa: ela perde o valor do nome. É um desconforto, é um mal estar, é uma espécie de dor, é uma espécie de sofrimento, mas não tem o nome. Você não dá mais o nome para essa experiência e você, também, já não se coloca como sendo o “eu” que quer se livrar da experiência. Então essa separação entre o medo, que é a experiência que agora já não tem mais o nome, é só essa sensação, esse sentimento, essa dor. Você não coloca mais o nome, não classifica, não nomeia. É algo que está presente agora, aqui, no corpo, nesse mecanismo, nesse organismo. Essa é a experiência, mas agora não tem mais o experimentador, não tem o “eu” querendo se livrar disso, querendo fazer algo contra isso, querendo se libertar disso. Não há um pensamento sobre isso, uma imagem sobre isso, uma ideia de algo no futuro, que é a libertação ideológica, a ideia de estar livre do medo. Não! Nesse momento, há só o contato com a experiência, contato com a experiência sem o “eu”, sem esse fundo que rejeita, que quer se livrar, que quer se separar disso, que quer fugir disso.
É muito comum esse movimento de fuga. Nós vivemos fugindo desses estados do “mim”, do “eu”, do ego, então nós fugimos. Esse é um assunto bastante importante aqui, bastante delicado. Nós fugimos para a bebida, para as drogas, para as diversas formas de entretenimentos, fugimos para o sexo, fugimos para as crenças religiosas, fugimos para leitura de livros, isso nos traz conforto emocional, isso nos produz esperança. E o que é a esperança? Uma ideia, um conceito, uma crença, no amanhã, uma crença no futuro e, é claro, quando isso está presente, isso nos distancia dessa dor, desse desconforto. Mas esse distanciamento não é o fim para isso, é algo provisório. Então, em razão de todas as fugas, ao longo dos anos nós adquirimos muita prática em fugir. Cada um tem uma forma específica de fuga que mais lhe agrada e isso nos distancia dessa dor, desse desconforto que pode ter diversos nomes. Nos distancia, temporariamente, dessa experiência do “eu” sofrendo, porque agora é o “eu” assumindo uma outra forma, ele foge da dor pelo prazer.
Então é assim que estamos lidando com esse falso centro, com esse “mim”, com esse “eu”, com esse ego. A mente egóica, esse centro falso, está sempre em contradição, em conflito, em algum tipo de sofrimento, e nós fazemos isso o tempo inteiro. Estamos o tempo inteiro escapando desse desconforto, escapando dessa dor, escapando desse sofrimento, substituindo isso, temporariamente, por alguma forma de fuga. Então nós estamos sempre fugindo dessas dores psicológicas. O medo é a dor, a culpa é a dor, a ansiedade é a dor, a depressão é a dor, nós damos nomes para isso, e quando damos nomes, nós classificamos, explicamos para nós mesmos o sentimento, explicamos para outros o sentimento e continuamos presos a esse modelo desse “mim”, desse “eu”, desse ego. Temporariamente escapamos, mas estamos de volta logo a seguir. Logo após, de novo, estamos de volta.
Então essa complexidade que é o “mim”, o “eu”, o ego, esse falso centro, é o inimigo. Então o ego é o inimigo, mas ele não é o inimigo, repito, de “alguém”, ele é alguém. Você é quando está sendo o medo, você é quando está sendo a ansiedade, você é quando está sendo depressão. Então não é “eu e a depressão”, “eu e o medo”, “eu e a ansiedade”. Eu sou isso se descubro como assumir isso sem fugir, sem escapar, sem me distanciar ideologicamente. Mas se olho para esses sentimentos, emoções, sensações, o que ocorre? Desde criança, nós fomos educados para escapar, para fugir da dor, da dor psicológica, da dor emocional. Então nunca aprendemos a lidar com o medo, com a angústia, com a tristeza, com estados de ansiedade, nunca aprendemos a lidar com isso, porque sempre estivemos fugindo disso. Nunca nos aproximamos para ver, para perceber o sentido de um “eu” presente rejeitando, lutando, resistindo a essa experiência que está se mostrando. Então a experiência se mostra, essa resistência se mostra agora como sendo essa dor. Nunca aprendemos a lidar com a experiência do momento presente, que é a Vida como Ela acontece, sem essa resistência. Então o sentido do “eu” sempre está presente resistindo e, portanto, sofrendo. Compreendem isso? É sempre o sentido de um “eu” presente em resistência à Vida como Ela se mostra, como Ela está acontecendo, que sustenta esse sentido de “alguém” com esses quadros internos de infelicidade e sofrimento. E depois idealizamos esse “eu” livre desses quadros, mas esse “eu” é o próprio quadro. Ok?
Esse é o assunto que nós temos investigado aqui no canal com você: a possibilidade real de ir além do “mim”, do “eu”, do ego, desse falso centro, desse falso ego, dessa falsa identidade em torno da qual nossa vida egoica está acontecendo. A Iluminação ou Despertar é o acontecimento de Algo novo, é a Realidade do seu Ser livre do sentido do “eu”, do ego, desse falso centro. Isso é Felicidade, Isso é Amor, Isso é Paz, Isso é Consciência de Deus, nessa ausência do “eu”, desse ego, desse falso centro.
Se isso é algo que faz sentido para você, aqui fica o convite, deixe aí o seu like, se inscreva no canal. Lembrando a você: nós temos encontros online, encontros presenciais e, também, retiros, onde estamos trabalhando isso com você. E aí fica o convite e a gente se vê no próximo. Ok?