“O ego é o seu inimigo”. Olhem que coisa curiosa… Isso é uma crença muito comum. Nós não investigamos isso, nós não constatamos por nós mesmos, nós não sabemos de uma forma direta, nós não vivenciamos isso, mas temos essa crença, temos essa conclusão. Afinal, o que é o ego?
As pessoas dizem: “O ego é o inimigo, o ego é o seu inimigo”. O que é o ego? Nunca entramos em contato direto com isso, nunca nos aproximamos diretamente do ego. Nós não sabemos o que é o ego; nós temos ideias, crenças sobre o ego. Nós não percebemos que, na realidade, tudo aquilo que expressamos como pensamento, sentimento, emoção e sensação está presente nesse corpo-mente em razão desse conceito, dessa crença: a crença em uma identidade presente.
Essa identidade se expressa. Nós é que estamos dando a essa identidade, a essa identidade egoica, a esse “eu”, a esse “mim” esse poder de expressão. Quando nós investigamos profundamente isso, olhamos para aquilo que somos agora e aqui, percebemos que essa identidade é aquela que se separa da experiência, se separa do pensamento, do sentimento, da emoção, para controlar isso.
Então, sim, o sentido do “eu”, do ego, é o inimigo. Se isso pode ser visto, isso pode ser descartado, então não há qualquer inimigo. O ser humano passa pela vida identificado com o sentido de uma identidade. Essa identificação com o pensamento, com o sentimento, com a emoção, com a sensação, com a percepção, nas relações com o outro, com o mundo, com a vida, se constitui uma ilusão, mas uma ilusão na qual nós temos assentado nossa vida, nossa existência, e isso se constitui, sim, contradição, conflito e sofrimento. É apenas nesse sentido que o ego é o inimigo.
Há em nós uma dualidade, o desejo de vir a ser algo diferente do que somos aqui e agora. O que quer que esteja se mostrando aqui e agora… Existe esse desejo, essa motivação, esse sentimento oculto para resistir a isso, para lutar contra isso que se mostra aqui e agora. Então, há essa dualidade interna.
Então, o sentido do ego é o sentido de uma identidade presente no viver, no falar, no ouvir, no sentir, na emoção, na sensação, no sentimento, e, enquanto essa dualidade permanecer, o sofrimento irá permanecer. O sofrimento se estabelece enquanto aquele que sofre está presente; é o sofredor que sustenta o sofrimento, é o pensador que sustenta o pensamento, é o raivoso que sustenta a raiva, é o medroso que sustenta o medo.
Essa não é a Verdade sobre o seu Ser, que é Consciência, que é Felicidade. Isso é direto da Vedanta. A sua Natureza Verdadeira é Ser-Consciência-Felicidade. O ser humano não vive assim porque ele não sabe o que é a Vida. O que nós chamamos de vida é esse contato que temos como pessoas, que acreditamos ser, com o mundo à nossa volta. O que chamamos de vida é a ilusão de um pensador presente, de um fazedor presente, desse “alguém” nesse sentir, nesse pensar, nesse falar, nesse agir – a isso nós chamamos de vida. Chamamos de vida essa relação desse “eu” com o meu: “eu e a minha casa”, “eu e os meus negócios”, “eu e os meus sonhos”, “eu e os meus desejos”, “eu e as minhas expectativas”, “eu e as minhas frustrações, minhas decepções”, “eu e os meus desejos”, “eu e os meus medos” – a isso nós chamamos de vida.
O sentido de “alguém” presente nessa experiência é, basicamente, sofrimento – a isso nós chamamos de vida. Não sabemos o que é a Vida. Nossa aproximação é com base nesse elemento da experiência, conhecimento, memória, recordação, ação, posicionamentos… todos eles assentados na ilusão de uma identidade presente, que é o ego, que é o “eu”.
Não há uma identidade presente agora e aqui. Aquilo que formula a existência, que estabelece a existência dessa identidade é o equívoco, é a ilusão sobre quem – ou sobre o que –, na verdade, nós somos. A Verdade sobre o que nós somos, nós não temos; sobre quem de verdade somos, nós não temos.
A autoinquirição, que Ramana Maharshi chamava de Atma Vichara, é a aproximação desse “Atma”, desse “eu”. A direta observação desse movimento do “eu” é Atma Vichara. Trazer consciência para esse momento presente é descartar essa identidade que é o “eu”. Esse “eu” é o estado de inconsciência coletiva. O ser humano… ou ele está nessa inconsciência de uma forma superficial, ou de uma forma profunda.
Então, há essa inconsciência superficial e há essa inconsciência profunda. Essa inconsciência superficial é essa inconsciência que experimentamos no dia a dia. Essa inconsciência de falar, pensar, sentir, fazer, se relacionar, sem a percepção da Realidade de que não tem esse “eu” presente – essa é a inconsciência superficial. E há uma inconsciência mais profunda, mais aguda, é aquela que se apresenta em nós com quadros de sofrimento, apegos, desejos, medos. Esses medos têm diversos nomes: ansiedade, depressão, fobias…
Então, vivemos de uma forma inconsciente quando há essa identificação com o sentido do “eu” presente. Esse sentido do “eu” presente está em razão dessa inconsciência. Quando trazemos consciência para esse momento presente – e isso é possível quando há autoinquirição, autoinvestigação, uma aproximação de si mesmo através dessa Atenção, essa Plena Atenção, essa Atenção Plena sobre esse sentir, pensar, agir, ouvir, falar… Colocar Atenção neste momento, para aquilo que somos aqui e agora.
Como colocar em prática? Como praticar Atenção Plena? Notem, Atenção Plena é Presença de Consciência. Isso não é algo mecânico, não é algo técnico, não é algo habitual. Tudo aquilo que é habitual, técnico e mecânico é parte da inconsciência. Quando falamos de Atenção Plena, estamos falando em trazer luz sobre esse movimento do “eu” agora, aqui, neste instante.
Então, como praticar Atenção Plena? Eu diria que a Atenção Plena é, na prática, agora aqui. É aquilo que está presente quando há esse observar. Tudo o que você precisa é de interesse profundo, genuíno, verdadeiro interesse em se compreender, em se ver neste momento. E, quando isso é visto, esse “inimigo” desaparece, porque essa separação, que é o “eu” na experiência desaparece; e, quando isso desaparece, a experiência também desaparece.
O que eu estou dizendo é que, se há medo, é porque existe “alguém”. O medo não aparece sem estar em uma relação com o “eu”. O medo está sempre relacionado com alguma coisa. “Eu tenho medo do que pensam de mim” – então, tem esse “mim”, que é uma história, uma narrativa na cabeça das pessoas, e esse “eu”, o que as pessoas imaginam de “mim”, que é esse “eu”. Então, o “eu” e o medo, “eu” e a experiência, que é, aparentemente, a razão, a causa do medo.
Medo… “Eu ser abandonado”, “eu não ser aceito”, “eu não ser amado”, “eu ser rejeitado”, “eu e alguém falando mal de mim”… Essa relação de dualidade está presente sempre; é sempre o “eu” e o medo.
Então, a experiência do medo desaparece quando o experimentador do medo desaparece. Então, se “eu” desapareço, o medo, como uma experiência, desaparece. Não há nenhuma experiência sem o experimentador, assim como não há nenhum pensamento sem o pensador.
Agora, olha que coisa interessante: a ideia é que eu estou produzindo o pensamento e, aqui, eu estou dizendo que o pensamento… é ele mesmo que se separa para ser o pensador. Então, nós temos o pensamento e o pensador. Quando você tem um pensamento em sua cabeça, não há um pensador; é só um pensamento. Se você não colocar esse pensador, que é aquele que quer fazer algo contra esse pensamento ou a favor dele… se você não colocar esse pensador, esse pensamento desaparece. Todos os pensamentos funcionam assim: eles aparecem e desaparecem.
Notem que todos os pensamentos que ficam grudados em você, agarrados em você, é porque existe uma resistência interna de uma identidade lutando contra aquilo ou apreciando e agarrando aquele pensamento. Então, você dá uma identidade a essa experiência, que é o pensamento, quando você rejeita o pensamento ou quando você se identifica com o pensamento, mas é o próprio pensamento que está criando essa identidade. Isso precisa ser visto. Quando você observa isso, nessa Atenção Plena, isso desaparece.
As pessoas querem romper com esse padrão de inquietude psicológica, de tagarelice mental. Os pensamentos são obsessivos, eles são repetitivos, eles são negativos, eles produzem, trazem junto com eles, sentimentos, emoções, lembranças… e as pessoas querem se ver livres disso. Mas elas não compreendem que resistir a isso, lutar contra isso, tentar fazer algo, só fortalece esse modelo, essa condição, porque isso dá uma identidade a essa experiência.
Estamos juntos aqui?
Pode parecer um pouco estranho isso. Talvez você esteja ouvindo isso pela primeira vez. Você tem que assistir mais! Assista novamente a essa fala, a esse vídeo. Nós temos aqui em nosso canal uma playlist sobre a Real Meditação; é a Meditação correta, a forma real de nos aproximarmos de nós mesmos.
Então, quando você se aproxima pela autoinquirição e pela auto-observação, por essa Real Meditação, que é ter acesso a isso através dessa Plena Atenção, você quebra esse modelo. Então, essa experiência do medo se desfaz, porque não há mais esse “eu”, não há mais essa dualidade. Essa experiência do pensamento, nesse formato acelerado, obsessivo, tagarela, inquieto, se desfaz, porque não há mais uma identidade presente.
Então, esse contato consigo mesmo, com a verdade desse “mim”, desse “eu”, sem lutar, sem resistir, sem se confundir, apenas observar cada pensamento que surge, cada sentimento que surge, cada emoção, cada experiência que surge, sem colocar uma identidade presente nisso, apenas observar… isso desfaz por completo esse modelo de identificação egoica, de inconsciência. Então, há um fim para essa inconsciência superficial ou para essa inconsciência mais profunda, essa que se apresenta com esses quadros de infelicidade, ansiedade, depressão, medo, fobias… e tudo mais se desfaz, porque todo esse conteúdo da consciência egoica está sendo visto.
Aquilo que está mais consciente e inconsciente está sendo percebido nessa Atenção Plena, sem uma identidade presente. Isso é Real Meditação, isso é Real Constatação da Verdade do seu Ser, Consciência e Felicidade. Então, não existe esse “inimigo”, esse “mim”, esse “eu”, esse ego.
Esse é o trabalho que estamos fazendo aqui juntos, dentro desse canal: lhe apresentando a oportunidade de ir além do ego, além desse “mim”, desse “eu”, ir além desse “inimigo”, além desse sentido egoico. A Realização d’Isso é a Realização de Deus, a Realização da Verdade sobre Você, sobre quem é Você. Isso é possível aqui e agora.
Portanto, esse é o assunto aqui em nosso canal. Se isso é algo que faz sentido para você, deixa aí o seu “like”, se inscreve no canal… Quero lembrar: nós temos encontros on-line e, também, encontros presenciais e, também, retiros, onde podemos trabalhar isso juntos. OK?
Aqui fica o convite e até o próximo encontro.