Satsang | O Despertar da Kundalini | O que é o zazen? | Zazen na prática | Atma Vichara | Ramana Zen

A questão é a questão do zazen. Vai aqui um esclarecimento para vocês a respeito do que é o zazen. A pergunta é: o que é o zazen?

O zazen é uma prática, uma prática do zen-budismo, uma prática de meditação do zen-budismo. É possível você saber algo sobre o zazen, o aspecto verbal, teórico, lendo alguma coisa sobre isso ou ouvindo uma palestra sobre o assunto. Eu quero hoje tratar com você do zen, especificamente do zazen, numa relação próxima ao Despertar Espiritual.

Então, o assunto com vocês hoje é o zazen, Despertar Espiritual e o Despertar da Kundalini. Vamos ver a relação disso.

Primeiro, eu quero começar com uma pequena história. Conta-se a história de um mestre do zen que, numa determinada noite, teve um sonho e, nesse sonho, ele era uma borboleta voando, vendo toda a paisagem naquele voo, e a sua forma era a forma de uma borboleta. E a história conta que ele, ao acordar do sonho, começou a chorar. Os discípulos se aproximaram e disseram: “Mestre, por que você está chorando?”. Os monges se aproximaram dele e fizeram a ele essa pergunta, e ele disse: “Eu não sei quem eu sou. Essa noite não havia um homem, era uma borboleta que estava voando. Eu não tinha dúvida de ser quem eu era. Naquele belo voo, tudo eu via a partir dessa borboleta, e agora, estou aqui”.

E voltou a chorar… Eles disseram: “Mestre, por que você está chorando, afinal?” Ele disse: “Porque eu não sei mais… Eu sou um homem que sonha ser uma borboleta ou eu sou uma borboleta agora sonhando que sou um homem?”. E tocou em seu corpo e disse: “Afinal, quem eu sou?” Essa é uma história zen.

Eu quero mostrar a vocês um caminho para o Despertar da Kundalini, para o Despertar Espiritual, para o Despertar da Consciência. O caminho direto para Isso é o caminho do Zazen. Eu não falo da prática do zazen, a prática ritual, cerimonial, religiosa e filosófica do zazen, eu falo do sentido Real do Zazen.

A palavra zazen simplesmente significa “se assentar”. Apenas isso: se assentar. Então, zazen significa “se assentar”.

Não é se assentar e pensar, não é se assentar e imaginar, não é se assentar e se preocupar, não é se assentar e respirar de uma certa forma especial, não é se assentar e alterar o movimento natural da respiração, não é se assentar num espaço silencioso sem qualquer barulho para não ser internamente, psicologicamente, perturbado… Zazen é, simplesmente, se assentar.

Então, vamos descobrir hoje, de uma forma direta, aqui, juntos, o que é o Zazen. Aqui, eu já vou me referir a isso de uma forma um pouco diferente. Quero me referir não à prática do zazen. Você pode aprender a prática do zazen. Isso é valioso, isso é importante, sem dúvida. É claro que você terá que aprender alguns rituais, a forma específica de se assentar, a posição das mãos, etc. Então, há uma forma ritual, há uma forma cerimonial, há uma forma técnica de se fazer isso, mas não é disso que eu quero tratar com vocês. Eu não quero falar da prática do zazen, eu quero lhe mostrar o que é o Zazen prático. O que é o Zazen na prática? O Zazen na prática é estar assentado sem a mente, sem o passado, sem o futuro.

O zazen surgiu na China. Eles chamavam de “chan”. Quando veio para o Japão, eles chamaram chan, que é zen… zen em japonês. Então, essa escola do zazen surgiu na China e veio para o Japão e assumiu esse nome “zazen”, e se refere a essa coisa simples de se assentar. É apenas isso. Zazen significa “se assentar” – se assentar sem a mente, se assentar e adentrar a Meditação no Vazio, adentrar o Vazio, desaparecer no Vazio, ser o Vazio.

Não existe nada mais poderoso, nada mais direto para o Despertar Espiritual, para a Iluminação Espiritual, do que esse caminho direto do Zazen, que é estar assentado quieto.

Outro aspecto interessante no zazen é o koan, vocês devem ter ouvido falar disso. O koan é um diálogo que se trava entre o mestre e o discípulo, e uma questão sem solução lógica é apresentada.

Agora, percebam que coisa interessante nós temos aqui. Ramana Maharshi, o Sábio de Arunachala, trabalhou por mais de 50 anos, com aqueles que se aproximavam dele, como um mestre zen. Ninguém jamais disse isso! Ramana foi o maior mestre zen de todos os tempos, porque ele deu a todos o mais singular, profundo e simples de todos os koans. O koan de Ramana Maharshi era a sua prescrição para a meditação zazen, em seu formato. E o koan de Ramana era “quem sou eu?”.

As pessoas iam a ele e começavam a contar os problemas: “Meu marido foi embora”, “Meu filho morreu”, e ele permanecia em silêncio. E, quando abria a boca, dizia: “E quem é você?”. E a pessoa relatava algo sobre ela, sobre o que ela acreditava. Ele dizia: “Não, eu quero saber quem é você.”

Então, Ramana prescrevia esse koan: “Quem sou eu?”. Então, “quem sou eu?” é um koan! Não há uma resposta lógica para isso. Toda e qualquer resposta que você tenha não é real, nenhuma resposta que você tenha é real para “quem sou eu?”. Toda e qualquer resposta estará se baseando sempre no pensamento e não estará tratando ou se referindo à Verdade.

Então, isso está dentro da prática do zazen. Mas notem: Ramana não tinha essa preocupação cerimonial, nem ritual, nem religiosa. Ele dava isso a todos! Nós aqui estamos fazendo um trabalho também nesse nível. Nós não estamos prescrevendo para você cerimônias, rituais, práticas religiosas… estamos colocando aqui para você a importância do Despertar da Kundalini, o Despertar desta Presença, desta Energia, capaz de operar uma mudança no corpo e na mente para o estabelecimento desse Real Natural Estado de Ser, que é o Estado de Consciência Pura, que alguns chamam de Iluminação Espiritual, e aqui estamos chamando de Despertar Espiritual.

Então, aqui, alguns assuntos estão sendo colocados para você, dentro dessa fala. Estou acabando de revelar para você que Ramana Maharshi foi o maior mestre zen de toda a história, fora do próprio Budismo zen.

O nosso trabalho juntos é atentarmos para Aquilo que somos aqui e agora. Então, eu digo também para você: apenas se assente, sem a mente. Reparem o quanto isso é simples, mas carrega uma profundidade de eficiência extraordinária. Apenas se assentar… Eu estou dizendo que a Real Meditação – a Real Meditação como eu tenho falado sempre nesses encontros – é aquilo que acontece a partir desse koan, o koan de Ramana Maharshi: “Quem sou eu?”. Então, as pessoas iam a Ramana e ele dizia: “Quem é você?”. Era como se ele dissesse “apenas fique quieto”, como ele sempre disse – “Se assente e fique quieto, e investigue isso”, exatamente como acontece no zen-budismo.

O mestre zen apresenta um koan para o discípulo, para o monge, e diz “olha, está aqui o seu koan, me dê a resposta. Se assente, apenas entre em zazen, apenas se assente e me dê a resposta”.

Então, o mestre dá um koan. Agora acabei de relatar aqui, também, uma história que, na realidade, é um koan. O mestre acorda naquele momento… naquele instante, ele acorda e chora. Ele está dando àqueles que estão à sua volta um koan quando diz: “Quem sou eu? Quem sou eu? Era uma certeza absoluta que havia em ser uma borboleta e, agora, não há mais certeza de nada! O que tem aqui: uma borboleta sonhando que é um homem ou é um homem que sonha ser uma borboleta? Quem sou eu?”.

O nosso trabalho juntos, notem isso, é irmos além da mente, porque apenas além da mente há uma não resposta, que é a real resposta. Então, o trabalho da Realização da Verdade sobre quem Você é, é um trabalho que acontece a partir de uma mudança, de uma transformação nessa estrutura que é o corpo e a mente, e essa transformação é simples, ela é natural, ela não requer rituais, ela não requer cerimônias, ela não requer práticas ascéticas, ela não requer qualquer coisa! A única coisa que se faz necessário é estar quieto, se assentar e permanecer quieto. Permanecer em seu Ser é permanecer quieto. Então, essa atenção sobre o movimento da mente lhe dá a Visão da Realidade do Vazio.

Então, notem: não importa se é no hinduísmo, se é no ioga, se é no budismo zen, há só um trabalho acontecendo… seja na meditação da kundalini yoga, seja na meditação zen, na prática do zazen, seja na prática da meditação contemplativa dos primeiros cristãos, os cristãos lá do primeiro século, dos 3 primeiros séculos… Essa arte da meditação era chamada “arte da contemplação”, o estado contemplativo. Você olha para a imagem dos santos e percebe que o olhar deles está num ponto fora do mundo. A gente percebe isso nas imagens até retratadas em pinturas antigas, encontradas… eles estão olhando para o Vazio. Não importa se o corpo está literalmente sentado ou em pé, mas existe essa Meditação no Vazio.

Então, o propósito do koan é lhe colocar nessa nova condição psicológica de ser, física de ser, no Vazio. Isso eu tenho chamado de Real Meditação. Diferente da prática da meditação, eu tenho chamado isso “Meditação Prática” e, agora, eu vou chamar, a partir desse momento, no lugar da prática do zazen, eu vou chamar isso “Zazen na prática” – apenas se sentar aí, sem a mente, sem o tempo psicológico, sem toda a confusão que a mente produz.

Vocês compreendem isso?

Aqui eu me refiro à Real Meditação, ao Zazen na prática. Ao permanecer nesse Espaço que é o Vazio, que é o Silêncio, que é Consciência, Você está no seu Natural Estado de Ser, e agora eu vou chamar esse Natural Estado de Ser de “o Real Estado Zen”.

As pessoas usam muito a expressão “fulano é zen”, “ele acordou tão zen”. O que elas querem dizer é que fulano está calmo, está relaxado, está tranquilo, não está estressado. Não é isso? “Fulano está tão zen hoje”, ou seja, ele não brigou com ninguém. Ele, geralmente, acorda “não zen”, aí agora, hoje, ele acordou zen.

Eu quero chamar agora esse Estado Natural – eu tenho chamado, nos últimos anos, “o Estado de Puro Ser, de Pura Consciência”, é assim que eu tenho chamado esse Estado –, agora eu vou chamar ele de Natural Estado Zen, o Real Estado Zen.

E o caminho direto, que é a Atma Vichara prescrita por Ramana… acabamos de descobrir que essa Atma Vichara tem, como princípio, um koan: “Quem sou eu?”. E a gente viu agora, esse mestre zen parece que ouviu Ramana de alguma forma. Ramana, se estivesse lá, diria assim: “É uma borboleta ou é um homem? Quem é você?”. E parece que ele ouviu até Ramana dizer isso, e agora ele mesmo se pergunta: “Quem sou eu?”. Começou a chorar…

É bonita essa questão do choro também. Poucos estão chorando por Isso, poucos estão chorando por essa resposta, muito poucos estão chorando por Isso, muito poucos estão percebendo que estão sonhando. Esse mestre está nos dando uma lição. Ele está desconfiado de um sonho. O grosso da humanidade, a massa, a grande maioria das pessoas não percebe que está num estado de sono e de sonho. É por isso que a expressão “o Despertar Espiritual”, “o Despertar da Consciência”, “o Despertar da Kundalini”, todas essas expressões procedem, são perfeitas!

A palavra Buda, vocês sabem, é “aquele que acordou”. Buda é “acordado”. Poucos estão chorando porque, primeiro, não desconfiam que estão sonhando. O ser humano não percebe que isso tudo aqui é um sonho, ele leva tudo muito a sério. Exatamente como ocorre quando você sonha: não sabe que está sonhando. Não saber que está sonhando, enquanto se sonha, é o que os sábios chamam de maya.

O ser humano vive numa condição psicológica de desordem interna, de confusão interna, de sono, de completa hipnose. Insciente de estar sonhando, ele não está incomodado, ele não está inquieto, ele não está chorando.

Aqueles que estão vindo a esse trabalho, a esse trabalho do Despertar da Kundalini, do Despertar Espiritual, é porque já perceberam que não sabem, já reconheceram que, de verdade, não sabem, e estão se fazendo a pergunta “afinal, quem sou eu?”.

Deparar-se com Aquilo que Você é, aqui e agora, só é possível quando você chora, quando há uma dor aí. Eu tenho falado para as pessoas a respeito da importância da Felicidade, mas elas já dizem “eu sou feliz”. Eu tenho falado para elas sobre a importância do fim da ignorância, e elas dizem “não, eu sou formada, eu tenho PhD em Química”, “eu tenho um doutorado em Física”. Elas não compreendem! Eu estou falando da ignorância sobre a Verdade do que elas são, a ignorância sobre elas. A pergunta é “quem é você?”, “quem sou eu?”. A resposta para isso está nesse encontro com a Realidade do seu Ser, do seu Natural Estado Zen, do seu Natural Estado de Consciência, o encontro com o seu próprio Ser.

Então, há um momento em que você vai sentir a dor. Nesse momento, você vai ser tocado pelo Poder desta Graça, desta Presença Divina, desse Amor Divino, e é nesse momento que você está pronto para receber um koan. Então, nesse momento, vai surgir – em meio a essas lágrimas, a essa dor – a desconfiança de que você está vivendo num estado, nesse estado, que é um estado comum a todos, num estado de sono, de inconsciência. Esse é o estado comum da humanidade. A não ser que você desperte e abandone o sono, o sonho continuará, e esse estado de sonho é o estado de ilusão, que é o estado do sentido de egoidentidade, que é o estado de separação entre você e Deus, entre você e a Felicidade Real, entre você e a Paz Real, entre você e o Amor Real, entre você e a Vida Real.

Então, esse é o nosso assunto aqui… e é só isso.

Julho de 2022
Gravatá – PE, Brasil