Se eu perguntasse a você “qual é a realidade de sua experiência?”, qual seria sua resposta? Afinal, qual é a realidade da experiência presente, daquilo que está ocorrendo aqui?
Se a nossa disposição é para descobrir a Verdade, nós precisamos saber daquilo que acontece aqui. Então qual é a realidade? Qual é a verdade desta experiência?
Eu vejo uma tremenda confusão por aí, o que é típico da “pessoa”. A “pessoa” vive em confusão porque está interpretando aquilo que acontece da maneira dela. Enquanto isso permanece, a confusão permanece, o sofrimento permanece, toda forma de miséria permanece.
Nós temos o conceito de que tem muita coisa acontecendo, para muitos sujeitos. Existem quase oito bilhões de pessoas no planeta – e esse é um conceito – e a vida está acontecendo para cada um de uma forma – esse é um outro conceito. Nós acreditamos piamente nisso e parece ser bastante lógico afirmarmos que é assim, mas isso é simplesmente uma crença, não existe nada para comprovar isso, é só uma interpretação que a mente faz da experiência presente.
Há somente uma experiência presente. A pergunta é: qual é a natureza desta experiência? Não existe nada para comprovar que a vida é diferente para cada um, porque não existe “cada um”. “Cada um” é um conceito, é uma crença, é só uma ideia.
Então, não existe vida particular, não existem “pessoas”. Aparentemente, cada organismo vivo neste planeta vivencia suas particulares experiências. A ideia é que existe uma inumerável quantidade de experiências acontecendo de forma particular para cada um. Isso é um pensamento.
Aqui, a única particularidade é de que cada organismo possui sua particular experiência. Mas essa experiência não é particular, essa experiência é única! A vida é algo que acontece de uma forma única, não existe essa multidão de “eus” com suas inumeráveis vidas.
Essas falas minhas podem soar muito estranhas, a princípio. Parece que você precisa adquirir uma certa familiaridade com a linguagem que eu utilizo, para poder ter uma aproximação, até mesmo intelectual, do que estou dizendo. E isso é fundamental, porque nós estamos envolvidos num conjunto enorme de condicionamentos, de crenças herdadas do nosso mundo, da nossa cultura, da nossa sociedade, das pessoas à nossa volta, e tudo que elas vivenciam é conflito em suas vidas, porque elas têm esse modo particular de vida, esse conjunto de crenças que as faz ver a vida de uma forma particular.
Então eu continuo perguntando para você: qual é a realidade desta experiência? Esses conceitos todos são pensamentos. Nós temos criado muitos “eus” e muitas vidas, então fica complicado você investigar a natureza verdadeira da experiência quando se coloca como uma entidade separada, particular, tendo uma experiência e uma vida próprias.
É preciso olhar a vida dentro de outra ótica. Não existem esses muitos “eus” nem essas muitas vidas, existe só uma Vida profunda, desconhecida, misteriosa, existe apenas uma Consciência, que não é individual, não é particular. Ela não tem um nome como Leo, Jefferson, Margarida e Eliana. Essa Consciência é a Realidade dessa Vida, a Vida é a Realidade dessa Consciência, e essa particularidade do personagem, que você acredita ser, é uma fraude! Essa é a perspectiva correta.
Se você conseguir se aproximar dessa forma, você poderá investigar a natureza real da experiência, e se o propósito é descobrir a Verdade sobre Si mesmo, você precisa partir desse princípio.
Você precisa ir além da cabeça, além da mente, além desse conjunto de ideias que você tem, que você adquiriu dos padres, dos políticos, dos pais, dos filósofos, dos livros, de toda essa cultura, que é um cultivo de equívocos.
Vivemos em uma sociedade estúpida, num mundo onde aqueles que nós consideramos os mais inteligentes, porque estão em proeminência, em destaque, em posição de liderança, são completamente pirados e perturbados psicologicamente, são muitos miseráveis, são “pessoas”.
“Pessoa”, para mim, sempre é sinônimo de confusão. Se você conhecer uma pessoa que não carregue desordem psicológica, conflito de alguma ordem, com certeza você não estará diante de uma “pessoa”, você estará diante de um Buda, de um Cristo, de um Sábio.
Não fique aborrecido por ouvir isso, mas é assim. Eu sei que você conhece pessoas até “iluminadas”, mas essa é uma contradição em termos, pois pessoas são perturbadas e não iluminadas. Quando há Iluminação, não há “pessoa”, não há um senso de identidade separada, com uma vida particular, uma experiência particular, um mundo particular, preocupações particulares, desejos particulares e medos particulares.