Quando eu me deparei com meu Mestre, vi algo em seus olhos. Eu disse: “É ele! Era ele quem eu estava procurando!”. Quando eu era criança, desejava ter um encontro com Deus. Eu fui criado em um ambiente religioso, meus pais eram religiosos. Eu fui criado em igreja, aprendendo a rezar, a orar, a jejuar, a ler a Bíblia… Eu aprendi com meus pais e com a religião que a única resposta para a vida era Cristo, era Deus, era a Verdade.
Mas aí eu olhava à minha volta e via que mesmo as pessoas religiosas ainda estavam complicadas. Apesar de rezarem e lerem muito a Bíblia, elas ainda tinham problemas. Eu dizia “mas não é possível, tem que haver um jeito de viver sem essa confusão em que essa turma vive”. Inclusive meus pais ainda viviam assim, apesar de serem religiosos e tudo mais. Foi por aí, a minha caminhada foi essa.
Até que, quando eu tinha 24 anos, o meu Mestre apareceu. Foi quando me deparei com aquilo que eu procurava na igreja, que era encontrar, em alguém, esse espelho onde eu pudesse ver a Presença Divina, a imagem de Deus. Então, eu disse: “Olha, estou diante de um Sábio, de um Santo, de um Ser Realizado!”. Eu não sabia o que era isso naquela época, mas eu fiquei encantado com seus olhos, seu sorriso, seu Silêncio. Sua Presença me tocou profundamente e eu fiquei encantado, apaixonado por ele. Eu disse “eu quero ouvi-lo, eu quero estar diante dele”.
A coisa peculiar aqui na minha história é que o meu Mestre já tinha deixado a forma há mais de 30 anos quando eu me deparei com ele, então é uma coisa bem estranha. Só que ficou muito claro, nesse contato, que eu não estava diante de alguém que tinha morrido, eu estava diante do Divino, diante do Cristo, Daquele para quem fui ensinado a cantar, a orar… Daquele por quem a igreja me ensinou a clamar, a buscar. Então, quando eu me deparei com meu Mestre, vi que eu estava diante do Cristo, diante dessa Realidade, e isso mudou tudo, mudou tudo… Isso foi no ano de 1986.
Eu tinha 24 anos de idade, era casado, tinha uma filha de três anos, tinha meu trabalho, minha vida religiosa, era diácono da igreja, vivia dentro da igreja lendo a Bíblia, estudando, mas faltava um contato com Cristo. Eu conhecia apenas o Cristo das minhas orações e da leitura da Bíblia, mas eu não tinha um contato com o Cristo em um “ser humano”, em uma “pessoa”, de modo que eu pudesse dizer “aqui está!”, e eu procurava isso na igreja.
Sabe aquela coisa de amor à primeira vista? Foi assim. Eu olhei para ele e fiquei encantado, e disse “é isso! Ele sabe, ele vê o que se passa dentro de mim, ele sabe o que estou buscando!”, e tudo isso em silêncio. Esse foi o outro lado bem particular desse encontro: meu Mestre era a Presença do Silêncio!
Hoje, as pessoas perguntam “o que você via na foto do Ramana?”, aí eu corrijo logo: não é uma foto! É uma foto para você, para mim nunca foi! E outra coisa: para mim não era Ramana, o que me vinha na época era “Bhagavan“. Eu não sabia o que isso significava. Só fui descobrir algum tempo depois o nome dele. Era Bhagavan que vinha para mim: “Bhagavan, Bhagavan, Bhagavan, Bhagavan, Bhagavan…”. Esse é um nome usado na Índia para aquele que vive em Deus.
Então, um Ser Realizado é chamado de Bhagavan ou Bhagwan, a manifestação de Deus numa forma. Aquele que Realizou Deus manifesta Deus. Era essa palavra que vinha para mim e eu não sabia o que significava. Algum tempo depois, eu fui encontrar essa palavra em livros indianos.
A Verdade é assim… A Verdade é a Verdade! Ela o encanta, o apaixona, o inebria, o embriaga, faz você dançar, sorrir, chorar… Ela o desafia, mexe com toda essa estrutura de mentira que você carrega ao longo de todos esses anos. Ela faz tudo isso!