Participante: Como parar o pensamento?
Marcos Gualberto: Você não para o pensamento, o pensamento desaparece quando deixa de ser apreciado. O que você não percebe é que existe um investimento, e ele dá vitalidade a um centro falso. Falo desse investimento no pensamento, em imaginações, em antecipações, em fantasias. Você vive fazendo esse investimento!
Você está muito habituado a investir na imaginação, na antecipação, nas crenças, nas ideias, na autoimagem que o pensamento forma sobre quem você é. Você investe muito nisso e, na razão em que faz isso, o pensamento não para, ele continua voltando.
É só um vício. É como gostar de beber. Você gosta de beber, aí continua bebendo e, quanto mais bebe, mais prazer tem, então você bebe mais, e mais prazer recebe… Você está viciado! Aí, você bebe até cair, até falar bobagem, até alguém levar você para a cama e lhe dar café amargo. Você sabe que o final vai ser esse, mas, mesmo assim, não para de beber, porque é um investimento, um prazeroso investimento. Com consequências, é claro. No dia seguinte você vai estar de ressaca, passando mal, vai tomar remédio, enfim… É um vício.
O pensamento também é um vício. “Como parar o pensamento?” Não tente! Ou tente e depois me conte se deu certo. Isso é como alguém que pergunta: “Como eu paro de beber?”, e, enquanto faz a pergunta, leva o copo à boca de novo. “Como eu paro de beber?”, e dá mais uma goladinha. Ela olha para a garrafa e diz “como paro de beber?”, e já vai botando mais um pouquinho no copo, e continua perguntando “como paro de beber?”.
Não tem como parar de beber, de fumar ou de pensar se todo seu movimento é centrado nesse interesse. Se você está tendo um movimento nessa direção, qualquer afirmação sua é apenas mais um blá-blá-blá, e não uma intenção real. Se você tem a intenção real de se livrar do pensamento, livre-se da imaginação, por exemplo. Pare de imaginar o futuro e o passado.
Participante: Como posso parar se o pensamento não me larga?
Marcos Gualberto: A pergunta está formulada de forma errada. A pergunta correta seria: “O que é estar livre dessa intenção do pensamento?” Você precisa se livrar da intenção do pensamento e não do pensamento, você precisa se livrar da intenção de beber e não da bebida.
Se você se livrar da intenção de beber, a bebida vai desaparecer. Se você se livrar da intenção de fumar, acontecerá um trabalho nessa direção, e aí vai perder o sentido levar o cigarro à boca. Se você descobrir sobre essa intenção de pensar, se você descobrir no que o pensamento está interessado – e você descobre isso apenas observando as bobagens que ele está criando dentro da sua cabeça – e se livrar dessa intenção de pensar, o pensamento desaparece.
Você não vai parar de pensar, o pensamento vai desaparecer porque ele não estará sendo alimentado. A prova dessa intenção de parar de pensar está na observação do movimento do pensamento. Se há intenção real de parar de pensar, você tem que observar os pensamentos. Se a sua energia estiver na observação dos pensamentos, toda energia do pensamento, em si, se modifica. A atenção sobre os pensamentos diminui seu volume, porque quanto menos você se identifica com o pensamento, menos ele aparece, e quanto mais você se identifica com ele, mais ele aparece.
Quanto mais você se identifica com pensamentos de tristeza, que produzem esse estado de tristeza, mais você vive depressivo. Quanto menos você se identifica com pensamentos dessa linha, que é a linha da tristeza, menos eles aparecem. Isso é matemática pura!
Mas a minha recomendação aqui é: livre-se de qualquer identificação. Não faça essas escolhas, “desses pensamentos eu gosto e desses eu não gosto”, porque por detrás desse “gosto e não gosto” está o vício, a mania de pensar, e não é você pensando, é o pensamento tagarelando dentro da sua cabeça, porque não tem “você” também nesse processo.