A Consciência é uma testemunha do show que a mente produz; Ela não se envolve nisso. A Consciência não é uma criação da mente, não faz parte dos objetos, não pode ser objetivada. Ela é algo fora de todo conceito.
Então, quando estamos falando dessa testemunha do show, estamos nos referindo a algo que está além do pensamento, além do pensador, além do sentimento, além daquilo que o sentimento conta, além da dor do sentimento. E Meditação é Isso, é não ser capturado, é permanecer livre do que o pensamento, o sentimento, a emoção, a sensação, a experiência conta sobre o que anda acontecendo.
Participante: O que faço para dar esse salto para a Consciência?
Mestre Gualberto: Você não pode dar esse salto para a Consciência. Você pode – e precisa – começar com a experiência, com esse sentir, esse pensar, essa sensação relacionada àquilo que está sendo mostrado aqui e agora. Você não vai dar salto nenhum!
É a mente que é intermitente, e não Você, como Consciência. É a mente que está dando os seus saltos, são os sentimentos que estão mudando o tempo inteiro, assim como os pensamentos, as sensações, as emoções, e não Você.
Então, só lhe resta usar isso a seu favor, observar, colocar Presença nessa observação, trazer Consciência para este momento presente. Não é o momento presente do que está do lado de fora, é o momento presente de tudo o que acontece interna e externamente. Não é uma fixação para estar consciente: “Vou permanecer consciente! Preciso estar consciente!”. Essa atenção é egoica, não é isso, não estou falando disso. Isso ainda é um esforço da mente.
Eu estou dizendo: permaneça relaxado na observação da mente tentando produzir objetivações, querendo se livrar disso ou daquilo, querendo ganhar isso ou aquilo, preocupada com isso ou aquilo, produzindo pensamentos e dizendo “estou pensando”. Mantenha-se relaxado e ciente de todo esse processo, sem esforço. Isso não requer esforço!
A atenção não requer esforço. Não é tensão, é atenção! Apenas esteja atento ao que se passa aí dentro. Qual é a primeira lição de casa que eu tenho recomendado para você ao acordar pela manhã? Permaneça antes do “eu”, não se embole com o “eu”, permaneça sem se embolar com o pensamento quando ele começar a dizer o que tem que ser feito ou quem irá fazer ou quais os problemas que irão acontecer naquele dia.
Você pode observar que o primeiro pensamento que surge chamando sua atenção já traz um estado, que é para esse falso “eu” viver sua experiência objetivada de dor, de preocupação, de sofrimento e de complicação. É sempre esse falso “eu” que acorda de manhã para viver de novo o sonho de mais um dia. Não precisa! Você acorda de manhã e já traz Consciência. Acorde antes do “eu” acordar! Quando o corpo acorda, o “eu” acorda e já sai carregando o corpo, mas você não vê isso, porque não há Presença, não há Consciência, não há Ciência de Si mesmo. Essa atenção é a base da Meditação, e Meditação é a única chave que você tem.
Se surge um pensamento de preocupação, aquilo fica o dia inteiro agarrado a você. Eu já vi pessoas que passam o dia inteiro carregando isso! Isso porque elas se embolam com o pensamento, não colocam Consciência, não colocam Atenção, não colocam Presença na experiência. Assim, toda a maluquice típica do pensamento toma posse do corpo, cria um “eu” sofredor vivendo uma experiência especial, a experiência de ser “alguém” – alguém miserável, claro, porque “alguém” sempre está em miséria, em sofrimento, nunca está em seu Ser, que é Paz, Amor, Liberdade, Consciência e Inteligência.
Uma das ferramentas que estou lhe dando hoje é perceber o que está aí para ser percebido. O que está aí para ser percebido? Sentimento? Então, apenas se torne cônscio do que está aí para ser percebido. O que está aí para ser percebido? Uma tristeza? Torne-se cônscio disso, perceba o que está aí para ser percebido, não se embole com isso, não se separe e diga “eu estou triste”. Quando faz isso, você objetiva a experiência da tristeza mais uma vez. Tem o “eu” e a tristeza, o “eu” e angústia, o “eu” e a preocupação, o “eu” e o que vai acontecer, o “eu” e o futuro, o “eu” e o pensamento “por que eu deixei aquilo acontecer?”, o “eu” e a culpa do passado.
Faça isso, apenas perceba a presença disso se aproximando, querendo alojar, encontrar espaço, possuir seu corpo, como uma espécie de obsessor psicológico. O ego é isso: um obsessor psicológico, uma entidade ilusória separada, uma espécie de fantasma assumindo uma posição e tomando o lugar da Paz, da Consciência, do Silêncio, da Inteligência.
Esse show de horrores que a mente está produzindo não tem nada a ver com a Consciência, nada a ver com Deus, com o Ser.
Participante: Fugir de uma pessoa assim, presa a todos esses horrores negativos, é correto? É que não dá para ajudar.
Mestre Gualberto: Se você começar a cuidar de si mesma, não vai ter tempo nem interesse de cuidar do mundo à sua volta. Então, não se trata de fugir, mas de não ter nada para se fazer ali.
Se você não pode lidar com uma determinada situação, você não está fugindo. Na verdade, você está sendo realmente inteligente ao perceber que não tem condições de lidar com aquela situação. Não se trata de fugir, mas de compreender que isso não é um assunto seu. Cuidar do outro não é um assunto seu, mas dar conta de si mesma, sim, isso é um assunto seu, que ninguém poderá fazer em seu lugar. Deixe Deus cuidar do mundo!
Participante: Eu não sei cuidar de ninguém, mas ouvir uma pessoa sempre com o mesmo discurso é muito violento para mim.
Mestre Gualberto: Você não tem obrigação nenhuma de ficar ouvindo a sua própria mente, então por que você teria que ficar ouvindo a mente maluca do outro? Acho que assim responde, não é? Você já conseguiu perceber isso? Alguém da sala já deve ter percebido isso. Se você tem que parar de ouvir as suas próprias loucuras, que obrigação você tem de ficar ouvindo maluquices dos outros? Eu vejo como algo completamente sem sentido! Na verdade, se você ficar ouvindo as maluquices do ego, ele vai procurá-lo e encontrar em você apoio.
Se você é alguém interessado em se libertar desse “alguém” que traz dentro de si, se você já está cuidando de suas próprias maluquices internas e se livrando delas, por que tem que ficar ouvindo maluquices alheias? Desobrigue-se disso! Não há nada de real nisso! Não existe nenhuma caridade verdadeira em ficar ouvindo a maluquice dos outros.