Participante: O carma das vidas passadas interfere na vida atual?
Mestre Gualberto: Quando falamos de vidas passadas, de céu e inferno, purgatório, ou de qualquer nível de experiência em que exista a presença do corpo e da mente – pode ser um corpo físico, espiritual ou de sonho –, nós estamos sempre falando de um “estado de sonho”.
Aquilo que alguns chamam de carma, nós aqui também poderíamos chamar de destino. Mas o carma e o destino afetam a quem? Essa que deve ser a pergunta! Para quem é essa vida ou para quem foi a vida passada?
Veja, nós estamos sempre falando de uma “experiência de sonho”. Quando você acorda pela manhã, qual é a verdade do sonho que você teve à noite? Nenhuma! Aquele sonho parecia muito real enquanto acontecia para você, enquanto havia um experimentador do sonho. Se aquele experimentador desapareceu com o sonho, e agora você está acordado, aquele sonho não faz nenhuma diferença para você.
Assim, o que a gente chama de “vida presente” também é uma espécie de sonho, e ele tem muita importância enquanto o experimentador desse sonho está dentro dele. Quando você sai desse sonho para o sonho da noite, para onde é que vai este mundo enquanto esse sonho noturno acontece?
Então, repare: é sempre para esse “senso do eu” que esse tipo de coisa tem alguma valia. Se esse “senso do eu” desaparece, qualquer importância dessa vida ou da vida do sonho desaparece também. O fato é que você dá muita importância a essa vida, em razão de estar se confundindo com o corpo e a mente, por ver essa vida como algo real. No entanto, ela é real só enquanto você sonha o sonho dessa vida, assim como quando sonha à noite – enquanto você sonhava, aquela vida era muito real para aquele que estava naquela experiência.
Aqui, a única coisa que importa de verdade é ver a vida como ela é. Essa preocupação de que exista alguma interferência na vida é completamente irrelevante. O fato é que você está vivendo aquilo que está destinado a viver nessa experiência “corpo-mente”, mas se você se desidentifica disso, desse personagem, dessa identidade que não é real, a vida é só o que acontece. Então, isso não pode mais afetar você, como a Consciência que você é.
No sonho à noite, tudo o afeta, porque você se vê como a figura central de tudo que acontece ali. Não é diferente daquilo que a gente chama de vida. Quando dizemos que estamos acordados, estamos vivendo esse “sonho de mundo”, no qual, da mesma forma, uma identidade separada se torna o centro de toda experiência, e é aí que está todo o problema humano: o sentido de alguém presente nessa experiência de vida, alguém dentro desse destino. Não tem alguém dentro desse destino! Só existe o corpo dentro desse destino! Esse personagem é fictício, inventado, produzido pela imaginação. Ele se tornou o centro de toda essa experiência chamada de vida, de uma forma artificial, de uma forma arbitrária, por pura ignorância.
Você possui um “eu” que é falso. Não existe esse “eu”! É um “eu” que o pensamento imaginou. O pensamento imaginou esse “eu”, se apropriou dessa imaginação e fez você assinar um contrato de posse de algo que não existe. Você é proprietário de uma imaginação que tem um nome, um corpo, uma história e uma vida particular, pessoal, separada de toda a Existência. Isso não é real!
O pensamento formulou tudo isso! Nossa cultura humana, nossa sociedade, o mundo em que vivemos, ou que parecemos viver, nos diz que isso é assim. Não há realidade nisso! Essa destinação do corpo, desse mecanismo, é algo que faz parte desse “sonho”, mas esse “sonho” não é seu! Você não existe para fazer esse “sonho” acontecer! Ele é um desdobramento dessa Consciência! Ela brinca de “sonhar” e “acordar”, e você tenta se tornar dono disso, faz desse “sonho” algo seu, pessoal. Você centraliza isso – quando digo “você”, me refiro ao pensamento –, como se fosse uma entidade verdadeira nessa experiência. Isso é ficção científica! A mente criou sua ciência e uma ficção em cima dela.
Sua Natureza Real é Consciência, e Consciência não sonha. O “sonho” se desdobra na Consciência, mas Ela está além desse “sonho”. O “sonho” é essa experiência de destinação, que alguém chamaria de carma. Aquilo que está determinado a acontecer, acontecerá, e não há nada nem coisa alguma que possa impedir isso.
É evidente que, em cima dessa visão, podem surgir algumas perguntas aí. Alguém poderia perguntar: “E esse carma é criado?”. Seu Ser não é tocado pelo “sonho”, então Ele não irá criar nada, nem se livrar de nada! Apenas a mente, em seu “movimento de sonho”, pode continuar dessa forma, mantendo essa suposta identidade. Aqui, você deve se desidentificar da mente, então você ficará livre dessa ilusão de ser alguém nessa experiência, nesse “sonho”.
Por exemplo, você é casado e tem três filhos, então vai dormir e sonha. Nesse sonho você também é casado, mas com uma outra pessoa, e não tem filhos. Aí eu pergunto: quem é você de verdade? É aquele lá do sonho ou esse daqui? É aquele que ainda não tem filhos ou esse que tem três?
Então, o que você chama de carma de vidas passadas é o sonho de uma pretensa vida separada, que aconteceu há 200 ou 500 anos. Tanto a “vida passada” como a “vida futura” estão dentro desse mesmo processo de alguém imaginando ser aquilo que de fato não é. Tudo isso é o jogo da mente – a mente produzindo um corpo masculino ou feminino, um personagem para 70 anos, depois um outro personagem para mais 50 anos. Assim como a mente produz um personagem em seu sonho à noite, produz um personagem aqui, neste momento. Nada disso é real!