O que é a autoimagem?

O que é aquilo, em você, que se magoa, se ofende, se vê diminuído, depreciado, rejeitado? Essa é a sua autoimagem, a imagem que você faz de si mesmo, uma imagem que não pode ser tocada e que vive sustentada pelo medo.

Consegue ver isso? Consegue ver que as ações que você toma são reativas porque nascem dessa autoimagem? Toda ação nascida da autoimagem é confusa, é desorientada, e vai produzir confusão e desordem.

Isso é algo presente e pode ser visto nas relações. As relações demonstram ser o real espelho para tomarmos ciência da ilusão sobre quem nós somos, sobre como reagimos, com base naquilo que estamos afirmando sobre nós mesmos.

Quem se deprime? Quem se angustia? Quem se preocupa? Quem se entristece?

É por isso que, quando traziam um problema para Ramana, ele colocava uma questão. Ele dizia: “A quem isso ocorre? Quem está sentindo isso?” Só há uma resposta para essa pergunta: “eu”. Aí ele continuava: “Quem é esse ‘eu’?”.

Nós fazemos um escarcéu enorme, uma confusão grande a respeito dessa falsa identidade, temos um milhão de explicações sobre isso, e isso é tão simples! O que quer que você sinta, pense, veja, particularizando, trazendo para si essa experiência, aí está o ego, a autoimagem. A gente não precisa de longas explicações sobre o que é a autoimagem, sobre o que é o ego, basta perceber em si mesmo esse “si mesmo” afetado. É um assunto para se investigar em si mesmo, para olhar em si próprio o tempo todo.

Vou colocar de novo: esse centro que particulariza toda ideia que passa na sua cabeça é completamente falso, e essa particularização está dentro dessa autoimagem. Toda experiência é só uma experiência. Quando você particulariza a experiência, você fica autocentrado, coloca uma identidade naquilo e, assim, separa a experiência, divide a experiência.

Nenhuma experiência é maior que a outra. Esse falso centro é que, através do pensamento, se separa da experiência e dá maior ou menor valor àquilo. Nenhuma experiência é maior que a outra quando não se tem esse falso centro. Toda experiência, quer seja da pele para dentro ou da pele para fora, é somente uma experiência da vida, da existência. Não há uma “entidade” nisso, uma “pessoa” nisso.

Aqui está a autoimagem: uma criatura completamente imaginária, produzida pelo pensamento, se ofendendo, se magoando, se entristecendo, se aborrecendo, se contrariando, se depreciando, se valorizando…

É muito fácil ver isso no outro, e essa é uma forma do ego se proteger, dessa autoimagem se proteger, porque quando ela vê isso no outro, acredita que não tem isso. Ela se sente confortável por não ter aquilo, mas só está vendo no outro porque é algo que está nela. Ela sofre do mesmo mal; ela é esse mal.

Eu estou falando algo aqui de outro planeta, não é? Ninguém sabe do que estou falando.

Você está sentado num lugar, sai para ir ao banheiro e, quando volta, tem uma outra pessoa sentada no lugar onde você estava. Já surge uma irritação, uma perturbação, um conflito. Sim ou não? Onde surgiu esse conflito? Na autoimagem. Alguém tomou o seu lugar, desrespeitou você, não o considerou.

Quando você é um bebê, a mamãe pega você, troca sua fralda, dá banho em você, lhe dá mamadeira, coloca você para dormir… O fato é que o bebê não briga. Até uma certa idade, ele não briga. Quando é bem pequeno, ele está entregue, não está discutindo. Ele não discute com a vida, ele ainda não tem a apreciação de si mesmo, não tem autoimagem. O bebê não se importa com nada, desde que ele tenha as suas necessidades supridas, e são necessidades físicas básicas: a fraldinha trocada, a barriguinha cheia de leite e o calorzinho do colo da mãe ou de um cobertor. Uma vez que essas necessidades estejam supridas, ele está em paz, não há conflito. Por quê? Porque não há autoapreciação.

Se você se perguntar “a quem isso acontece?”, vai ver que há uma autolimitação na resposta. Se a resposta é “a mim”, isso é uma limitação. Então, você está sempre se apoiando nessa particularização de uma identidade presente nessa ou naquela experiência, ou seja, você está sempre se situando no tempo e no espaço como “alguém” – esse é o condicionamento, essa é a programação.

A minha ênfase é na Meditação. Por quê? Porque a Meditação é a oportunidade que você tem de voltar para a Fonte, de soltar a autoimagem. Meditação é simplesmente deixar que os pensamentos, os sentimentos, todas as experiências evoluam sem uma identidade nisso. Elas se desdobram sem um centro particularizando isso. Essa é uma forma diferente de colocarmos o que é Meditação. Então os pensamentos, os sentimentos, as sensações, qualquer que seja a experiência ocorrendo, não tem importância, porque ela não tem um centro para particularizar isso.

A minha recomendação é que você se torne um expert na arte de Ser. É por isso que a Realização é um luxo! Realização é se estabelecer na Fonte. Se tem alguma coisa em que vale a pena ficar bom, se tornar especialista, é a arte de Ser, puramente Ser, sem corpo, sem mente, sem mundo, sem particularizar o que quer que esteja surgindo neste momento. Não é algo para “mim”, para o “eu”; não é algo contra “mim”, contra o “eu”.

Se você fica bom nisso, você é o Senhor do universo, você é Purusha, como se diz na Índia. Compreendem a beleza disso? Você é maior do que todo o universo! Essa já é sua Natureza Verdadeira, é só assumi-La.

Você está voltando para o seu lugar. Você fez uma viagem longa e agora está voltando para casa.

09 de maio de 2021
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