Você não tem que se livrar do objeto, mas do “sujeito”. A dor está no “sujeito”, não está no objeto, não tem nada a ver com o objeto. Se você está livre da dor aí dentro, não tem problema se o objeto vai continuar por aí ou se ele vai embora, se ele vai continuar vivo ou se ele vai morrer.
Aqui, é observar, ver a mente tentando produzir essa racionalização, esse falso sofrimento, essa falsa dor. Você se liberta da dor se tornando ciente da presença dela. Então, não racionalize, não cultive uma dor artificial para se livrar de uma dor real. Apenas torne-se ciente da dor.
Até para chorar sentindo uma dor, você tem que ter muita Consciência, porque talvez esse choro seja para você fugir dela, e, geralmente, é assim que acontece. Às vezes, você expressa uma dor chorando ou uma raiva gritando, reclamando, murmurando, mas isso é feito de uma forma tão irresponsável, tão inconsciente, que o choro volta depois, a raiva volta depois. Eles aparentemente passam, mas daqui a pouco voltam. Isso significa que você não tomou ciência daquilo.
Então, quando você vê alguém chorando ou reclamando, brigando, saiba que ele não está se livrando daquilo. Você aprende na terapia que tem que expressar seus sentimentos para não reprimi-los, mas isso está totalmente equivocado. Assim, você termina expressando sentimentos por uma vida inteira! Você não os reprime; você os expressa, aí o sentimento se mantém presente, a dor sempre está aí. Não resolveu nada!
Expressar sentimentos, raiva, medo, desejo, emoção, todos fazem. A questão é se tornar cônscio da dor e, assim, se livrar da culpa, do arrependimento, do medo, porque é isso que está trazendo o sentimento. Mas, como não se atenta para isso, você vive expressando esse sentimento pela vida inteira e nunca se liberta do medo, nunca se liberta do sentimento.
Você não pode continuar vivendo como uma criatura sentimental. O ser humano, em geral, é muito sentimentaloide, ele vive como um cristal que a qualquer momento pode quebrar. Qualquer palavra o faz chorar, qualquer situação o faz sofrer. Ele vive assim porque vive identificado com a experiência egoica do sentimento, e ele cultiva isso. Na verdade, ele até aprecia muito isso. Todos adoram expressar ressentimento, mágoa, rancor, rejeição; adoram xingar, gritar.
Não tem nada pior – e é algo tão comum – do que ficar xingando a si mesmo, xingando o mundo, o outro, as situações… Isso é a expressão do sentimento, e é isso que o ego sabe fazer, mas assim você não se liberta da dor! Se você estiver livre da dor, não haverá necessidade de xingar, não haverá necessidade de fazer cara feia, “biquinho”, ficar de cara amarrada, nem de se isolar para curtir essa dor.
Isso tudo é ego! O ego gosta de sentir isso. Ele se sente vivo nessa experiência da dor, então ele cultiva a expressão do sentimento chorando, fazendo cara feia, reclamando, revidando, culpando o outro, punindo o outro, calculando como vai se vingar.
Ego adora mostrar para o outro que ele está errado porque o fez sofrer. Ego ama sofrer, mas depois condena o sofrimento que o outro produz nele, aí quer puni-lo. Não só quer punir o outro, mas a si mesmo também! Quer punir o outro porque ele o faz sofrer, e quer se punir porque ainda se sente um sofredor, mas gosta de ser assim. Enfim, é muita maluquice!
Ego é doido, vive numa loucura incrível! As pessoas não se tornam cientes disso porque não observam como são capturadas por imaginações, por sentimentos, por emoções, por sensações, por pensamentos. Elas não olham para a dor, preferem expressá-la. Então, vivem fazendo isso o tempo todo, expressando a dor através da revolta, da tristeza…
Falar isso aqui para você não vai ajudar em nada se você não observar em si mesmo. Você é o laboratório, o cientista e tem todo o material aí presente para essa observação. Você tem tudo que precisa nesse laboratório. Você tem tudo aí dentro para desarmar esse ego, para desarmar essas facetas de autojustificação, de racionalização.
As pessoas racionalizam até usando a Visão do Sábio, até usando a Visão Advaita. Ou seja, estão mentindo sem perceber que estão, ou estão mentindo para ter um ganho, mesmo sabendo que estão mentindo. Essa desonestidade é um sinal clássico de falta de atenção para observar a dor.
Você tem que atravessar o ego para saber como ele se comporta. Você tem que investigar isso, passar pelo seu laboratório, fazer os seus experimentos, usar os seus equipamentos.
Uma outra coisa é que você não precisa antecipar a dor: “O meu namorado não foi embora, então deixa eu sofrer aqui imaginando-o indo.” Não é assim! Basta você olhar aí que a dor já está presente. A mente está construindo historinhas internamente, o tempo inteiro, através do sentimento, do pensamento, da emoção.
Então, olhe para a dor, não racionalize, torne-se cônscio dela e ela quebrará, se desfará. Quando a dor se desfaz, o sentimento se desfaz, o pensamento se desfaz, a relação “medo-pensamento” se desfaz; você vive em Consciência. É muito bonito viver em Consciência porque isso significa viver em Amor.