A dificuldade em viver nesse ilusório mundo da mente é que há um constante conflito. A mente está sempre produzindo uma experiência de limitação. O que a mente sabe fazer muito bem é sobrepor limitações a Você. Você está sempre vendo a si mesmo, a vida, o mundo, o outro, dentro dessas limitações.
Não conseguimos ver essas limitações, porque a mente não nos permite. É como se você vivesse dentro de um truque, de uma mágica. Tudo que você vê está dentro disso, mas você não vê o mágico que bolou essa coisa toda. Você vê o truque e é parte dele, mas não consegue ver o mágico aprontando.
Na Índia, eles têm uma expressão para essa mágica, eles chamam isso de “maya”. Toda confusão na sua vida, toda bagunça que ela se tornou, todo sofrimento que isso representa, todos esses altos e baixos que você vivencia estão acontecendo dentro dessa mágica, mas você não vê o mágico.
O mágico está brincando! Claro que você vai dizer que é uma brincadeira bastante sem graça, porque você se vê como uma entidade nessa experiência de conflito, de desordem, de sofrimento, de confusão. Mas aí é que está: esse é sempre o ponto de vista desse falso centro, desse falso “eu”, dessa falsa entidade que você acredita ser, e ela é parte do truque.
Descobrir sua Natureza Real, a Verdade sobre Você, é ver essa mágica, é ver o que, de fato, está acontecendo. Quando você sabe que é só uma mágica, um truque, e reconhece o lado lúdico e artístico disso, você não se assusta mais. Se você conhece o truque, ele é parte de uma brincadeira, com a qual você também se diverte, mas não se confunde mais.
Hoje, o meu trabalho com aqueles que se aproximam é fazê-los verificar isso, é mostrar para eles que o que estão vendo é só um truque muito bem-feito, uma mágica muito convincente, algo que parece muito verdadeiro. É essa a sensação que você tem quando vê uma mágica: aquilo parece muito real! Se não parecesse assim, deixaria de ser uma mágica.
Então eu dou para as pessoas que se aproximam aquilo que o meu Guru, o meu Mestre, me deu um dia: olhos para enxergar o truque. Se você conhece o truque, não há conflito, não há problema. As pessoas vivem tomando remédio para dormir, vivem ansiosas, deprimidas, angustiadas, preocupadas, perdem o sono, carregam o medo de diversas formas… Isso é típico daquele ou daquela que não conhece o truque.
Você não sabe o que é o truque se não sabe quem é Você, e você não sabe quem é Você se vive pensando. Na realidade, você não sabe o que é o pensamento, e “vive pensando”. Eu quero colocar essa expressão “viver pensando” entre aspas, porque, na verdade, o pensamento é um processo que acontece aí dentro, mas não há “alguém” presente nessa experiência. Você tem a ilusão – e isso é parte do truque – de que é um pensador, então “vive pensando”. Isso é sinal clássico de que você não sabe a Verdade sobre Si mesmo.
Observe que o pensamento está sempre produzindo conflito dentro de você, então estar preso a esse processo do pensamento, nessa ideia de ser alguém pensando, é o problema. Esse é o truque! Você tem a experiência de uma consciência limitada e não sabe investigar de perto isso, aí vem parar em Satsang. O meu trabalho é ajudá-lo a investigar isso, a olhar isso de perto, porque, se você fizer isso, vai descobrir que essa sua experiência de consciência limitada é só uma imaginação da própria mente.
Existe Algo aí que está ciente dessas limitações, e você tem acesso a Isso somente investigando essa limitação que a mente está impondo para si mesma. O que eu estou dizendo é que Aquilo que está ciente das limitações as transcende, está além delas, e está presente aí como sua Consciência Real.
Então, essa consciência limitada é uma autolimitação que a mente criou e lhe deu como uma experiência “real”. Esse é o truque! É isso que os Sábios na Índia chamam de “maya” – viver nessa limitada consciência, ser essa limitada consciência, o que é uma ideia que a mente formou. Enxergar isso é estar além dessa limitação. O meu trabalho com você é lhe mostrar um salto para fora disso.
Esse senso de uma entidade separada, de um “eu” individual cheio de conceitos, crenças, opiniões, conclusões e ideias, é falso! Essa é a autolimitação que você impõe a si mesmo, e aí vive como “Thiago”, “Marina”, “Lúcio”, “Eliana”, ou seja, vive como uma “pessoa”. Não há “pessoa”! “Pessoa” é esse conceito, essa ideia que o pensamento tem ligada ao corpo e a essa experiência de consciência limitada.
Chega um momento em que você precisa Acordar, Despertar, tomar ciência Disso que é, ou de quem Você é, e quando Isso fica claro, não há mais sofrimento, não há mais conflito. A Vida é o que é agora.
Participante: Qual o sentido da mágica, no contexto dessa Realidade?
Marcos Gualberto: Quando você vai assistir a um show, qual é o sentido dele? Para quem assiste, o sentido do show é a diversão, mas, para quem faz o show, é só trabalho.
Então, eu vou simplificar assim para você: qual é o sentido de toda essa mágica? Qual é o sentido para o espectador do show? É um espetáculo de diversão, de alegria. Para quem está produzindo o show, em si, é trabalho, e muito trabalho. Não está nada divertido. Quem está 100% em diversão é quem está assistindo.
Então, qual é o sentido de tudo isso? De toda essa loucura? Agora tem a pandemia e todo esse show, que às vezes não é só de sorrisos, aplausos, dança, canto e música, mas também de lágrimas, de pesar, de dor, é algo trágico, sofrível. É parte do show ter esses dois lados de uma forma muito distinta: prazer e dor, vida e morte, saúde e doença. Esse é o show da dualidade, é o show do nascer e morrer, é o show da alegria e da dor, mas ainda é um show.
Estar em contato direto com essa não limitada Consciência, que é sua Natureza Real, que é o seu próprio Ser, é tomar ciência de que o espetáculo é só um espetáculo. Então, qual é o seu trabalho hoje dentro desse espetáculo? É descobrir o seu lugar. Aqui, ou você é um espectador ou alguém dentro do espetáculo. A pergunta é: quem é você? Qual é a função da mente em todo esse processo? Entende? Essa é a pergunta.
A minha dica para você é: elimine suas crenças, todas elas! Jogue fora todas as ideias! Elas podem ser grosseiras ou sutis, podem estar dentro da espiritualidade ou da visão advaita, mas ainda são crenças. Então, a primeira coisa aqui é eliminar todas as crenças, inclusive sobre a Consciência. Uma crença sobre a Consciência também é inútil, pois ainda não é a Realização; é só uma informação, um conhecimento. Aqui, a questão está sempre em viver a Verdade.
Meu trabalho com você é lhe mostrar a importância de “despersonalizar” essa Presença, essa Consciência, essa Realidade do seu Ser, que é Consciência. Então, você vai lidar com os assuntos da vida dentro de uma visão fora dessa ilusão de um centro pessoal, desse particular centro chamado “eu”.