Participante: Quero compreender melhor a não dualidade. Como harmonizá-la com meu compromisso social de contribuir com a construção de uma sociedade mais justa?
Marcos Gualberto: Existe uma situação aí que está passando despercebida por você: não dualidade é exatamente o fim da ilusão de que existe uma separação entre você e a vida como ela acontece. O pensamento tradicional, que é o pensamento dessa mente dualista, separatista, nos diz que existe algo no mundo que está separado do que somos, ou seja, nós somos uma coisa e o mundo é outra.
Então, você precisa compreender que, quando não há dualidade, não existe esse conceito de injustiça ou justiça, porque não existe nenhuma sociedade. Quando não há dualidade, a única Realidade presente é a Consciência, e Ela não se vê separada, dividida e, naturalmente, em conflito com o que quer que esteja se manifestando.
Assim, não há nenhuma necessidade de ajustamento, porque não existe sociedade justa ou injusta, não existe um mundo correto ou incorreto, não existe o certo e o errado. Essas noções, todas elas, são baseadas em conceitos sobre o que é o mundo e o que anda acontecendo nele, as quais nos fazem ver o mundo ora justo e ora injusto, tendo que ser consertado.
Quando essa não dualidade está presente, que é essa Consciência de não separação, de não distanciamento, de não distância entre Você e a Vida, entre Você e a Realidade, todos os conceitos caem. Então, não é possível ajustar a Verdade da não dualidade a esse conceito de injustiça social ou de que há algo errado acontecendo no mundo.
As pessoas são o que elas são, o mundo é o que ele é e a vida é o que ela é. São os nossos conceitos, baseados em ideias, crenças, conclusões sobre o que é certo e errado, que nos fazem ver justiça de um lado e injustiça do outro, algo para ser consertado aqui, ajustado ali, e assim por diante.
Isso tudo está baseado na história que o pensamento constrói sobre a vida, sobre quem somos, sobre quem o outro é, sobre o que está acontecendo no mundo. Então, a pergunta aqui é “quem sou eu?”, e não “o que posso fazer pelo mundo?”. A questão básica é que não existe nenhum mundo sem Consciência; é Ela que torna o mundo aparente, existente e visível.
Se você fizer essa pergunta “quem sou eu?”, vai terminar investigando a natureza do pensamento, de todas as conclusões, crenças, conceitos, ideias sobre quem você é, sobre o que é o outro e sobre o que é o mundo. Então, a pergunta central é “quem sou eu?”, e não “o que o outro anda fazendo?”, “o que anda acontecendo no mundo?” ou “o que posso fazer pelo mundo?”.
Você só nasceu para um propósito, e não é o de transformar esse mundo. Quando você chegou aqui, o mundo já estava assim. Todo tipo de injustiça que você presencia no mundo hoje já vem acontecendo há quarenta mil anos, só mudou o formato de suas expressões. Todos desta sala terão que deixar este mundo, e ele vai continuar assim.
Então, a pergunta é “quem sou eu?”, e não “o que estou fazendo aqui para tornar o mundo melhor?”. Na realidade, isso é muita arrogância! Já houve pessoas muito melhores do que você e eu neste planeta, e nem por isso o mundo se tornou melhor.
Nós acreditamos que somos muito bons para fazermos um mundo melhor, mas isso é pura fantasia, pura ideologia. Aliás, a mente egoica, separatista, dualista, ama ideologias, porque é o que aprendemos na religião, na filosofia, nos pensamentos humanistas, com os pensadores… Todos estão nos negando algo essencial em meio a tudo isso: a importância de investigarmos a única coisa que interessa, a única coisa que importa: “quem sou eu?”.
Você não tornará o mundo feliz, mas se deixar o mundo em paz – e isso só é possível se você encontra a Paz –, ele ficará muito bem sem você. Ele pode muito bem cuidar dele mesmo se não tiver um trapalhão igual a você criando mais problemas à sua volta, que é o que o ser humano faz sempre, o tempo todo. Ele não só dá solução aos seus chamados “problemas” como está o tempo inteiro fomentando mais confusão à sua volta.
Encontre o seu Ser, Realize a Felicidade, a Paz, só por um propósito: deixar o mundo em paz.