Tudo que você faz “na pessoa” é fruto da ignorância, da mediocridade, da estupidez e da restrição. Tudo o que a “pessoa” adquire é para lhe dar problema, não é para lhe dar Paz. Você faz filhos para ter dificuldades em criá-los, educá-los; você arruma marido, namorado, para sofrer, sofrer a dor da separação, sofrer a dor da traição, sofrer a dor da rejeição. Tudo o que você faz no ego é para ser miserável!
Se você pegasse um caderno enorme, de muitas páginas, e escrevesse nele todas as alegrias e complicações que os objetos que você tem estão trazendo, você iria ver o que eu estou dizendo. Os objetos trazem mais problemas do que alegria, trazem mais preocupação do que conforto.
No entanto, isso tem sido mal interpretado, porque, na mente, você acredita que tem que se livrar do mundo. Eu quero deixar bem claro para você que o problema não está nos objetos, mas no sujeito, nesse sentido falso de um “eu” presente na experiência.
Por exemplo, parece uma coisa muito simples estar sentado no sofá da sua casa, mas você não percebe o quanto de medo você tem de que outro tome aquele lugar, de alguém literalmente se sentar no seu lugar. Você chega em casa, abre a porta e se depara com uma outra menina sentada no seu sofá, ou um outro rapaz, ou até o filho da vizinha sentado no seu sofá. Não é o seu filho sentado ali, é o filho da sua vizinha! Tem algum problema com o sofá? Não, mas você encontra uma mulher sentada no sofá da sua casa… “Quem é essa mulher? De onde ela veio? Mas esse é o meu sofá!”.
O problema não está no sofá, não está naquela mulher. Você não sabia, mas aquela mulher era irmã do seu marido, que você não conhecia, mas um milhão de coisas passaram na sua cabeça, até você entender que era só a irmã do seu marido que acabou de chegar para fazer uma visita. Até você entender isso, um sofrimento enorme já passou por aí!
Basta chegar a notícia de que alguém muito próximo e querido morreu para você imediatamente começar a sofrer. Mas, após 10 minutos, chega a notícia verdadeira: trocaram os nomes, não foi aquela pessoa que morreu, foi outra! Foram dez minutos de sofrimento por alguém que você acreditou ter morrido, mas que, na verdade, ainda está bem vivo!
Entende como a mente funciona? Então, o problema não são os objetos, não é o mundo à sua volta, não é aquela moça que se assentou no seu sofá, não é o sofá que você tem em casa, não é a casa, nem é o cachorro, nem o filho… Isso são só objetos sem nenhuma importância! É o seu ego que dá importância a isso.
É a personalidade que vive em restrições, que dá identidade à experiência. Então, você vive de mau humor, estressado, com raiva, chateado, angustiado, porque há uma exigência psicológica: a exigência da “pessoa” de que o mundo dela seja do jeito que ela deseja. Isso é viver “na pessoa”. Entende? Como você vai descobrir a Beleza assim? Se você quer descobrir a Beleza, a Verdade, o Amor e a Paz Real, você tem que se livrar da “pessoa”. Então, a vida é uma celebração, uma festa divina, um festejo sagrado. De outra forma, você não consegue viver.
Você precisa encontrar em seu Ser uma relação real com aquilo que está à sua volta, e você não tem isso quando a sua mente está fixada em objetos, quando você não compreende o medo de perder, quando você não aceita a liberdade de se livrar, quando você segura para controlar, quando você quer entender para, por exemplo, confiar – “Eu preciso entender o que o mestre diz para confiar nele”. Isso é o mesmo que dizer “eu preciso compreender o que a Vida representa para poder aceitá-La como Ela é”. Isso não é possível, mas é uma exigência da “pessoa”.
Aí, eu lhe pergunto: como será possível a Felicidade chegar? Quando isso acontecerá? Como a relação real com o Amor acontecerá, se Ele está fixado em objetos? O Amor é algo que está dentro de você, Ele não pode estar ligado a objetos. Se há algo ligado a objetos, isso não é Amor; é desejo, é apego.
Quando eu me deparei com meu Mestre, eu percebi que a coisa principal era confiar. Não era questionar, era confiar; não era duvidar, era confiar; não era discutir com ele, era confiar; porque Ele tinha um olhar que eu não tinha, um Silêncio que eu não tinha e uma Paz que eu não tinha – eu só tinha Isso quando estava perto Dele, com o coração voltado para Ele. Então, eu vi logo que não precisava entendê-Lo. Escutem isso com atenção. Ontem, eu ouvi alguém dizer aqui: “Tem hora que eu confio, tem hora que não”. Isso é algo que você tem que olhar dentro de você. Não tem nada a ver com o mundo externo, tem a ver com esse centro falso de “pessoa”, de “personalidade”, na qual você acredita.
É disso que você tem que duvidar, e não da Vida, e não do Guru, porque a Vida chegou antes de você. Você é só uma poeira! Sabe quando uma poeira se levanta? Para onde ela vai? Uma poeira se levanta e some! Você é uma poeira ao vento… A poeira se levanta e some, e o vento está lá. A Existência é o vento, você é a poeira. Você quer desconfiar, sendo uma poeira, do vento que você não pode controlar. Você, como a poeira que é, passa tão rápido e quer desconfiar do vento que está aí fazendo tudo do jeito dele.