Um dia desses, em uma das páginas das redes sociais deste trabalho, alguém me perguntou: “Você está com tempo livre para podermos conversar? Eu gostaria de saber um pouco mais sobre a sua história de vida”. Eu não tenho nenhum problema de conversar com você um pouco sobre a minha história, no entanto eu vejo que isso não é a coisa mais importante. Talvez eu fale um pouco para você da minha história, só para você perceber que a sua história não é diferente da minha. Ela tem aspectos bem diferentes, claro, mas a procura por algo além da mente, além da história, é a mesma.
Agora, você escreveu aqui “essa paz é a coisa mais linda que existe”. Sim, essa é a coisa importante! Aqui, a coisa importante é Você! A história é sempre a mesma. Venho compartilhando isso com vocês já há algum tempo e eu não vejo nada real na história, porque ela trata apenas do passado de um personagem. Você não pode estar aberto ao Novo se está preso à história do personagem. Seu motivo de estar aqui deve ser saber quem Você é. A mera curiosidade sobre a história de alguém não vai ajudá-lo. Descobrir a Verdade sobre Si mesmo é descobrir o sentido real da Vida, e, se Isso está presente, a Paz está presente.
Então, eu não sei muito o que dizer sobre a história, porque histórias são todas parecidas. O propósito aqui é que você descubra Aquilo que Você é, aqui e agora. Esse deve ser o motivo de você estar aqui. Para isso, você precisa estar aberto ao Novo, estar completamente aberto ao Desconhecido. Eu quero que você descubra a Verdade presente aí, no que Você é. Só então você conhecerá a Liberdade, inclusive a Liberdade em relação ao conhecido, ao tempo, à história, ao passado dessa pessoa que você acredita ser. Aliás, todos os seus problemas estão absolutamente nisso, centrados na história de um personagem. A Iluminação é o florescer do Desconhecido. Então, a Paz se assenta, porque Paz é o seu Estado Natural, livre desse personagem, livre dessa história.
Você precisa sempre do passado para se reafirmar como alguém, mas você não precisa do passado para estar em seu Ser, em seu Estado Natural, que é o Estado livre do ego, livre do sentido de um “eu” separado, de uma entidade separada com seus conflitos, dilemas, dramas, problemas… E são muitos os problemas da pessoa! Pessoas não deixam de ter problemas! Na verdade, pessoas são problemas! Você não vem aqui para melhorar a “pessoa”. Para isso, você tem que ir a um psiquiatra, a um psicanalista, a um psicólogo, a um terapeuta, a um conselheiro… Eles são especialistas em ajudar pessoas. A minha especialidade aqui é ajudá-lo a descobrir a Verdade sobre quem Você é, e não fortalecê-lo para ser uma melhor pessoa, para enfrentar as adversidades, as vicissitudes, as complexidades, as situações difíceis da vida.
Então, quando alguém me procura e me pergunta sobre a minha história, ele não está compreendendo ainda que eu não tenho interesse na história. Eu posso ter lembranças claras, porque eu tenho um cérebro que tem memórias, como qualquer outro, de fatos, de situações, de tudo que aconteceu – ou aparentemente aconteceu –, mas eu não coloco uma identidade nisso. Eu só conto a história do personagem que alguém acredita existir.
Agora mesmo, você está me vendo através desse vídeo e tem certeza de que está diante de uma pessoa. Mas eu não o vejo como uma pessoa, porque não é assim que eu me vejo. Eu me vejo Naquilo que Eu Sou. É Isso o que tenho quando olho para você! Para mim, Isso é a Verdade! Fora Isso, muitas histórias…
Reparem que essas histórias sustentam todo o problema. Eu vejo pessoas sofrendo, e elas sofrem porque estão sustentando histórias sobre quem elas são. Isso é só uma crença no que elas acreditam ser, porque, no que Você é, não há história; mas, no que você acredita ser, tem muita história! A culpa, o medo, o desejo, o sofrimento, tudo isso é sempre da história, sempre do personagem. Ele deseja porque não se sente completo; ele tem culpa porque se sente responsável, porque acredita que poderia ter feito diferente.
Nós não percebemos a Verdade por detrás de tudo. Para mim, as coisas só acontecem. Agora mesmo, isso aqui é um acontecimento. Aparentemente, você decidiu chegar e estar comigo aqui, em Satsang, mas não é assim que funciona. Parece, mas não é. Você tem certeza que foi assim, e eu questiono isso até o fim. As coisas acontecem, assim como decisões são tomadas, no entanto não tem “alguém”. Elas acontecem, mas não tem “alguém”; elas se resolvem, mas não tem “alguém” resolvendo. Esse senso particular de identidade tem que ser quebrado aí dentro de você. Isso é uma fraude, uma ilusão! O seu Ser não está preso à história desse personagem.
Eu sei que isso é algo novo para alguns de vocês aqui, porque vocês têm ouvido outras coisas. Existem infinitas crenças dentro de cada um. Todas elas são aprendidas pela cultura, pela sociedade, pelo mundo à sua volta. É necessário saber Aquilo que Você é, quem é Você. A Real Inteligência está presente quando essa forma de pensamento que você conhece desaparece. A Real Inteligência é a presença da pura Consciência, e Isso é o Desconhecido. Eu poderia chamar isso de “Real Pensar”. Quando não há pensamento, há a presença do Desconhecido. A Inteligência flui quando você está aberto ao Desconhecido. Tudo o que você conhece representa o que o pensamento ordinário produz.
Então, quando você diz “é maravilhosa essa Paz”, essa Paz é a presença da Inteligência, é a presença do Desconhecido. Você não tem Paz quando pensa, quando está envolvido com o pensamento calculista, à procura de resultados, para ganhar ou tentar se livrar de coisas. Apenas quando você se afasta desse processo conflituoso do pensamento, um Espaço se abre e, nesse Espaço, há Algo novo, que é o Desconhecido, e, então, você está diante da Inteligência, diante da Paz.
Pensando, você não tem Paz; calculando, você não tem Paz; tirando conclusões, tentando acertar as coisas, você não tem Paz. Na verdade, toda a inquietude dentro existe porque o pensamento está presente. É o pensamento em você que sustenta a ausência da Paz. Isso faz algum sentido para você?
A minha especialidade é a ausência do pensamento, viver na Consciência, como Consciência, como o Desconhecido. Então, não há crenças, não há o processo comum de lidar com pensamentos, como acontece com as pessoas. Entenda: pessoa é sinônimo de gente que pensa, o que significa uma entidade presente, estressada, preocupada, aflita, tentando resolver, buscando soluções – na verdade, criando problemas, porque é só o que a mente faz.
A Vida está acontecendo sem pensamentos, mas o pensamento entra para criar problemas. A Vida já está no ritmo Dela, na forma Dela, na maneira Dela, mas você pensa. Você não tem o controle do que está acontecendo aí na sua vida, mas você pensa que tem. Mais uma vez, é o pensamento entrando em conflito com aquilo que a Vida representa aqui, neste instante. O desejo, o medo, a ansiedade, a preocupação, o desespero, o apego, o conflito para tentar mudar as coisas, tudo é parte disso. Vida como Consciência é Vida de Amor, de Paz, de Inteligência, sem conflito.
Não há Paz se você está com raiva, e você não fica livre da raiva quando seu ego está em conflito. Quando seu ego está contrariado, quando um desejo, por exemplo, é negado, o seu ego fica ressentido e tem raiva. Se há raiva, não há Paz. A Paz é a coisa mais desejada! Não pela “pessoa”, Ela não é desejada pela “pessoa”. A “pessoa” tem outros desejos na frente disso. A “pessoa” nada sabe da Paz, ela só sabe do que ela busca. A “pessoa” só sabe daquilo que ela quer ganhar ou daquilo que ela quer se livrar.
Quando você está livre de qualquer pensamento, o Silêncio está presente. No movimento do pensamento, você está sempre se posicionando como alguém – alguém para resolver as coisas, para se livrar das coisas. Alguém no passado, alguém no futuro. Mesmo quando o pensamento é “estou feliz”, isso é uma ideia, uma crença. O pensamento está sempre objetivando alguma coisa, inclusive ele quer objetivar um estado. Ele diz “vou alcançar a paz!” Isso é objetivar um estado.
Investigar a si mesmo significa se livrar de qualquer objetivação de estados internos. Compreender a Si mesmo é descobrir essa Realidade Desconhecida do seu próprio Ser. Os pensamentos que você tem sobre si mesmo não representam Compreensão, são meras crenças, uma coisa cultivada ao longo do tempo. Você se vê como uma criatura no tempo, como uma pessoa, uma entidade no tempo. A Paz é algo fora do tempo, da mente, do pensamento.
Repare que os momentos em que você desfruta de paz são os momentos em que não há nenhum pensamento sobre quem você é, sobre o que a vida representa ou sobre o que está acontecendo dentro dessa história pessoal. Quando essa história pessoal entra, que é quando o pensamento entra, não há Paz. Isso não é estar diante do seu Ser, é estar se confundindo com uma história que o pensamento constrói, e é isso que as pessoas fazem durante toda a vida.