Participante: Mestre, pode falar sobre o sentimento de rejeição? Eu percebo que é um favorito aqui na minha cabeça.
Mestre Gualberto: O que é rejeição? O que você chama de sentimento de rejeição? Dê um exemplo do que você chama de rejeição.
Participante: Sentimento de tristeza acompanhado pela ideia de que as pessoas não gostam de mim.
Mestre: Por que elas precisam gostar de você?
Participante: Sinto-me rejeitada quando não sou apreciada ou quando não tenho minhas crenças confirmadas.
Mestre Gualberto: Então, deixa eu entender… Você tem que ter a aceitação das pessoas tendo a aprovação das suas crenças por elas, é isso? Quem são essas pessoas?
Participante: Pensamentos.
Mestre Gualberto: Uma bela teoria! Se não fosse uma teoria, você já teria se livrado dessas “pessoas”.
Não adianta você ficar sabendo dessas coisas, porque o conhecimento não erradica o problema; só a experiência erradica o problema! Se você sabe que as pessoas não são diferentes de você, que esse “você” é só um conjunto de memória, lembranças, pensamentos, então você sabe que não tem ninguém lá. Se você sabe que não tem “alguém” aí, você sabe que não tem “alguém” lá! Se você sabe que aquela pessoa é um conjunto de crenças, assim como você, então não vai ficar esperando apreciação dela para depois se sentir rejeitada quando ela não corresponder, porque não tem “ela” lá, não tem “você” aí. Que coisa importante isso!
Agora, você não vai mais ligar para “pessoas”, então eliminará o sentimento de rejeição na raiz. Você para de se rejeitar ao parar de querer crédito dos outros, aceitação dos outros. Isso acontece muito em relações mais próximas: sua fixação de dependência psicológica é tão forte nesse “outro” que o seu ego se sente amado quando é aceito ou, em outras palavras, quando aquela especial pessoa concorda com as suas crenças. Isso é puramente egoico! Assim, não há como você se livrar do sentimento de rejeição! Pessoas sempre se sentirão aceitas ou rejeitadas enquanto cultivarem essa imagem, que é o conjunto de pensamentos dentro delas.
Então, quando você diz “isso é algo favorito aqui”, é porque nada faz com que você se sinta tão importante quanto ser apreciada pelo ego. O ego tem que, na boca do outro, “dar tapinhas nas suas costas”, apreciá-la. Isso é ridículo! É um sofrimento completamente estúpido depender de pensamentos de aceitação para se sentir aceita, e isso vindo da boca do outro. O outro não está nem interessado em você! Por isso que é algo muito estúpido! Todo ego está interessado nele mesmo, não tem interesse nenhum em você, então você jamais vai se livrar desse sentimento de rejeição, jamais vai parar de sofrer, porque o mundo será sempre a sustentação do seu sofrimento. Mas o problema é o mundo? Não, é você! Está tudo dentro de você! Seja livre! Dê a si mesma a liberdade de não depender psicologicamente das pessoas.
Talvez você diga “essa não é uma questão para mim”. É sim! Preste atenção, que é! Alguns se sentem muito evoluídos, mas basta a mulher olhar de cara feia para se sentirem desprezados pela manhã; basta chegar no trabalho e algum funcionário ter deixado algo por fazer para se sentirem com raiva e reivindicarem os “seus direitos”. Isso é uma forma de se sentir rejeitado também. Há várias formas desse sentido de rejeição estar presente. Se algo fere você, deixa você com raiva, triste, revoltado, cria sentimentos desse nível, tudo isso é por rejeição. Rejeição não só deprime como também deixa com raiva e com vontade de matar.
Ego se alimenta disso, de crenças. Ego é só uma autoimagem que se fortalece dia após dia pela desatenção, pelo cultivo de crenças, por diversas formas inconscientes de dependência psicológica: dependência da namorada, da esposa, da mulher… Existe um jogo sutil por trás dessa coisa. Você tem que ser honesto quanto a isso.
Existe aquele que até não dá suspeita nenhuma de que está com raiva, de que está aborrecido, triste, chateado, mas por dentro está cheio de considerações internas. A mente vive fazendo essas considerações internas: quando você é aceito – que significa que seu ego foi visto, reconhecido, que aquela crença foi considerada – fica completamente à vontade. Mas, quando o seu ego não é aceito, ou seja, quando suas crenças não são consideradas importantes, aí bate o que você chama de rejeição, o sentimento que faz até uma pessoa matar outra. Às vezes, ela não mata fisicamente, mas internamente fica com vontade de matar, de tanta raiva, porque ela foi rejeitada.
Você está muito bem enquanto “não pisam no seu calo”. Tem até um ditado que diz “eu dou um boi para não entrar numa briga, mas dou uma boiada para não sair dela”. Ou seja, no fundo, no ego, você gosta mais de briga do que de paz. A briga é uma coisa muito importante: deixa “você” vivo!
Aqui a recomendação é: pare de depender de pessoas, mas também não se torne independente delas, porque essa é uma outra forma de ego – são dois extremos. Tem aquele ego que não quer ser dependente de pessoas, mas, justamente por não querer, por ser contrário a pessoas, ele é completamente dependente delas; e tem aquele que não gosta de pessoas, para não ser ferido por elas. Todas são completamente dependentes! Eu conheço pessoas que dizem “eu não gosto de gente, mas eu gosto de animais”, e tem aquelas que dizem “olha, eu não gosto de contato com pessoas, porque elas ferem a gente”. Isso é uma outra forma de dependência: medo de gente. Então, você pode ter medo de gente ou gostar de ferir gente – são dois aspectos do ego.
Tem aquele ego retraído, que não fere ninguém, mas tem um medo enorme de ser rejeitado, um medo enorme da opinião dos outros, do que pensam, do que falam dele. Ele se sente um ego inofensivo, que não faz nada para ninguém, mas faz isso consigo mesmo o tempo todo: se sente ferido, magoado, rejeitado… Com os outros é uma seda, mas consigo mesmo é o próprio demônio cuidando dele mesmo. Então, de uma forma ou de outra, você está sempre nesse “escapismo”.
Pare de depender psicologicamente de pessoas e não seja reativo a elas, caso contrário você estará também dependendo psicologicamente delas. Você tem que aprender a ter uma relação livre do ego, mas não é do ego do outro, é do seu ego, porque o ego do outro não o atinge se você não tem ego. Aliás, não tem nenhum ego lá fora atingindo você, é só o seu ego mesmo que está o atingindo aí dentro. Não tem nenhum ego o rejeitando, é só você se autorrejeitando; não tem nenhum ego o elogiando, é só você mesmo se elogiando, ainda que o ego use a boca de uma outra pessoa. Uma pessoa também é só o seu ego do lado de fora. Há apenas um ego, que é você!
Uma hora você está bem consigo mesmo, concordando com as opiniões que você tem – vindas da boca do outro. Noutras vezes, você está mal consigo mesmo, sentindo-se rejeitado porque não está tendo a concordância do outro, que é você mesmo. É sempre você! Não tem nada lá fora o ferindo, magoando, aborrecendo… Não tem ninguém lá fora o aceitando ou rejeitando. Só tem você!