Aqui, estou sempre falando com você sobre essa questão da Autorrealização, que também vem sendo chamada de Iluminação. Outra palavra boa para Isso é “Liberação”, embora nenhuma palavra seja realmente adequada. As palavras Liberação, Autorrealização e Iluminação não descrevem a Verdade, pois Ela não pode ser descrita e não há palavras que possam alcançá-La.
Tem sido comum o tratamento Disso de forma completamente equivocada. A Liberação não é algo que o indivíduo possa ganhar. Na verdade, se trata de uma perda, de algo a se perder. Repito: aqui a perda é algo que acontece, o ganho não! Não é alguma coisa para se ganhar individualmente. Liberação é essa perda, é algo que você tem que perder, não algo que tem que ganhar, ou seja, não é uma aquisição.
O que você perde com essa Realização, com essa Liberação, é o sentido de separação, o sentido de identidade presente como autor, controlador, sabedor das coisas, e tudo o que implica a presença dessa entidade.
A primeira coisa que você tem que guardar em si mesmo, bem claramente, é isso: Liberação é uma perda, não uma realização de algo. Você terá que perder esse “alguém” que você acredita ser. Quando você pode ver que não existe nenhum sentido de separação, acontece a perda desse “eu”, a perda da ilusão. Perder a ilusão é essencial! Sem essa perda, não há Liberação, Iluminação, Autorrealização, ou como você queira chamar Isso. Quando acontece Isso, o medo e o sofrimento vão embora, e o que é deixado é apenas a maravilha da Vida acontecendo como Ela é. Então, Liberação é Felicidade, mas a Liberação é a perda dessa falsa identidade presente.
Esse sentido de identidade é o ego e tudo o que ele busca é adquirir mais. É isso que você precisa perder! Quando essa sensação de “eu estou no controle”, “eu sou o autor das minhas ações”, “eu estou presente nessa experiência” desaparece, a vida pode, então, ser vivida num profundo relaxamento. Sem o sentido ilusório do “eu”, o medo cai, a ansiedade cai, e todo desespero desaparece ‒ isso é Liberação. Aqui, a dificuldade é descrever Isso, porque Liberação é exatamente o fim de todo significado que o pensamento pode dar e apresentar sobre a Vida. Há somente uma revelação na Liberação, que é o significado da Vida como Ela é ‒ um verdadeiro Mistério.
O pensamento é uma base para as palavras e ele é dualista, então, as palavras só tratam da dualidade e não podem ir além dela. Assim, os pensamentos não podem traduzir, através das palavras, Aquilo que está além das palavras e dos pensamentos. A Liberação é algo assim ‒ além das palavras e dos pensamentos; algo que está além da dualidade. A linguagem, por sua natureza, descreve apenas a dualidade: eventos, experiências, coisas, sentimentos, sensações, imagens… Todo e qualquer fenômeno está acontecendo dentro da dualidade e não existe linguagem para descrever Aquilo que é não dual.
Então, quando falamos de Liberação, estamos falando de uma perda, aquela que acontece a você, quando essa ilusão do “eu” desaparece com a dualidade que ele carrega: “eu e o outro”, “eu e o mundo”, “eu e a vida”, “eu e minhas coisas”, “eu e minhas experiências”, “eu e minhas ideias”. Tudo isso é completamente falso, está dentro da mente e de sua dualidade. Todas essas coisas acontecem dentro da ilusão da mente.
Outra coisa sobre a Liberação é que, como é “Algo” não pessoal, Ela não carrega nenhuma psicologia, nenhuma experiência emocional ou espiritual. Assim sendo, por mais fina, profunda e preenchedora que seja uma experiência espiritual, ela ainda está dentro da mente, não está fora dessa ilusão do “eu”. Assim, através de algumas práticas, com o uso de algumas substâncias químicas ou técnicas de meditação, você pode obter alguma experiência, uma profunda e prazerosa experiência, relaxante, abençoada, mas o sentido do “eu” continua. Dessa forma, a ilusão continua, porque Liberação não é para esse “eu”, que tem que ser perdido, não pode continuar experimentando coisas, sejam profanas ou divinas.
Em alguns momentos, você pode ter uma experiência de ausência do experimentador, de ausência do “eu”, mas esse “eu” termina voltando, o que significa que ele não foi embora definitivamente; ele ainda está por aí. As pessoas me escrevem falando sobre as suas experiências espirituais, ficam bastante animadas e, logo depois, o “eu” volta com seus antigos problemas: ansiedade, preocupações, aflições, toda a sua tagarelice mental. Isso é sinal de que não há algo real assentado nesse mecanismo, nesse organismo, não aconteceu essa perda, esse “eu” não foi perdido.
Algumas vezes, quando quer sair de casa, você não encontra a chave do carro dentro da sua casa. Parece que você perdeu a chave do carro e começa a procurá-la, mas, se está dentro da sua casa, ela não está perdida, e você termina encontrando-a novamente. Algumas pessoas, quando escrevem para mim, relatam sua “iluminação”, mas suas palavras já denunciam que elas continuam presentes. É como alguém que acredita que perdeu a chave do carro dentro de casa, mas, se está lá, não está perdida. Naquele momento, ela não sabe onde a chave está, mas daqui a pouco a encontra.
Esse sentido do “eu”, às vezes, parece não estar mais. Mas, somente parece, pois ele ainda está lá. Isso é muito comum nas práticas de meditação ou no uso de algumas substâncias, como o chá [ayahuasca], que trazem um relaxamento, uma sensação de bem-estar. Nesse sentido, a própria música pode provocar isso, inclusive a música devocional, mas nada se resolveu ainda.
Então, deixe de se interessar por novas experiências, aquisições, em acrescentar algo ao “velho eu”, como uma nova sensação, percepção ou experiência, porque isso não irá resolver. Assim, você pode passar muitos anos preso a toda forma de experiência. Realização, Liberação ou Iluminação é a visão dessa única Realidade presente, além de tempo, espaço, mente, mundo, corpo, experimentador, experiência, pensador e pensamento, observador e a coisa que ele observa. Estudar e ouvir falas sobre Isso não resolve. Técnicas e práticas também não resolvem.
Se você quer descobrir Isso de perto, venha para Satsang.