Mais uma bela oportunidade de estarmos juntos, voltando-nos para algo tão singelo e simples. Curiosamente, parece tão estranho e difícil… É um paradoxo que só existe para a própria mente. A Verdade sempre se mostra de um modo paradoxal, mas, lembre-se: sempre do ponto de vista do sentido de uma identidade separada, do ponto de vista da mente. Apenas para a mente estamos diante de algo que é de grande dificuldade.
O seu hábito é o do pensamento, o qual, por natureza, é dualista, separatista, contraditório e confuso. A primeira coisa com que nos deparamos, quando somos trazidos para essa aproximação, é algo simples, mas que se torna difícil para a mente, que é deixar de continuar confiando na ideia de ser uma pessoa.
Isso pode parecer bastante difícil de ser aceito, mas eu digo para você: não seja uma pessoa, não seja coisa alguma! Quando você tem essa Compreensão direta de que não é alguém, quando você está livre e vivendo de acordo com essa Compreensão, toda a ilusão termina. É o pensamento que sustenta isso. Basicamente, a ilusão é a autoimagem que você tem: um homem, uma mulher, um jovem, um buscador espiritual, alguém que irá se iluminar ou está buscando a iluminação… Tudo isso são só imagens. Quando a ideia ou a sensação de ser uma pessoa não mais engana você, quer esteja pensando ou não, agindo ou não, nesse momento, você está vivendo a Verdade, a Verdade do Coração.
Há uma grande beleza em viver assim, porque quando não há ilusão, não há conflito, não há medo, há somente Amor. Amor é Verdade, que é Liberdade, Sabedoria, Graça, “Algo” completamente diferente dessa confusão de viver identificado com pensamentos, com toda essa herança cultural, espiritual, social, política, ideológica, com tudo que o pensamento tem inventado. Acompanham isso?
É basicamente isso que fazemos em Satsang: descobrimos como não confiar mais naquilo que o pensamento diz sobre “nossas” experiências. Essas “nossas” experiências são, na verdade, experiências da Existência, da Vida; elas não são particulares, não são pessoais, não há por que se sentir grande ou pequeno diante daquilo que se apresenta. Então, eu quero repetir para você: não seja uma pessoa!
Quando você está numa relação real com a Vida, como Ela se apresenta, sem essa fantasia do sentido de pessoa, de ser alguém ou alguma coisa, essa relação é toda inclusiva – não exclui nada – e de profunda Inteligência, Consciência e Liberdade. O mundo, o corpo, a mente e as experiências estão incluídos. Em qualquer nível, são apenas inofensivas experiências da Existência – experiências no mundo, no corpo e na mente, com pessoas, objetos, situações e tudo o mais.
Então, descobrimos, em Satsang, nossa Liberdade presente, que, até então, não tínhamos apreciado, porque estávamos por demais valorizando a mente egoica, dualista, separatista, com suas conclusões, crenças, medos e desejos. Percebam que há uma perfeita inclusão do mundo, como ele é, nessa Consciência, nessa Presença, e isso é Amor.
O Amor é essa Final Destinação da Liberdade, da Presença, do Coração. Esse Coração é como uma árvore que aceita, em seus galhos, todos os pássaros; uma mãe que recolhe, debaixo de suas asas, os seus filhotes. Assim é essa Consciência, essa Liberdade, essa Presença, essa Final Destinação, que é o Amor. Estamos juntos?
Você deve estar disposto a conhecer Aquilo que está presente aqui e agora. Você deve estar disposto à Beleza dessa “morte”. Tudo que você conhece é deslizar para fora, para longe. Você foi condicionado a acreditar que tudo que lhe foi ensinado é de muito valor; que suas crenças, certezas, convicções e ideias são suas posses mais preciosas. Alguns entram nessa sala querendo aprender ainda mais, mas a Sabedoria não nasce nesse “saber mais”. Você está muito “cheio” e acredita que não sabe. As pessoas, quando vêm, dizem que não sabem nada, mas, se isso fosse verdade, elas não teriam nenhuma crença sobre elas mesmas, nem mesmo a crença de que não sabem nada. Elas dizem: “Eu não sei nada!”, mas, no fundo, sabem que são pessoas. Tem que saber muito para poder saber tal coisa. Curiosamente, esse “saber” é pura imaginação, a imaginação do conhecimento, que sustenta a ilusão da ignorância.
Você, aqui, descobre a importância de deixar isso tudo ir embora. Naturalmente, isso requer coragem. Então, esteja pronto! Mas, a pergunta é: você está pronto? Está disponível? Esteja disponível! Renda-se a essa Verdade, à Verdade sobre Si mesmo. Então, você se torna um “espaço aberto”, e é nele que essa “árvore” estende seus “galhos”. De forma inclusiva, ela recebe tudo que a Vida apresenta. Esse Espaço, então, é um Santuário, o Santuário da Verdade. Assim, você está pronto para saber que não há nada para saber, e esse é o verdadeiro Conhecimento de Si mesmo. Se você conhece a Si mesmo, conhece a Vida. Então, a Vida está presente e o sentido do “eu” não está.
Isso é completo e profundo Silêncio, sem mais toda essa confusão de pensamentos que sustentam o sentido de separação entre esse “eu” e a “experiência-vida”, a “experiência-mundo” e a “experiência-corpo”. Então, dentro desse Silêncio, revela-se a Liberdade, a Paz, o Amor, a Verdade, essa “coisa” sem nome, e o sentido do “eu”, do ego, não está presente. Somente esse Silêncio é o acesso ao Silêncio; somente essa Alegria é o acesso à Alegria; somente essa Verdade é o acesso à Verdade.
Isso não é algo com base no pensamento, na memória, não é algo que possa ser lembrado. Alguns passam por algumas experiências e acreditam que é disso que estamos falando. Não estamos falando de uma experiência; estamos falando exatamente do fim da ilusão de que há uma experiência que possa ser vivida e lembrada, algo que requer memória, pensamento, tempo, a ilusão de um experimentador, de um pensador.
As pessoas vêm praticando diversas formas de disciplina ao longo da história humana. Elas vêm colecionando experiências, crescendo em experiências. Elas adquirem novas, sublimes e espirituais experiências, e se tornam, cada vez mais, apegadas a elas; elas se tornam pessoas espirituais – algumas até já são “pessoas iluminadas”. É estranha essa expressão, porque quando há o Real Despertar, a Verdadeira Realização, não fica nenhuma “pessoa”, não fica o sentido do experimentador com suas sublimes experiências, porque não existe o sentido do “eu” nisso, de um “eu” sublime, um “eu” divino, um “eu” espiritual.