Você não pode contar com a Liberdade como algo vindo do lado de fora, do exterior. Todos têm condições de viver em plena Liberdade, mas você não pode considerar a Liberdade como algo que se possa alcançar e que tenha origem no lado de fora. Você pode viver essa Liberdade, mas não pode esperar por Ela. A Liberdade não é algo que acontece externamente, que depende das situações ou das circunstâncias externas. Esse é um assunto muito importante.
As pessoas vivem em confusão porque a natureza da mente é confusa. Ela está, o tempo todo, tentando se ajustar ao externo para encontrar do lado de fora alguma forma de satisfação. Assim, a busca de preenchimento e realização externa é constante na mente. A Existência não se ajusta à mente, por isso o pensamento produz constante confusão. Toda desordem é interna, e essa desordem interna espera por uma ordem externa; a inquietude interna aguarda uma paz exterior.
Não há Liberdade do lado de fora! É curioso dizer isso, porque não existe, também, nenhuma prisão do lado de fora. Aquilo que produz a ilusão da dor, do pesar e do sofrimento não é o que acontece externamente, mas é a particular visão da mente do lado de dentro. Como a mente está em confusão, a sua relação com o externo também é confusão ‒ o que, na realidade, ela mesma está criando. É a mente que cria essa dicotomia entre o interno e o externo, entre o dentro e o fora. Então, toda a confusão que se vê externamente no mundo é apenas um reflexo dessa confusão interna que o homem carrega dentro de si.
Então, não espere que o mundo mude, e, quando eu falo “mundo”, estou me referindo a qualquer coisa externa. O corpo físico também é parte do que é externo, pois, assim como a mente projeta o mundo, ela projeta o corpo. Portanto, toda a confusão no mundo, toda a confusão na mente e no corpo, é parte desse movimento interno da mente egoica. A mente egoica é esse interno mundo de todos, e isso não tem nada a ver com a Verdade sobre Você. Esse interno mundo de todos é também o externo mundo da mente egoica.
Toda confusão no mundo, no homem, em você, todo sofrimento, toda dor e todo problema estão nessa falsa identidade que tem criado o externo e o interno, que está procurando no mundo externo essa Paz. Dentro de sua confusão, você está tentando encontrar Quietude, Silêncio e Liberdade. Entretanto, se você está se confundindo com a mente, está perdendo sua Real identidade, sua Real Natureza, e aí está toda a confusão.
Assim, você pode viver no mundo da mente, no mundo das ideias, das crenças, das opiniões, das ideologias, de todos os sistemas criados pelo pensamento, mas tudo o que você vai adquirir disso é uma visão bastante depressiva do mundo, uma visão ansiosa, em medo, dor, e nisso não há Liberdade! O que estou dizendo é que não há Liberdade no mundo, não há Liberdade do lado de fora, porque você está, aí dentro, criando toda essa confusão. Todo problema no mundo é um único problema: o seu problema! Se não houver conflito aí dentro, toda essa noção de conflito do lado de fora desaparece. Quando você descobre que o mundo não está em liberdade nem em prisão, você está em Liberdade. Estar em Liberdade é Ser, simplesmente Ser, somente Ser! Se você vive assim, não há problema nenhum no mundo, isso porque você saiu do mundo da mente. E o que é o mundo da mente? É a confiança em pensamentos.
Eu tenho percebido que esse tem sido o “x” da questão, e tenho falado muito sobre isso ‒ você confia em pensamentos. Olhe para si mesmo que você vai descobrir isso que estou lhe dizendo. Seu problema é confiar em pensamentos! Os pensamentos estão criando o mundo da mente e procurando, do lado de fora, a Paz, mas é isso que está criando a confusão externa. Então, essa confusão interna é a confusão externa, criada pelo mundo da mente, que, basicamente, é a confiança em pensamentos. Você não tem apenas lembranças de acontecimentos, você confia nelas e isso faz com que você tenha inimigos, que se veja como uma pessoa divorciada, um pai que teve um filho que, depois, morreu, um viúvo, ou seja, você se vê como “alguém” neste presente momento, carregando uma história do passado. Então, no mundo da mente, você está vivendo no passado, porque vive dentro dessas lembranças, com todo esse peso da memória.
Todos nesse mundo estão vivendo nessa mesma dimensão de loucura, apenas com uma diferença de nível. O mundo da mente é a loucura e confiar em pensamentos é a base da loucura. Quando confia em pensamentos, você confia, por exemplo, nesse assim chamado “amor”, no que você sente pelo outro. Se você sente ciúmes e falta do outro, está apegado a uma autoimagem que você tem de uma suposta pessoa. Até que chega o dia em que essa relação não pode mais ser sustentada, porque ele foi embora com outra, não quer mais saber de você, e você agora acredita no pensamento de que não pode viver sem ele. Aí vem a dor, você perde o sono, a fome, não quer mais tomar banho nem ir para o trabalho. Tudo isso acontece porque esse é o mundo da mente, que é apenas confiança em pensamentos.
Assim, se você confia em pensamentos, você se identifica com histórias mentais, e “sua identidade” tenta extrair dessas histórias bem-estar, prazer, conforto, preenchimento ‒ aí está a confusão no mundo! Então, o problema parece estar do lado de fora. Dessa forma, todos esperam que o mundo lhes dê paz, que uma profissão e as pessoas os preencham, mas isso não é possível. Quando as pessoas se aposentam, entram em depressão, pois estão longe daquela atividade que era a razão de suas vidas. Essas pessoas não tinham nenhuma felicidade na relação conjugal, com os filhos, com o mundo à sua volta. Havia uma frustração interna muito profunda, uma vida inteira em sofrimento, em psicológicos sofrimentos, mas tinha uma tábua de salvação, um momento de fuga existencial: sua satisfação no trabalho. Ali estava a vida da egoidentidade. Era um preenchimento, um psicológico preenchimento, mas chegou a aposentadoria. Não dava mais para o corpo de cada uma delas exercer aquela função, então essas pessoas tiveram que se aposentar, aí o quadro depressivo apareceu. Na verdade, esse quadro já estava lá, mas não teve a oportunidade de se manifestar.
Agora, eu pergunto para você: quem está livre disso? Quem aqui não carrega um quadro, um trauma, um peso? Eu não sei o nome dessas coisas, deixo isso para os especialistas, que chamam isso de patologia. Até os médicos, que tratam de patologias, têm alguma patologia também. É incrível, mas é assim mesmo: um médico doente “curando” os doentes. Afirmo: não há cura! A mente é a doença! Se você procurar na sua família, você vai encontrar um trauma, um quadro desses, e, se você olhar para dentro de si, também vai encontrar.
Então, a Paz não está lá fora, mas a guerra também não está. A Liberdade não está lá fora, mas a não liberdade também não. Assim, a Sabedoria está em acolher o que acontece sem o mundo da mente, sem a confiança no pensamento.