Você não sabe quem você é

As palavras Liberdade e Felicidade são outras palavras para Realização. Todas essas falas apontam para essa direção. Isso não é outra coisa senão a descoberta da Verdade sobre nós mesmos, sobre quem somos verdadeiramente.

Os Sábios dizem que se, identificado com o corpo, você prosseguir na busca da Felicidade, é como tentar cruzar um rio em cima das costas de um crocodilo. Essa é uma imagem bem interessante!

As pessoas buscam a Liberdade, a Felicidade, mas não sabem a Verdade sobre elas mesmas, não sabem quem verdadeiramente são. Você não sabe quem Você é, então, sua busca pela liberdade ou felicidade é algo semelhante à tentativa de cruzar um rio em cima das costas de um crocodilo, porque você permanece se identificando com o corpo e a mente.

Quando o ego se levanta, a mente está completamente separada da sua Fonte, do Ser e ela está inquieta. É impossível haver Felicidade enquanto existir inquietude, que é a natureza da mente identificada com o corpo nessa experiência de um mundo externo.

Portanto, olhar para dentro de si mesmo, permitir que a mente volte à sua Fonte e encontre essa Quietude Natural, é algo básico para essa Realização, que é essa Libertação, ou Liberação, ou Felicidade. Naturalmente, você não pode, na mente com seu movimento, encontrar essa Quietude. A natureza da mente é estar agitada, envolvida em seus projetos, sonhos, desejos, motivações, memórias, lembranças, crenças… Assim, tudo o que ela conhece está dentro do seu projeto. Permanecer na mente significa permanecer nessa identificação com o corpo, nesse “passeio pelo rio em cima de um crocodilo” em busca de felicidade.

Meu Mestre dizia que a Felicidade é a sua própria Natureza. Não é errado desejar essa Felicidade; o que está errado é a busca dessa Felicidade do lado de fora, enquanto, na verdade, Ela está do lado de dentro. Esse próprio movimento da busca da felicidade é a base da miséria, pois ele sempre está apoiado em imaginações, pensamentos, crenças, ideologias, ou seja, é sempre um movimento para fora.

Enquanto você continuar se considerando “alguém”, esse “eu” separado, todas as suas ações serão baseadas nesse autocentramento, e, portanto, no desejo de preenchimento egoico. Permanecer livre do movimento da mente, do movimento imaginário desse “eu”, com suas intenções, motivações e aspirações, é a base da Real Meditação.

Nosso apontar sempre é para Aquilo que Você É, não para aquilo que o pensamento produz, imagina e deseja. Você é essa Presença, essa Consciência, que é a Verdade Absoluta ou o Conhecimento Absoluto, e não esse conhecimento relativo dentro do campo do conhecido, que é o campo da mente. Esse Conhecimento Absoluto é o Conhecimento de Deus.

Quem é Deus? Deus é Aquilo, ou essa Realidade, que transcende, que está além de toda definição, de tudo que pode ser conhecido ou traduzido pelo pensamento. Essa Consciência é Deus, que é o seu Ser, que é perfeita Beatitude! Na Índia, eles chamam de Sat-Chit-Ananda (Ser-Consciência-Beatitude). Essa Beatitude é Felicidade! Assim, a Realização, que é Liberação, é Felicidade, é Sat-Chit-Ananda.

Então, quem é Deus? Deus é essa Realidade, essa Consciência, esse Conhecimento Absoluto. Eu quero repetir isso… Deus não é esse conhecimento relativo ligado ao campo do conhecido, ao campo da mente, daquilo que pode ser definido, explicado ou compreendido pelo pensamento. Portanto, aqui, não se trata de alcançar Deus, não se trata de conhecer Deus. Deus é a Realidade e “você” é somente uma imaginação, que termina. Deus, como única Realidade, está presente, não pode ser alcançado, nem pode ser conhecido. Ele é essa Realidade presente, que tudo conhece, que é Puro e Absoluto Conhecimento.

Tudo que precisa ser feito é: nada! Nisso está toda a dificuldade, porque você carrega a ilusão de “alguém” aí, presente, capaz de fazer alguma coisa, de conhecer e ser alguma coisa. Então, a Meditação, que é essa Consciência, é quando nada se faz, quando não há nada para se fazer e não há ninguém para se movimentar. Esse não fazer é estar quieto, que significa permanecer em seu Ser, desaprender tudo, não mais aprender nada e, a partir de então, abandonar a ilusão do fazedor, do pensador, do buscador.

O que é Beatitude? O que é Felicidade? É permanecer no Estado livre desse “eu”. Então, o que você pode ganhar? Nada! Realização, Liberação não se trata de ganhar algo, mas de perder. Quando se perde tudo, a Realização está presente. Quando há esse Vazio, se está em Plenitude, e, quando se está cheio, se está inchado dessa vaidade, desse falso “eu”. O ego vive “cheio”, que é um inchaço de experiência, conhecimento, nessa ilusão de um autor das ações, um guardador, cuidador, responsável, e isso é completa limitação, total mediocridade.

Então, qual é obstáculo para a Felicidade? Qual é o obstáculo para a Paz? Qual é o obstáculo para a Liberação? Qual é o obstáculo para essa Realização de Deus? O obstáculo para tudo isso é a ilusão desse movimento da busca, do fazer, do desejar, essa constante procura por experiências, seja na materialidade ou na espiritualidade.

Assim, é necessário descobrir a importância de estar quieto., que é não confiar em pensamentos nem projetar um “eu” por detrás desses pensamentos, com suas crenças, opiniões, julgamentos, ideologias, desejos e tudo mais. Então, o que estamos juntos investigando é essa grande Alegria de Ser! Pura e simplesmente Ser! Pura Consciência, Suprema Realidade, Sat-Chit-Ananda!

A mente tem criado sua autolimitação. O ego é “demoníaco”, no sentido de que ele criou sua própria autolimitação infernal; ele vive em sua “malignidade”. Esse é o inferno de viver no ego, nessa limitação autoimposta pela ilusão da mente. Então, seu único inimigo é a ilusão de que você é “alguém”, é esse conceito que você faz de si mesmo, a imagem que tem de si mesmo – esse é o seu “demônio” privado e particular, maligno e muito cruel. Isso, na realidade, parece ser assim porque você acredita na existência dessa entidade, desse “eu”.

Agora, vou lhe dizer algo diferente disso: o ego não é o seu adversário, seu inimigo, nem o seu demônio particular e privado. O que tem criado isso tudo é a ilusão de que essa entidade está aí, de que você é quem acredita ser. Essa autolimitação é uma ilusão criada, mantida e sustentada pela falta de autoinvestigação. Portanto, esse “demônio” não tem nenhuma realidade, e esse inimigo, na verdade, não é real – são criações do pensamento, da mente, da imaginação, de uma autoimagem. Então, isso sustenta o medo, o sofrimento, o apego, o desejo, a alegria que carrega o seu oposto, que é a tristeza; isso sustenta toda essa ilusão, toda essa miséria.

Então, Acordar significa soltar essa fantasia, essa imaginação, se desidentificar dessa mente, desse corpo, dessa ilusão de uma entidade presente.

14 de dezembro de 2018
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