Aqui, a primeira coisa é que você precisa ter a compreensão de que Aquilo que nós chamamos de Despertar, Iluminação ou Realização de Deus é somente um grande jogo, bastante interessante.
Toda forma de busca, todos os métodos e técnicas, tudo isso pode até se apresentar dentro desse jogo, mas não tem nenhuma relevância particular para esse Despertar, para essa Realização. E, aqui, temos a inclusão desse personagem, tão polêmico, que é a figura do Guru. Essas práticas podem parecer bastante relevantes, mas, na realidade, não são, pois elas estão apenas dentro desse jogo.
Esse Despertar é algo que pode acontecer para qualquer personagem dentro desse jogo. Vamos comparar esse jogo a um teatro, onde há muitos personagens. Essa Clareza, essa Realização ou Despertar pode acontecer a qualquer um desses personagens.
Embora existam aparentes estágios dentro do jogo, eles não são reais. Estou dizendo que não existe nada na vida – nenhum exercício, método ou sistema, nenhuma prática, nenhum “guru” – que possa lhe dar a capacidade para que essa Realização aconteça, simplesmente porque seu Estado Natural já é Isso, ou seja, não há nenhuma evolução, nenhum progresso, nenhuma capacitação para Isso.
O ponto fundamental perdido dentro dessa procura da espiritualidade é exatamente esse: você já é aquilo que procura! Nada pode fazer o buscador ser mais do que ele já é. Uma vez que fique claro isso, todas as técnicas, métodos e sistemas não fazem mais sentido dentro do próprio jogo. Paradoxalmente, não há nada de errado com isso também, é apenas parte do jogo.
Assim é a sadhana indicada pelo Guru, bem como a própria presença do Guru. Tanto a sadhana quanto o Guru são irrelevantes, mas, dentro do jogo, paradoxalmente, não há nada fora do lugar. É possível que você realize Isso sem a necessidade de uma sadhana, de uma prática direcionada por um Guru, sem a própria necessidade de um Guru. Isso tem acontecido na história humana, porque sua Natureza Real é Pura Consciência; essa já é a sua Natureza Verdadeira. Então, nesse sentido, podemos dizer que a presença do Guru não é necessária.
Para alguns suficientemente maduros, que nasceram dentro de uma condição de grande facilidade para esse Despertar, nem se cogita essa questão da necessidade ou não da presença de um Guru na forma humana. No entanto, não é assim com a grande maioria. Se você está nessa sala, provavelmente, esse não é o seu caso, pois, se você pudesse Despertar sem a necessidade da presença de um Mestre vivo, não teria encontrado essa sala no Paltalk, nenhuma fala, nenhum vídeo, ou seja, não haveria nenhuma necessidade disso. Então, é somente como o jogo acontece. Não podemos ser dogmáticos quanto a isso também.
Quando alguns me perguntam sobre a necessidade da presença do Guru ou não, minha resposta é exatamente essa que estou colocando para vocês. Esse é um jogo misterioso que a Graça faz como quer. A Graça é esse próprio Poder misterioso dentro do jogo, que pode Despertar qualquer um dos “personagens” desse “teatro”, da forma que Ela quiser. Essa Graça é, também, chamada de Consciência, Presença ou Deus. Isso é algo já perfeitamente presente, completo. O problema com a busca, ou com a vida espiritual, é que ela está baseada numa presunção falsa de uma individualidade tendo um reencontro com o Todo ou Deus, de alguém se encontrando com Deus.
Então, a espiritualidade é um meio para se alcançar esse objetivo de reunião ou de união com Deus, com o Todo. Isso tem criado as técnicas, os métodos, para “purificar” a pessoa, o indivíduo, para ele se livrar do ego, tornar-se iluminado ou ter um encontro com Deus. O ponto fundamental perdido aqui é que não existe nenhum indivíduo e também nenhum Deus separado de toda a Sua manifestação. Toda manifestação é dessa Pura Consciência. Esse é o jogo: Você, que é Consciência, é Aquilo que está buscando a Si mesmo, e essa busca não pode tornar a Consciência mais Consciência do que Ela já é.
Nada pode torná-lo mais Você do que Você já é, porque Isso não requer qualificações. Você não precisa se assentar na postura de lótus, visualizando uma luz azul, e respirar de uma forma diferente, nem cantar o Om; não precisa imaginar um fogo subindo pela coluna, nem precisa de cerimônias, dietas, de uma determinada conduta sexual. Tudo isso foi criado pela espiritualidade, nessa presunção básica de que existe alguém capaz de deixar de ser alguém, de que existe alguém que pode se encontrar com Deus, ou com a Verdade. No entanto, se a Verdade é a Verdade, Ela nunca deixa de ser a Verdade; Ela não vai se tornar Isso algum dia. Assim, se você é Consciência, Você nunca deixou de ser Consciência e não vai se tornar Consciência um dia.
Então, não é uma questão de ensino; é uma questão de visão pura e direta de sua Essencial Natureza, de sua Real Natureza, independentemente da presença da figura do Guru ou não. Dentro do jogo, é possível a presença do Guru ou não. Você é Consciência! Em qualquer forma que você apareça dentro desse jogo, como qualquer personagem, você jamais deixa de ser Consciência, Presença, Ser, Verdade. Quer você seja vegano, vegetariano, macrobiótico, “comedor de sol” (não sei como é que se denomina esse pessoal que vive de luz solar), quer seja celibatário ou não, quer seja negro ou branco, com olhos azuis, pretos ou castanhos, está tudo bem. Esses são personagens dentro desse teatro, peças dentro desse jogo, e nada disso ajuda ou atrapalha o reconhecimento da Verdade do que Você é, porque nada disso é Você.
Você vai ao Guru e Ele lhe comunica uma certa Presença, uma certa Graça, uma certa Energia, mas, na verdade, isso tudo já é Você; essa “transmissão” é somente um jogo. Nesta Realização, fica clara a Vida como Ela é. Isso é a Liberdade da ilusão da identificação com o senso de um “eu” psicológico, é o fim dessa ilusão, é a Vida como Ela se mostra aqui e agora, sem qualquer esforço, conflito, medo. Isso não acaba com a vida corpórea, com os movimentos desse personagem dentro desse teatro – movimento físico de ir ao banco pagar a conta de luz, de acessar a internet, de visitar o banheiro… Isso é, simplesmente, a própria Vida como um personagem, nesse jogo de aparências.
Assim, é impossível você amar outra coisa a não ser a Si mesmo, porque Você é Consciência – por isso essa procura de Si mesmo, desse Amor por Si próprio, dessa Verdade que Você é. Sua procura pela Felicidade pode ter vários estágios de equívocos, mas isso tudo é parte do jogo, e você terminará descobrindo que está sozinho para descobrir a Si próprio. Então, essa aparição do Guru, dentro desse jogo, é a aparição da Verdade, que Você é, para Si mesma. Esse é o Amor que você tem pelo Guru. Você já teve muitos outros amores, já teve vários equívocos, e eu diria que o Guru é o último Amor, ou é a última estação, parada obrigatória, final da linha… O trem não pode prosseguir mais.