Algumas pessoas estão buscando experiências para depois descrevê-las. Mas, tudo o que estão encontrando são experiências, ainda, dentro da mente. Não é assim? Em qualquer experiência que possa ter, você ainda estará lá presente para depois relatar o que se passou.
As pessoas se julgam muito evoluídas, bastante especiais, porque conseguem obter experiências e falar sobre elas depois. Mas, essas experiências ainda fazem parte do conhecido, estão dentro do tempo e do espaço, ainda fazem parte da mente. Então, o “eu” se apropria dessas experiências e descreve um estado. A Verdade, a Consciência, a Liberação, não é um estado.
Em geral, as pessoas não gostam de ouvir isso. Você pode adquirir um estado diferenciado, sublime, através de práticas de meditação, de jejuns prolongados ou de muitas horas cantando mantras. Isso pode gerar alguma alteração interna, trazer um bem-estar espiritual. Então, a mente pode se aquietar, haver um certo silêncio, ou mesmo um estado exaltado interno – alguns chamam isso de “estado alterado de consciência” –, mas tudo que pode ser alterado está dentro do campo da mente. A Consciência não conhece nenhum estado, não sofre nenhuma alteração.
Então, você vivencia esse estado alterado, mas, depois, volta a ser a mesma pessoa. Não importa o quão refinada, o quão profunda, o quão extraordinária seja a experiência, não dá para você ficar nela para sempre. Por que não? Porque não é natural! É algo que vem através de um trabalho, de uma provocação, de uma intensificação, e que diminui quando esse trabalho, essa intensificação e essa provocação diminuem.
Estou dizendo isso porque as pessoas escrevem para mim e perguntam se estão evoluindo, ou se o que experimentaram diretamente foi a Iluminação, algo que depois viram indo embora. Elas querem uma confirmação minha! Então, elas falam da kundalini subindo e descendo, etc. A mente tem criado esse tipo de posicionamento.
Liberação não é algo para a pessoa, não há nada que “você” possa fazer ou, através de alguma experiência psicológica, emocional ou espiritual, obter. Não importa o quão extasiante seja essa experiência. Uma experiência espiritual, psicológica ou emocional é apenas uma experiência pessoal, é onde a “pessoa” aparece, ou seja, é onde a ilusão aparece, porque não existem “pessoas”. Assim sendo, essas experiências também fazem parte dessa ilusão.
Essa Liberação não requer “você”. Isso é a ausência da ilusão desse “você”, com tudo que “ele” representa: esforço, experiências, sensações, visões, intuições, e assim por diante. As pessoas passam por isso e logo “se iluminam”, e depois começam a dizer para outras como também é fácil a “iluminação”.
A Liberação é, simplesmente, o fim da ilusão de alguém presente aqui e agora. Não tem nada de luzes, raios, trovões, relâmpagos, sons de outro mundo, badalar de sinos, anjos cantando com suas harpas ou poderes. Não existe localização para essa Consciência, Ela não está “lá”, depois de “oito passos”. Existe somente Liberação! É a Liberação do sentido do “eu”, aqui e agora! Não tem trombetas tocando, nenhum alarde. Essa Liberação é a perfeita Liberdade de todo o fardo, de todo o medo, desejo, escolha… é essa maravilhosa Liberdade de ver que não existe escolha, porque não há pessoa, não há separação, não há nada fora do lugar, nada para acontecer.
Eu rio disso, porque é realmente muito engraçada a expectativa que a mente tem do futuro, de um grande episódio, de um grande acontecimento, em que ela sairá disso tudo muito rica, poderosa, forte, grande! Não existe nada disso!
Liberação é você em seu Estado Natural, livre do sentido da história que cerca e que dá valor a esse falso “eu” e ao que ele valoriza tanto como algo real: bens móveis, imóveis, família, realizações, prestígio, fama, poder, e, finalmente, esse “eu” iluminado, forte, grande, poderoso e especial.
Nessa Liberação, fica claro que tudo é simples e natural. Uma aparente história continua, mas não é real. É uma história para quem quiser contá-la, mas você não tem mais interesse nisso. Para você, é só uma aparente história, mas, para aquele que acredita estar presente, é uma história bastante real.