Isto requer uma nova atitude

O seu hábito de acompanhar uma fala através de um fundo de conhecimento é algo inevitável. Todo seu hábito é guardar informações. Aprender, para nós, é acumular conhecimento, experiência, e tudo que um professor faz é tentar comunicar o seu conhecimento, sua experiência. Assim, ao chegar em Satsang, tudo que você sabe, até então, é se aproximar deste tema, deste assunto, da mesma forma habitual. Em geral, o professor provê uma perspectiva, uma formulação intelectual; essa é a sua explanação. Mas, aqui, nós temos outra coisa, uma nova aproximação.

É possível que a compreensão intelectual, o entendimento verbal, lógico, lhe dê uma atitude, aparentemente, correta. Isso pode ser válido para qualquer outro tipo de assunto, menos para este assunto aqui. Então, a compreensão aqui não pode se dar dentro do intelecto. Isto requer uma nova atitude.

Aqui, você não se torna consciente de estar consciente. Então, não é uma matéria de aula. A consciência da Consciência vem da Consciência. Você não pode atingir Isso através do intelecto. Não é uma questão de vontade, de intelectualidade, de habilidade com o conhecimento. Esse “eu”, o “eu” relativo, nunca pode alcançar Isso, porque ele é apenas um pensamento. Esse “eu” aplica sua suposta vontade para saber coisas, mas não para tomar consciência da Verdade.

O pensamento é incompetente, impotente, incapaz. Uma vez que você consiga ver que o pensamento é incapaz de alcançar Aquilo que está além dele – esse “Estado”, que é o “não Estado”, a Consciência Nela mesma – então, você para de confiar nele.

Vocês ainda carregam problemas porque acreditam em soluções. Os problemas são criados pelo pensamento e você quer resolvê-los com o pensamento.

Nós podemos falar dessa Consciência como um tipo de “Presença de fundo”, como algo por detrás de todo conhecimento, de toda experiência e pensamento, mas, essa imagem não é perfeita. Isso é como se estivéssemos tentando dar uma direção a essa Consciência, como se acreditássemos que Ela está por detrás de tudo isso, por detrás da experiência, do conhecimento, do pensamento, mas, na verdade, essa Consciência é algo semelhante ao espaço de uma sala, onde você vê todos os móveis presentes, mas é esse espaço que preenche toda parte. Os móveis podem ser mudados; o espaço, não. O espaço não está atrás, não está à frente, não está do lado… O espaço não muda, enquanto que os móveis e cada objeto nessa sala, nesse espaço, podem ser mudados.

Assim, esse Espaço não só comporta conhecimento, experiência, pensamento, como também, sensações, percepções, emoções, sentimentos, desejos, medos… Tudo isso está mudando o tempo todo, mas essa Consciência está em uma Realidade não dimensional; Ela não é tocada por essas mudanças. Quanto mais você permanece alimentando a ilusão de que está mudando – porque esses objetos estão mudando –, mais se mantém como um desses objetos.

Então, se as emoções, as percepções, os pensamentos, desejos e medos mudam e você continua confiando neles, você se mantém nesse hábito de estar preso a uma experiência, a um conhecimento, a um pensamento. Você faz isso quando se confunde, quando acredita ser uma pessoa.

Quando você acredita ser uma pessoa, um homem, uma mulher ou um jovem, confunde-se com um marido, com uma esposa, um filho, uma mãe, um pai… Você vai, inevitavelmente, buscar preencher essa crença, essa imagem. Então, você vai bancar isso, vai “colocar crédito nessa conta”, e quanto mais se autoafirmar como avó, avô, pai, marido, filho, mais prisioneiro dessa autoimagem se tornará.

Uma coisa é como as pessoas estão vendo você, outra coisa é como você se vê como pessoa. São duas coisas bem distintas. Não há nenhum problema se as pessoas projetam em você o que elas podem projetar ou acreditam estar vendo. Talvez isso seja um problema para elas, não para você. O problema surge quando você se vê a partir de uma autoimagem, tentando preencher toda expectativa desse falso “eu” numa relação com outros, com o mundo, com a vida. Então, você está numa complicação. É quando você dá crédito ou banca essa ilusão; é quando você quer ser um homem, uma mulher, um pai, uma mãe, alguém para alguém, preencher todos esses atributos.

Como você procede, como se move, como aparece, como responde, como se posiciona, para ele ou para ela… Esse é o problema! Então, esse “Você” Real não aparece, apenas a ilusão de uma autoimagem, esperando do mundo, de suas relações, alguma forma de satisfação e preenchimento. Isso, basicamente, é sofrimento: esperar algo de alguém, esperar se sentir bem, tentando preencher todos “seus atributos”.

Uma vez que você veja a si mesmo como “alguém”, estará olhando para o mundo e aguardando muito dos outros, daqueles que você considera “alguém” para você também. Mas, quando não há mais essa imagem, esse modelo para seguir, você se encontra completamente aberto a essa totalidade da Vida, assim como Ela se apresenta. E isso é tão limpo quanto o céu, tão espaçoso quanto o espaço sideral! Assim, surge essa espontaneidade, essa leveza de não carregar imagem de si mesmo para lugar nenhum e não esperar que essa imagem seja preenchida, reconhecida, apreciada, amada… Então, você está Livre!

Em cada momento, em cada situação, em cada instante surgindo, o que quer que esteja aparecendo, quando não há essa relação equivocada com um desses objetos nesse “Espaço”, nessa “Sala”, você não se confunde mais com o pensamento, com o sentimento, com a emoção, com a sensação, com a experiência, com nada disso! Toda essa tensão e medo desaparecem. Então, você passa a viver de uma forma completamente diferente, nesse contato com algo fora da mente. É isso que eu tenho chamado de Meditação… Meditação no viver, momento a momento.

Todos vocês conseguem acompanhar isso? Conseguem perceber a beleza disso?

Quando você vive nessa Consciência atemporal, todo relacionamento está em uma nova ordem, em uma maneira totalmente diferente. Então, você pode desfrutar dessa Paz, dessa Liberdade, desse Amor, dessa Felicidade, de puramente Ser… Ser esse Espaço, esse “não conflito”, esse “não medo”, esse “não desejo”, esse “não problema”.

O que estou dizendo é que quando você para – e essa parada é honesta, verdadeira, para valer! – todo conhecimento, experiência e pensamento param de ser importantes, e você descobre que pode viver sem isso.

Até ontem você estava viciado em pensar, em conhecer, em experimentar e, agora, você desistiu disso, e não vai sentir nenhuma falta! Você descobre o quanto a confiança em tudo isso era a causa de todos os conflitos imaginários de sua existência, com os assim chamados “marido”, “esposa”, “filhos”, “família”, porque, na verdade, você estava em conflito com você mesmo. Esse “você mesmo” era uma imagem que você fazia de si próprio.

Então, essa autoimagem perde a valorização e, de imediato, você para de valorizar a imagem de quem quer que esteja à sua volta. Ninguém é mais bonito, mais poderoso ou pode lhe causar inveja, ciúmes, apegos, porque você morreu, essa autoimagem desapareceu! Repare que estamos tratando com você de algo fascinante, algo maravilhoso, essencial! Sempre que essa autoimagem surgia, o problema também surgia, e, agora, isso acabou!

16 de novembro de 2018
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