Eu sei que é bastante desafiador ouvir sobre a possibilidade de ir além do sofrimento, de toda confusão que é a vida humana, com seus diversos problemas, dilemas e conflitos. Para a grande maioria, o modelo é o medo e o desejo, esse estado mental caótico de profunda desordem. Dessa forma, a expressão “eu” está sempre atrelada a um estado confuso de ser, de se posicionar na vida.
Toda sua percepção de vida é baseada na noção de tempo e espaço, uma coisa completamente produzida pela mente. A sua vida se desenrola dentro dessa programação. Esse indivíduo, esse “eu”, sempre surge, em determinada situação, como uma suposta realidade dentro desse contexto de tempo e espaço. Em outras palavras, quando você diz “eu”, está dentro de uma imaginação: “eu penso”, “eu caminho”, “eu faço”, “eu sinto”, “eu não posso”, “eu posso”… Mas, a verdade é que você nunca sabe do que se trata essa afirmação, quando usa esse pronome, dentro de qualquer um desses contextos.
Esse “eu” é um objeto imaginário, criado pelo pensamento. Ele é exteriorizado, nesse tempo e espaço, como se fosse um real ser. Então, quando você usa a expressão “eu estou pensando sobre isso” ou “eu farei isso amanhã”, não consegue, claramente, perceber que é só uma imaginação, que não existe nenhum “eu”. Não existe ninguém para pensar, ninguém para sentir, ninguém para fazer, porque não há alguém presente nisso. Esse “eu” é só a ideia de alguém presente. Essa “pessoa”, esse “eu”, esse “ego”, continuamente, está projetando situações. Esse é um movimento imaginário, uma busca constante de segurança.
Assim, cada uma dessas frases, que parecem refletir algum tipo de ação, estão sempre atreladas aos sentidos do corpo e a esses pensamentos, nessa, assim chamada, “mente”. Cada pensamento está atrelado aos cinco sentidos: tato, visão, olfato, paladar, audição. Cada pensamento está “linkado” a uma específica imagem, que é aquilo que você chama de “eu”. Mas, há uma Realidade além de tudo isso, uma Realidade presente e muito além do pensamento “linkado” à mente, muito além dos sentidos “linkados” à experiência do corpo.
Você está aqui, nesse encontro, para descobrir a Natureza Essencial de si mesmo, Aquilo que representa seu Verdadeiro Ser, sua Verdadeira Natureza Divina. Isso é algo possível de ser descoberto, de ser constatado, mas você precisa se tornar receptivo a tudo que se passa aí dentro, nesse mecanismo, nesse organismo humano.
Você considera esse aparato corpo-mente como sendo seu Ser, sua Verdadeira Natureza, mas, na realidade, isso apenas faz parte desse sonho, do que você considera a vida nesse mundo. Quando você se torna receptivo a toda essa percepção de corpo-mente, sentidos, pensamentos, sensações, tem a oportunidade de ver a Verdade se desdobrar, se revelar completamente diante de você.
Somente então você está aberto a tudo à sua volta, a esse mundo em torno de você. Essa abertura é a aceitação de uma Realidade que ultrapassa toda experiência de tempo e espaço, onde o corpo, a mente e o mundo se desdobram, aparecem. Assim, você pode “encontrar” a si mesmo, sem mais estar preso e dependente à percepção de identidade separada, de pessoa, de ser o agente. Esse é um processo que acontece pela Meditação, quando você se torna mais e mais íntimo de Si mesmo, de seu próprio Ser, indo além de todos esses conflitos e confusões, de toda essa desordem, de toda essa noção completamente equivocada a respeito de quem é você.
O que pode revelar tudo isso se não essa receptividade, essa abertura, essa grande sensibilidade à Verdade, à Verdade do Silêncio, à Verdade da ausência do medo e do desejo? Quando você vai se tornando íntimo de Si mesmo, você começa a perceber tudo de uma forma completamente nova. É curioso dizer isso, porque, geralmente, você acredita que está ouvindo, vendo, sentindo a vida, mas isso é completamente falso, é algo distorcido, porque tudo que você está ouvindo, vendo e sentindo se encontra dentro de seus próprios preconceitos, de suas próprias formulações, de seu próprio condicionamento. Não existe um contato direto com a Realidade, com a Vida como Ela é, porque você não se conhece. Então, você vive escravo de suas autossugestões, em uma relação imaginária com tudo à sua volta, na ilusão de ser alguém dentro do tempo e do espaço.
É necessário Acordar, ser Livre, conhecer a Alegria. A proposta desses encontros é o reconhecimento da Verdadeira Felicidade, Aquela que reside no que eu poderia chamar de “Verdadeiro Autoconhecimento”, que é o Verdadeiro Conhecimento do mundo, da Vida, o sentido real de Ser, da sua Existência, a Realização de Deus.
Aquilo que vocês têm conhecido, até hoje, está dentro do movimento da mente. É necessário descobrir a Verdade do seu Ser, então, essa nova aproximação de ouvir, ver e sentir torna-se algo multidimensional, algo totalmente aberto, livre de todos os atributos, de toda essa relação de imagens, de toda forma de prisão. O seu Ser, a sua Natureza Real, esse “Estado”, revela o Silêncio. Então, os estados de vigília, sonho e sono profundo (comuns ao corpo), acontecem de uma forma bastante natural. Eu chamo de “natural” esse Estado livre da ilusão do desejo e do medo, livre de uma falsa identidade presente nesses estados de vigília, sonho e sono profundo, porque você, em seu Ser, está além deles.