Este é um momento único. Nós estamos investigando a natureza ilusória do pensador, do “eu”, dessa egoidentidade, dessa “pessoa”. Temos aqui um momento de observação disso verbalmente. Além disso, temos a oportunidade de estar presencialmente nessa atmosfera de pura e real Presença Divina, que é onde o trabalho se torna possível.
A ideia central é de que o pensamento é algo que pertence a “alguém”, assim como a experiência, sempre com uma referência no passado, na memória, no que é conhecido. Todos os seus pensamentos e experiências têm sempre a ideia de um “eu” presente, tendo o passado como referência.
Vamos investigar a ilusão disso, desse experimentador, pensador…
Você nunca fala de uma experiência acontecendo neste momento, mas somente de experiências do passado; nunca fala de pensamentos deste momento, porque todos eles têm como referência, sempre, o passado, ou seja, são memórias, lembranças. Você sempre fala do que aconteceu, seja há um minuto, uma hora ou dez anos. Então, toda a sua experiência é ligada a um suposto “eu” que viveu algo, do qual acredita estar se recordando neste instante. Não é isso mesmo? Assim sendo, a referência é sempre o passado. Pensamento é memória, experiência é memória, e esse “eu” é uma ideia “linkada” a pensamentos e experiências. Acompanham isso?
Se não há pensamento, não há experiência, e, sem o “eu”, não há pensamento. Assim, nós temos três “aparições” que surgem sempre juntas: o pensamento, que é memória; a experiência, que é relatada pelo pensamento; e um suposto “eu”, o qual teria vivido isso. Agora mesmo você não duvidaria que está passando por uma experiência. Depois, o pensamento vai tratar desta experiência, como se, de fato, ela tivesse acontecido para “alguém”. Ou seja, o pensamento, que é memória, vai trazer essa imagem e dentro dela haverá a ideia de um “eu” que passou por isso.
Todos acompanham isso?
O que eu tenho para lhe dizer é que tudo isso tem somente uma referência baseada no pensamento, que é memória. Então, nós temos o “eu”, a experiência e quem “fala” sobre isso, que é o pensamento. O “eu” é o sujeito, a experiência é o objeto e o pensamento é aquele que conta a história dessa relação entre sujeito e objeto. Reparem como é interessante isso!
O pensamento, imaginariamente, separa sujeito e objeto, o “eu” e a experiência. Então, você carrega sempre essa ilusão de que você é esse “eu”, que passa por experiências, que pensa e experimenta. Nós estamos diante de algo fascinantemente simples, mas, curiosamente, você não consegue ver isso sozinho.
O que estou dizendo é que você, fundamentalmente, não é sujeito nem objeto. Essa relação entre sujeito e objeto é uma imaginação do pensamento e, fundamentalmente, você está além de tudo isso. A questão é que você carrega um condicionamento muito profundo, uma coisa muito enraizada aí dentro, que é essa confiança de que você é o “experimentador”, o “pensador”, “alguém” dentro do corpo, na experiência do mundo. Até acredita que nasceu! Seu estado de sono, de sonho, de imaginação, tem raízes muito profundas. Fundamentalmente, você nunca nasceu, nunca experimentou.
Alguns dizem que você é um ser divino numa experiência humana, mas isso não é verdade! Não existe nenhum experimentador dentro desse sonho, pois o que nós temos é apenas o sonho. Se pode estar inteiramente cônscio disso, então, você não é o experimentador do sonho; está além dele. Se não pode, você está se confundindo com a experiência, portanto, preso dentro dessa crença, desse condicionamento de “ser uma pessoa”. Assim, a própria ideia de se alcançar algo ainda pertence à ilusão do experimentador. Não existe nada que você possa alcançar! Essa é uma ideia profundamente enraizada, e é por isso que as pessoas vivem buscando experiências.
Satsang é o fim da experiência, da ilusão do experimentador, da ilusão da separação entre sujeito e objeto, portanto, é o fim do pensamento. As pessoas passam por alguma experiência mística, esotérica, espiritual, e acreditam que alcançaram a Iluminação. A Iluminação não é um objeto, então não pode ser uma experiência para um sujeito; isso ainda faz parte do pensamento. Enquanto o sentido de dualidade (sujeito-objeto) está presente, não existe Real Despertar, Real Iluminação. Iluminação é o fim da experiência e do pensamento, do experimentador e do pensador, do sujeito e do objeto. Somente, então, existe Real Autorrealização.
Acompanhe isso com cuidado… Consegue acompanhar?
O corpo, os sentidos, a mente, todos esses estados, experiências e pensamentos são coisas que vêm e vão. Fundamentalmente, você está além de tudo isso. Todo estado vem e vai, mas você é essa Presença atemporal, é essa Suprema Realidade, Alegria, Amor, Verdade, Silêncio e Paz. Você é Deus! Repare que estou colocando para você a importância dessa Realidade, além de sujeito e objeto, além dessa experiência-pensamento-eu.
Essa Realidade não pertence ao mundo das realizações, não faz parte do mundo das aquisições, dos desejos, ou seja, não faz parte desse mundo da mente. O que Você é não pode ser experimentado ou pensado, não pertence a essa relação de sujeito e objeto. Assim, é necessário deixar todo desejo por realizações, aquisições, por obter, alcançar alguma coisa. Você vê isso?
Então, quando você descobre o que é Meditação, pode descobrir O que, fundamentalmente, Você é – essa Realidade que está além da mente.