A Realização não é algo que possa ser alcançado. Chamamos de “Realização”, mas, na verdade, é uma questão, antes de tudo, de constatação, porque não é uma conquista. Essa Realização é algo possível através de um trabalho real.
Na vida, tudo que você consegue decorre de uma conquista sua, mas, aqui, não estamos tratando de algo assim. A mente tem tentado transformar essa Constatação em um ato de conquista, em um ato de realização (no sentido comum da palavra), mas isso não é possível. As pessoas têm criado técnicas para aquietar e silenciar a mente. Hoje, “meditação” é uma palavra da moda.
A própria mente cria diversas técnicas para aquietar a mente, com o objetivo dessa “conquista” do Despertar, da Iluminação, que é a Realização de Deus. No entanto, a Real Meditação não é um trabalho para conquistar Isso; é algo que pertence ao incognoscível, ao desconhecido. Assim sendo, a própria Meditação é a chave dessa Constatação.
A Real Meditação acontece sem um objetivo. Toda técnica está sempre dentro de um objetivo, como o de silenciar a mente, então, ela perde sua agilidade, sua naturalidade, sua sutileza, permanecendo presa a um modelo, a algum tipo de objeto.
As pessoas se assentam e acreditam que existe um meditador ali. O objetivo delas, agora, é livrar-se da mente. Isso não pode ser a Natural Meditação, a Real Meditação, porque a mente perde a sua agilidade, sua sutileza natural e deixa de estar aberta, o que torna impossível a observação do seu movimento. É por isso que tenho dito que Meditação é algo que pertence ao desconhecido, algo que não está preso a um modelo para o alcance de objetivos.
Meditação é uma arte extraordinária, algo fora do ordinário, do comum, da mente e seus projetos, algo completamente diferente da ideia de um meditador buscando livrar-se dos pensamentos. Essa direta e pura observação não é a fixação em um objetivo. Quando essa energia, essa natural sutileza da observação, está presente, há uma grande agilidade natural de Presença, e isso traz essa Consciência.
Portanto, não é uma técnica, uma prática ou um exercício, nem há um objetivo – não se pretende silenciar ou aquietar a mente, porque, na verdade, não existe esse “meditador”. Quanto mais você olha, mais fica claro que não existe alguém presente como meditador. O que estou dizendo é que você, fundamentalmente, não é nada, não é real como uma entidade presente, capaz de aquietar ou silenciar a mente. A mente silenciada ou aquietada é uma ilusão semelhante à ideia de um meditador fazendo isso, porque, essencialmente, você não é nada. Acontece que você não está ciente disto, então, projeta uma energia nessa busca. É aqui que parte dessa Meditação acontece com uma clara Autoinvestigação.
Eu nunca separo Meditação de Autoinvestigação. Isso é impossível! Se há Real Meditação, a Autoinvestigação está presente, e quando há Autoinvestigação, você descobre que o meditador não existe e que toda atividade na direção do Despertar é completamente sem sentido. Isso não é um estado para se alcançar e não tem alguém que possa alcançar Isso, porque é algo incognoscível, é o Desconhecido, é o Inominável. Autoinvestigação é algo acontecendo aqui e agora, e Nela está essa Observação que se desidentifica dos pensamentos.
Essa agilidade natural é Meditação, em que não existe o sujeito, o meditador, tentando se livrar dos pensamentos (que são os objetos). Não existe essa separação! O sujeito é nada, o pensamento é nada. Há apenas essa Consciência, essa Unicidade, essa não separação, essa não dualidade. Não há meditador, então, não existe nenhuma verdade para ser encontrada. A Verdade é algo presente sendo constatado; não é algo sendo encontrado por ele ou ela, por aquele que exercita uma prática.
Toda prática, aqui, é completamente sem sentido, é algo mecânico, ainda dentro do campo da ilusão, ainda é parte da autoprojeção do falso “eu”, dessa energia da busca. É exatamente isso que, nestes encontros, eu tento comunicar a você. Ninguém, aqui, encontrará a Verdade, porque, fundamentalmente, você não é nada. A Verdade está presente, mas você não está. O meditador, o buscador, não existe, portanto, esse sentido de procura e de busca é uma ilusão.
O Satguru é aquele que incorpora a qualidade do fim da busca. Por isso a presença do Satguru, de um Mestre vivo, é tão importante. O que ele faz? Como a Verdade não pode ser dada, nem transmitida, porque é a sua Verdadeira Natureza, o Satguru ajuda o buscador a parar com a busca. Como o Satguru incorpora essa qualidade, que é a Verdade que o buscador está procurando de uma forma equivocada, ele quebra, desfaz esse movimento.
Só quando a busca termina, quando não há mais esse movimento da mente, quando, em razão da Presença da Graça, da Verdade, que é a qualidade do Ser existente no Mestre, o devoto, de uma forma direta, se depara com ele mesmo, com seu próprio Ser. Então, esse movimento de conquista, também termina.
A Autoinvestigação é a própria Meditação; na Autoinvestigação, a Real Meditação se revela. Então, revela-se o Incognoscível, o Desconhecido, Aquilo que está além da mente, além da ilusão do meditador, é quando termina a separação entre o discípulo e o seu Guru, entre o devoto e Deus. Quando há a rendição e a entrega dessa ilusão, Aquilo que está presente é constatado como a única Realidade, a única Verdade.
Portanto, compreendam que Realização de Deus não é uma conquista, mas uma rendição à Verdade presente… à Verdade de que, fundamentalmente, você é nada!