O propósito, aqui, é ficarmos com uma base muito simples: não existe nenhuma “pessoa”. Tudo o que o meu Mestre me mostrou é o que eu compartilho com você dentro desses encontros. Ele me mostrou que todos os problemas de Marcos Gualberto eram imaginários e que buscar solução para eles era uma grande ilusão. É isso que nós tratamos com você, sempre, nesse espaço chamado Satsang.
Não há “pessoa”, então, não há problema. Assim, quando eu escuto a questão que você me traz, a “sua questão”, escuto a resposta também. A resposta para todas as questões está além da mente, porque é onde está o fim da ilusão da “pessoa”; onde não há “pessoa”, não há problema.
Certas questões estão na sua vida apenas como acontecimentos dentro dessa Divina Vontade. Tudo é somente a Vontade de Deus e não existe nenhuma “pessoa” envolvida nisso. Quando há a compreensão de que a resposta para todos os problemas está no fim da ilusão da “pessoa”, você não se preocupa mais em resolver nada, ou seja, não vai mais se preocupar em consertar o mundo. Então, tudo o que meu Mestre me mostrou foi que não havia nenhum Marcos Gualberto, com os seus imaginários problemas, e tive que entrar fundo nisso para me certificar dessa Verdade.
Portanto, o que você faz nesses encontros é descobrir que “você” não está aí! Isso é algo que, a princípio, soa muito louco, muito doido.
Meu Mestre me mostrou que a vida inteira acontece como um misterioso movimento de Deus. Há uma Realidade presente, que é essa Consciência impessoal. Ela permeia e está presente em tudo: na chamada “vida animada” e na matéria sem vida. Essa Consciência é a única Realidade presente em toda manifestação. Eu tinha que descobrir por mim mesmo a verdade Disso, além do corpo e da mente e das experiências de um “sujeito” chamado Marcos Gualberto.
Hoje, eu só apareço como um Mestre para aquele que quer investigar profundamente essa questão – de que ele, ou ela, já é essa Consciência, essa Realidade, a Suprema Verdade. Na Índia, eles têm uma palavra para Isso, que está nas escrituras indianas: advaita – a não separação, a não dualidade; há somente Um.
Estou citando isso, mas, no meu caso particular, eu nunca tinha ouvido tal palavra quando esta Compreensão chegou. Então, você não precisa ir aos livros, nem estudar a tradição, a cultura indiana. Essa é a Natureza do Ser e a constatação Disso é resultado de uma investigação e de uma rendição à Verdade. Nesse sentido, o que o Guru faz é apenas dizer: “Olhe para você. Vá além dessa identificação com o corpo, a mente e as experiências”. Então, vá além dessa ilusão da “pessoa” com os “seus problemas”.
O Guru diz: “Você é essa Consciência, essa Realidade e a Vida é Isso”. Ele diz que você não é os pensamentos, os sentimentos, as emoções, as sensações, as percepções, a história; que suas relações estão todas baseadas em imagens criadas pelo pensamento. Você faz uma imagem de si mesmo e a imagem que você tem da vida está baseada nessa autoimagem. Assim, o que eu tenho para lhe dizer é que toda sua relação com o mundo está baseada na ilusão, na crença, nessa ideia de que “você” está aí como uma entidade separada.
Assusta ouvir isso?
Entre dois pensamentos, duas sensações, duas percepções sensoriais, essa Consciência permanece sem movimento, sem mudança. Há alguns momentos, na sua vida, em que o pensamento desaparece por completo; não há nenhum pensamento, no entanto, há uma Consciência presente que não tem história.
Eu gosto muito de exemplificar isso quando pergunto qual é a sua idade. Antes de perguntar isso, você não tinha nenhuma idade, não havia nenhuma identificação com o corpo. Mas, quando eu pergunto a sua idade, você acredita que está no corpo e vai buscar na memória quantos anos tem esse corpo. Nesse momento, você já entrou nessa contração da ilusão de uma entidade presente na experiência “eu sou o corpo”. Então, essa Consciência, que é sem cor, sem idade, sem nome, sem tempo, se contrai e se identifica dessa forma.
Ficou claro o exemplo?
Eu pergunto se você é mãe e lá vai você buscar uma criança. Porém, antes da pergunta, não havia nenhuma ideia de ser “mãe”. Essa Consciência está presente, sempre esteve, então, você permanece sem ser o nome, a história, o corpo, a “pessoa”, esse personagem; permanece como essa suprema e indefinível Consciência. Quando você toma a si mesmo como sendo “alguém”, todos os seus relacionamentos passam a ser de um objeto para outro. Assim, você é um homem para uma mulher, uma mãe para o filho, uma personalidade para outra, e, dessa forma, não há nenhuma possibilidade de Amor, de verdadeira comunicação, pois não há Deus, não há Verdade. Esse mundo de nomes e formas é somente o resultado de atividades mentais, que, na Índia, chamam de avidia.
Você está se identificando com aquilo que a mente, o pensamento, as crenças estão produzindo – isso é imaginação. Aí está a “pessoa” e o seu problema, o ego, o senso de um “eu”, que acredita que nasceu e vai morrer, que deixará uma viúva para outro namorar, uma casa para o próximo marido da esposa, então, o sofrimento acontece. Quando o ego se lembra de tudo o que construiu e que vai deixar para outro, ele sofre. Isso é apego à imaginação de ser “alguém” possuindo coisas. Percebam como é simples essa coisa toda. Não existe fim para o sofrimento, enquanto a ilusão do “eu”, com a ideia do “meu”, estiver presente.
E agora? O que vocês vão fazer com isso?
Ou você investiga a natureza da ilusão (toda ilusão consiste nesse conjunto de pensamentos, que aparecem o tempo todo dentro da sua cabeça), a descarta completamente e descobre, assim, a verdade sobre esse fundo de condicionamento, ou você morre desse jeito. Então, se você descobre a verdade sobre a ilusão, a ilusão termina. Quando o falso é visto como falso, ele desaparece, não está mais lá, e, quando isso acontece, o apego e o medo desaparecem, e o personagem, com um nome e uma história, já não tem mais importância. Assim, não existe mais ignorância, avidia, e aí está a Sabedoria, a Verdade.