A Existência Pura

Esta é, de fato, uma bela oportunidade. Estamos diante de uma nova espécie de conhecimento, de experiência. Na verdade, a palavra “conhecimento” e “experiência” não são as mais adequadas. Aquilo que nós temos por conhecimento ou experiência é algo sempre atrelado a alguém ou a algo que percebe, que conhece ou que experimenta, enquanto que, nesse contato que temos aqui, nesse espaço de investigação, estamos descobrindo uma qualidade nova de Conhecimento, de Experiência, sem a existência de qualquer sujeito. Assim, trata-se do Conhecimento Puro ou Experiência Pura, sem um conhecedor ou experienciador.

Estamos tratando da Natureza Primordial de todas as coisas. Os Sábios chamam Isso de Brahman, “algo” que está além do conhecimento e da ignorância, além da experiência e da não experiência, do experimentador e sua experiência. Hoje em dia, temos muitos livros trazendo uma aproximação dessa Realidade Última, de Brahman, Deus, Consciência ou Suprema Realidade. Mas, tudo que você pode fazer com esses livros é abarrotar a memória de informações e o intelecto de certa habilidade para lidar com palavras sobre esse assunto. Aqui, não temos interesse nisso.

A primeira coisa, aqui, é limpar esse “terreno”, porque a natureza desse Conhecimento ou dessa Experiência de Brahman, de Deus, dessa Realidade, não é objeto de estudo, não é um tópico para ser estudado, você não pode estudar e aprender algo sobre Isso. É possível mergulhar, desaparecer Nisso, assumir esse Conhecimento ou essa Experiência. Reparem que estamos falando de uma Experiência e de um Conhecimento de qualidade totalmente diferente daquela que a mente conhece.

Meu Mestre dizia que apenas Deus pode conhecer e revelar Deus. Então, o conhecedor de Brahman, o conhecedor de Deus, é Deus. A Experiência de Brahman, de Deus, é uma Experiência de Deus, em Deus e para Deus. Compreendam a beleza disso: não é para o intelecto, não é para o observador, não é para o pensador, não é para o experimentador. O pensador carrega a ilusão de que o pensamento é algo separado dele – ele é o sujeito e o pensamento o objeto. O experimentador carrega a ilusão de ser aquele que experimenta, e a experiência é o seu objeto. O observador faz o mesmo: ele tem a ilusão de estar separado daquilo que é observado. Essa separação é apenas um conceito, uma crença, ainda do pensamento.

Em outras palavras: tudo que você vive como uma entidade separada, uma pessoa, que é o que você acredita ser, é uma ilusão. Aquele que acredita ser uma pessoa foi apanhado pela imaginação. Ele é a própria imaginação produzindo uma fantasia – a fantasia de ser uma entidade separada. Toda a sua vida está assentada nessa ilusão. É necessário discernir a Verdade da ilusão desse falso pensador, desse falso observador, desse falso experimentador, desse falso “eu”. Essa ilusão criou a ideia (que também é uma crença) de estar vivendo uma experiência particular, pessoal, humana, dentro do corpo. Isso tudo é um pacote de pensamentos, um pacote de imagens criadas pelo pensamento, pura imaginação.

Agora mesmo, você imagina que está ouvindo [ou lendo] essa fala e que há alguém lhe dizendo algo, mas isso não é verdade. Não tem ninguém ouvindo coisa alguma, isso é só um jogo, uma dança de palavras sem qualquer significado real. Você acompanha isso? É muito estranho?

A mente tem projetado todo esse pacote de pensamentos, essa multiplicidade de formas, nomes, imagens, experiências. Então, parece que há muita coisa acontecendo para uma multidão. Nós falamos de sete bilhões de pessoas em um planeta, cada uma com uma alma, cada uma mantendo “consciência” de si mesma como uma entidade separada. Tudo isso é só fantasia, é uma ficção!

Sua Natureza Real é Brahman, essa Pura Experiência ou esse Puro Conhecimento, como começamos falando. Essa qualidade nova de conhecimento, de experiência, é algo que transcende todas as definições, todas as palavras, todos os conceitos, todas as imagens e pensamentos. É “algo” que se revela em seu Estado Natural, que é Meditação, quando a mente não se move mais em seu mundo de imaginações, pensamentos, crenças, ideias. Nossa Identidade Real, nosso Ser Real, não é algo que está preso nessa dimensão de imagens, de imaginações; é algo que pode ser realizado a partir de uma profunda autoinvestigação acerca da natureza ilusória do corpo, da mente e do mundo. Daí a importância da autoinvestigação.

Tudo precisa ser deixado, absolutamente tudo! Se você segurar alguma coisa, isso ainda vai lhe dar um significado nessa dimensão imaginária – o significado dessa falsa identidade. Qualquer coisa que você segure vai mantê-lo nessa ilusória identidade. Tudo que a mente mais deseja é manter-se nessa continuidade, e isso ela faz segurando-se em alguma coisa. Então, todos os apegos, ligações, desejos, tudo precisa desaparecer!

Quando, dentro de você, algo está queimando por Isso e você é capaz de ir até as últimas consequências dessa autoinvestigação, torna-se possível o final da história desse personagem aí, o qual parece que nasceu, que tem um nome, uma história, um passado, que está tendo um presente e terá um futuro. É quando você se encontra diante da perfeita Ignorância.

Alguns, quando vem à Satsang, dizem que não sabem, mas, logo, revelam-se como alguém que quer saber. Essa não é a perfeita Ignorância. Eu estou falando da Ignorância que está além da ignorância e do conhecimento. Então, quando você está nessa perfeita Ignorância, você está na qualidade desse Conhecimento ou dessa Experiência de que falei logo no princípio. Eu chamei de perfeita Ignorância porque é uma Ignorância completa.

Em geral, a ignorância está “insatisfeita”, ela quer deixar de ser ignorante, quer saber algo – essa não é a Ignorância perfeita. Eu falo de uma Ignorância completa, que é aquela que não se preocupa com a ignorância nem com o conhecimento, é um simples “não saber”. É dessa qualidade de Conhecimento e Experiência que estamos falando. Quando Isso está presente, a Realidade dessa Libertação está presente, você está em seu Ser, em sua Natureza Primordial. Essa Natureza Primordial é Brahman, é Deus, Pura Consciência, Pura e Suprema Realidade. Na Índia, eles chamam de Sat-Chit-Ananda, Ser-Consciência-Felicidade.

Isso é algo que está presente como sua Natureza Verdadeira, não tem nada a ver com o corpo e o estado em que ele se encontra neste momento. Esse corpo, talvez, tenha vinte, trinta e cinco, cinquenta, setenta e cinco, noventa anos; talvez, já tenha problemas de sangue, de rins, de ossos, ou qualquer outro. Isso, também, não tem nada a ver com esse aparato intelectual ou toda essa memória guardada em alguma parte da massa cinzenta do cérebro. Todo conhecimento adquirido, que hoje pode ser lembrado ou esquecido em razão do estado desse mecanismo, desse corpo-mente, não é você. Você é Sat-Chit-Ananda, você é Brahman, a Suprema Realidade, essa qualidade de Conhecimento e de Experiência.

15 de outubro de 2018
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