O medo é um outro lado do desejo. A compreensão disso é muito importante. A mente vive sobrecarregada de desejos, assim ela carrega consigo muito medo. Muitas das ações que você toma são baseadas no medo e as demais são baseadas no desejo.
Todo movimento do homem comum é puramente reativo. Enquanto o ego se mantém presente, você está em uma impossibilidade: a impossibilidade da Felicidade. Não é possível encontrar a Felicidade em objetos. Então, não importa que tipo de realização você tenha, ela será sempre uma conquista do desejo ou uma fuga do medo.
Como nós temos falado nestes encontros, você não pode encontrar a Felicidade, encontrar a Paz, encontrar a Liberdade. Isso não é uma conquista; é algo que está presente quando o desejo termina, que é quando o medo termina. Mas você não pode se libertar do desejo nem pode se libertar do medo. Então, todo seu esforço em direção a essa libertação do medo, do desejo, é o próprio desejo, é o próprio medo nesse esforço. Portanto, é uma fuga impossível. A natureza da mente é medo, a natureza da mente é desejo.
Assim, nos encontramos diante de uma situação: a mente não pode se livrar da mente. Esse é o primeiro ponto. Portanto, não adianta nenhum tipo de esforço que você faça, pois qualquer esforço que você venha a fazer ainda será para se manter nesse movimento.
O segundo ponto é que você não precisa se libertar. O primeiro é que você não pode se libertar, o segundo é que você não precisa se libertar. A autoinvestigação é a investigação da ilusão da mente e não de sua realidade, de sua verdade.
Sua Natureza Verdadeira é Felicidade, é essa Paz que você busca, que você procura. Então, você não precisa se libertar da mente, do desejo, do medo. Tudo o que você precisa é tomar ciência dessa ilusão através da investigação desse movimento.
A questão é que você precisa descobrir como investigar e compreender por si mesmo, diretamente, essa ilusão – a ilusão da mente criando esse movimento de desejo e de medo. Então, é preciso aprender a investigar a natureza dessa mente ilusória com seus medos e seus desejos. Essa investigação real tem que levar em conta onde você se encontra neste momento, o que é que se passa aí, nesse organismo, nesse mecanismo, qual é, de fato, a sua vivência prática, real, nesse mundo de experiências, de relacionamentos, na vida como um todo.
Assim, é necessário aprender a olhar para si mesmo, a olhar para o que se passa aí, para o que de fato está acontecendo. Então, você tem que abandonar todas as teorias sobre a Realização. Você parte desse princípio de muita honestidade para olhar para esse movimento do medo e do desejo presente aqui e agora nesse organismo, nesse mecanismo, nessa pessoa que você acredita ser.
Não se trata de um esforço para se livrar da mente, mas um trabalho honesto e sincero para observar o seu movimento. Logo, esse movimento honesto, sincero, contínuo, persistente, se constitui em um trabalho – um trabalho para desalojar a ilusão da dualidade, da separatividade, desse falso “eu”.
Não basta dizer que esse “eu” não é real, que ele é falso, que não está aí… isso não basta! Eu tenho frisado muito que estamos vivendo um momento em que há uma simplificação muito grande acerca desse assunto, algo completamente intelectual.
Você precisa abandonar tudo isso e olhar para o medo que está aí, pois o medo é a verdade deste momento – pelo menos, enquanto a mente egoica se mantém entronizada com suas crenças e condicionamentos. Caso contrário, você vai analisar e racionalizar isso, mas, internamente, vivencialmente, estará experienciando uma outra coisa, que são todas essas crenças, todos os condicionamentos e, portanto, todos os desejos e medos.
O que estou dizendo é que a rendição desse falso “eu” é essencial, fundamental, imprescindível. Como disse agora há pouco, precisa ser de uma forma prática, direta, real, persistente, até que haja, de fato, uma dissolução dessa continuidade. Isso para alguns é um trabalho de uma vida inteira.
Autoinvestigação, meditação e entrega. Esse é o lado prático de um trabalho real em direção a essa Liberação.