Em geral, todos querem saber, conhecer alguma coisa, e Satsang não tem essa proposta. Você não está aqui, neste encontro, para aprender alguma coisa, para saber um pouco mais. O propósito destes encontros é o contato com a Verdade que você já traz, “algo” que já está presente.
Você é um devoto da Verdade, um discípulo da Sabedoria. Assim, ser um discípulo é estar preparado para essa Sabedoria; ser um devoto é estar nessa disposição de rendição ou de entrega a essa Verdade – esse amadurecimento é essencial. Ser um discípulo ou um devoto significa ter essa profunda necessidade para ser Um com a Verdade. Sabedoria é Verdade! Se não há Sabedoria, não há Verdade; se a Verdade está presente, a Sabedoria também está.
Existe um momento claro, em que essa rendição, que é a devoção, acontece. É, também, o momento em que o discípulo fica pronto para a Sabedoria. Assim, todo este trabalho é para a manifestação da Verdade. Você está pronto para isso quando está dentro dessa urgência, quando está disposto a desistir de todas as suas crenças, convicções, opiniões e julgamentos.
O mais importante não é a fala, mas o seu coração estar voltado para essa Divina Graça presente neste instante. Então, quando esse claro momento acontece, o discípulo real é o devoto e o devoto real é o verdadeiro discípulo. Quando há a urgência da Liberação, do fim da ilusão, do sentido de separação, você está “queimando” por isso e, então, você está pronto. Quando você é um discípulo da Vida, todo seu “fazer” está envolvido com essa questão da Verdade. Este é o sinal!
Então, o discípulo é o devoto, o devoto é o discípulo, quando está em uma rendição, em uma entrega, num trabalho real em si mesmo. Seu trabalho é ir além dessa contração, dessa falsa identidade, desse falso “eu”. O sinal real dessa Orientação é que uma transformação significativa começa a acontecer. Isso é paradoxal, porque não é algo para você sentir diretamente ou reconhecer pessoalmente, porque o ego ainda estaria aí. Essa é uma transformação que não deixa sinais, para o ego, de que está acontecendo.
As pessoas, às vezes, escrevem algumas coisas para mim, relatando suas experiências, as quais chamam de “experiência de iluminação”. O Real Despertar ou a Iluminação não dá sinais. É paradoxal, porque há uma Orientação interna acontecendo, mas não há sinais externos de experiências místicas, como a presença de raios luminosos, sensações, poderes. Tudo isso ainda está dentro desse circuito da mente egoica.
O convite, nestes encontros, é para a devoção, para o que significa o real estado de discipulado, para essa sensibilidade, para o descobrimento da Verdade sobre Si Mesmo. É necessário ir além dessa ilusão, a ilusão do falso “eu”. Então, quando há essa maturidade de entrega, o trabalho acontece. Mas, você não é um devoto, um discípulo, se está constantemente mantendo a ilusão da identificação com o corpo e a mente. Se o seu interesse é apenas aprender novas palavras, conhecer mais profundamente o assunto, isso ficará apenas no nível intelectual.
Você é potencialmente um discípulo-devoto, um devoto-discípulo, mas isso só é real quando toda a sua atenção, todo o seu coração e todo o seu amor estão nas palavras da Verdade. É nesse sentido que a Sabedoria, que é a Presença do Guru, a Presença da Vida, a Presença da Verdade, é importante. Quando você está vivendo nessa profunda intimidade com as palavras da Verdade, nessa profunda compreensão, dentro dessa rendição e com a atenção e o coração totalmente voltados para Isso, uma real transformação acontece, sem nenhum estardalhaço aparente. Na verdade, quando não está acontecendo aparentemente nada, é quando tudo está acontecendo. O verdadeiro “progresso” neste trabalho é completamente silencioso. Assim, a minha recomendação é: não se preocupe com qualquer resultado que possa vir como fruto deste trabalho; volte-se para a rendição, para a devoção, para essa entrega.
Você não pode encontrar Isso, mas pode confiar, render-se, entregar-se, para que Isso o encontre. Você não pode encontrar a Verdade ou a Iluminação; Isso não está lá fora, como algo que você possa encontrar. Todo esse movimento é, na realidade, um impedimento. Todo esforço, toda prática, todo trabalho idealizado pela mente é só um afastamento ainda maior. Isso não representa devoção, não representa ser um discípulo da Verdade.
Assim, quando eu falo sobre essa atenção, sobre esse envolvimento de todo o coração, não estou falando de um esforço, estou falando de uma entrega, de uma rendição. A natureza do ego é sempre “fazer alguma coisa” e na rendição não existe um “fazer”, existe uma desistência do “fazer”.