No ego, você é profundamente miserável, mesmo em meio a toda opulência, toda riqueza, toda grandeza, toda beleza.
Ramana viveu numa caverna na qual você precisa entrar “de gatinho”. Você tem que sentar ou deitar, porque não pode ficar em pé, de tão baixa, de tão pequena. Alguém costumava subir à montanha e levar um pouco de comida para ele. No dia em que alguém levava, ele comia. Ele acordava pela manhã e bebia água numa nascente ao lado. Quando precisava ir ao banheiro, ia à mata, atrás da caverna. Sua mente não carregava nenhum objeto, nenhuma imagem, nenhum parente.
Ramana tinha um irmão mais velho e duas irmãs mais novas do que ele, mas, em sua mente, não havia referência de irmãs, de irmão, nenhuma imagem de colégio, de amigos, do esporte de luta que ele praticava no ginásio… Muitos macacos em volta da caverna (seus companheiros, seus amigos) e alguns devotos, que vinham para estar perto dele. Ramana ouvindo os sons dos macacos gritando nas árvores e pulando de galho em galho… Ali está o “filme” da Felicidade.
Não tem piscina, não tem casa grande, não tem mobília cara, não tem quadros na parede, não tem cama, mas ali está a Felicidade, porque não há miséria! Disso você não tem inveja. A mente não pode invejar o que ela não conhece; ela só pode invejar o prazer que ela conhece, o qual ela confunde com Felicidade.
Você vai a um lugar e vê algo que acha lindo, então, a mente diz: “Puxa, isso seria tão bonito na minha casa também!”. A mente está lhe pregando uma peça. Ela está dizendo que se você conseguir um negócio daquele e colocar na sua casa, você entrará em suprema “bliss”, em suprema felicidade, nunca mais sofrerá. Ela está sacaneando você!
A mente é medíocre! Ela vê um homem ou uma mulher e diz: “Puxa, era isso que eu queria!”. Isso se chama “desejo”. Pode ser um sapato, uma bolsa, um vestido, uma casa, uma biblioteca, um salão, um marido, crianças… “Puxa, eu queria ter filhos também. Olha como são lindas essas crianças! Como é bom ser mãe!”. Desejo! É a mesma coisa, é a mesma vibe, a mesma ilusão. A mente está pregando uma peça.
A mente faz surgir o objeto, uma imagem, um pensamento, e gruda naquilo. Isso se chama “identificação”. Quando ela agarra aquilo e você vai junto, então, você é só um objeto. Você saiu de sua Natureza Essencial, que é pura Bem-Aventurança, que é pura Liberdade, que é Paz, Amor, Verdade e, agora, você é o próprio objeto desejado, é o desejo, você está em aflição, já não tem mais paz.
Então, você vê aquela piscina, um pequeno lago de peixes, um tapete na sala da casa da sua amiga e depois vai para casa; parece que aquilo foi embora. Mas, enquanto você está jantando, alguém liga a televisão e aparece um cachorro correndo em direção à porta de uma casa. A mente diz: “Vai sujar o tapete!”. E lembra: “Ah, aquele tapete…”. Ela vai buscar, novamente, o tapete. Assim, você está em aflição e isso é ser miserável. Não tem nada a ver com o que você tem ou com o que você não tem. Tem a ver com o que a mente aí está “linkada”, ligada.
Então, o que é Liberação? Liberação é um estado de Amor, que é a ausência de desejo. É um estado de Paz, que é a ausência de desejo, é um estado de Liberdade, que é a ausência de desejo.
A mente é tão tosca, que agora ela vai dizer: “É… Eu quero isso: não desejar! É disso que preciso!”.