O meu trabalho com meu Guru levou 21 anos. Eu não fiz absolutamente nada, somente atrapalhei. Não consigo lembrar uma só coisa que eu tenha feito para ajudá-lo. Você saberá o que estou dizendo, no tempo certo. Você olhará para trás e dirá: “Caramba! Eu nunca fiz nada que pudesse ajudar o meu Mestre, para hoje estar aqui olhando a vida dessa forma”.
Agora, se você perguntar para mim se consigo me lembrar da resistência, consigo sim; também, me lembro da desconfiança, da insegurança, do medo de ficar doido, da incerteza, do sentimento de não saber o que estava acontecendo e para onde eu estava indo, se estava indo mesmo a algum lugar ou se não estava.
Se você perguntar para mim, eu consigo lembrar as várias vezes que a coisa “pegou”, mas isso está numa dimensão tão surreal, que parece que foi com um personagem, que foi somente uma imaginação de tempo. É como se eu estivesse assistido a um filme e dissesse: “Olhe, aconteceu isso, aquilo e aquilo outro”. Porém, era um filme, não tinha nada a ver com Isso que é Real. O “filme” estava lá, acontecendo em uma “tela”, mas não tinha nada a ver com o que Sou, mas somente agora eu posso dizer isso.
Portanto, você será capaz de lembrar o quanto atrapalhou, mas o que o Guru fez para desfazer essa ilusão, você não saberá; só saberá que foi desfeita. É como se ele tivesse levado você a pulso, o empurrado através de uma porta invisível, que você nunca viu diante dos seus olhos; ele achou a porta e o empurrou porta adentro, contra a sua vontade. Isso é muito louco, mas é assim.
Na verdade, todo esse “processo” não foi um processo, foi um sonho. Quando você acorda de um sonho diz: “Puxa! Não teve processo nenhum! Foi somente imaginação, nunca teve nada acontecendo!” A sensação que a gente tem é essa: “Foi somente um sonho!” Quando a Realização se assenta, você olha para trás e diz assim: “Havia montanhas, mares, florestas, mas era só um sonho”.
Não é lindo isso? Não sei se estou conseguindo retratar isso direitinho para vocês.
Aí, você sabe… Por você mesmo, você sabe! Você, então, é uma autoridade para falar: “Puxa! Nunca houve um tempo em que eu não fosse o que Eu Sou. Eu Sou o que Sou, sempre fui!” – você sabe de forma direta.
Este é seu momento de ir além desse mundo, de deixar a história de que nasceu, de que é marido, esposa, papai, mamãe, de que tem filhos, família… É o momento de permanecer em seu Ser, em sua Real Natureza, sua Verdadeira Identidade, que é a Consciência de Deus, que é Felicidade, Paz, Inteligência, Liberdade. É quando não há mais história, vínculos, nascimento ou morte, medo, desejos, anseios… Não há mais exterioridade.
Isso é um assunto de Deus, não um assunto seu; o seu é ficar quieto. O seu trabalho é sair da sua rotina, sair do seu script, que você sabe qual é: ser avô, ser mãe, ser pai, ser esposa, ser marido, ser empresário, ser “alguém” no mundo. Assim, quando sai do script, você vê espaço para o Divino, para Deus trazê-lo de volta… Ele vai trazer você, de novo, para esse Lugar. Ele vai pegar você pela mão e trazê-lo; vai fazer você retornar para Si Mesmo. Você nunca esteve em nenhum outro lugar. Este é o seu Lugar, você só se esqueceu disso.
Jesus conta uma parábola sobre isso, que é a parábola do filho pródigo. Vocês conhecem a parábola, não é? O pai tem dois filhos e, num belo dia, um deles perde o juízo e diz: “Eu quero viver a minha vida. Quero que o Senhor dê a minha herança, porque eu quero ir embora”. O pai diz: “Você tem certeza?” Ele diz: “Sim! Eu quero ir embora!”. Então, o pai dá a ele a herança e diz: “Está aqui meu filho. Você quer sua herança, tome”. Então, o filho viaja para uma terra distante, com sua herança, e começa a usar e abusar do dinheiro: sai pelos bordéis, pelas farras, pelas festas, até que um dia a herança acaba. Como se vê sem dinheiro, vai procurar emprego, e a função que arrumam para ele é a de guardador de porcos. Os anos passam, e lá está ele, já está com uma certa idade, naquela vida, trabalhando como cuidador de porcos, todo sujo. Diz a parábola de Jesus que, num belo dia, ele olha para o céu, com as mãos e o rosto sujos, o corpo malcheiroso, lembra-se de casa e diz: “Puxa! Que situação!” Está na parábola assim: “Naquele momento ele caiu em si mesmo”. Então, ele caiu em si e disse: “Caramba! Que situação a minha! Eu tenho um pai tão rico e olha onde eu vim parar!” Ele tem um momento de lucidez.
Olhem para vocês! Satsang é um momento de lucidez. Alguns de vocês estão começando a desconfiar que não adianta se casar de novo, ter mais filhos, empreender em mais e mais negócios, ganhar mais e mais dinheiro, construir, construir, construir. Alguns de vocês já compreenderam que não podem ficar desperdiçando essa “herança”, que é a energia física, a saúde que ainda resta aí para o corpo e os recursos do dinheiro e do tempo com outras coisas. Olhem para vocês! É um momento de lucidez!
Na parábola, Jesus conta que o rapaz diz: “Voltarei para a casa do meu Pai”, e começa a voltar. Quando ele está a caminho, de longe o pai olha e alguém diz: “Olhe! Aquele não é o seu filho?” O pai olha de novo e diz: “Puxa! Parece que é ele, sim!” O pai pede a alguém para ajudá-lo a chegar. Quando o filho chega, o pai o abraça e diz para o filho que tinha ficado em casa: “Olhe, seu irmão acabou de voltar. Vamos fazer uma festa”. Então, o filho recém-chegado toma um banho, fica cheiroso, perfumado, o pai manda preparar uma roupa muito bonita para ele, coloca um anel no seu dedo e diz: “Vamos matar um cevado, fazer uma festa”. O filho que ficou em casa disse: “Pai, o que é isso? Eu estou com o senhor há tanto tempo, você nunca mandou fazer uma festa dessa para mim, mas esse aí, esse mal-agradecido, fugiu de casa, levou o dinheiro, gastou com as meretrizes” (Está lá na parábola de Jesus; diz que foi com as meretrizes, que é o símbolo da luxúria, do prazer, da estupidez humana). “Ele gastou tudo com as meretrizes e você faz uma festa dessa?” Então, o pai olha com um olhar compassivo e diz para o filho: “Meu filho, nunca faltou nada a você. Tudo o que eu tenho sempre foi seu, mas o seu irmão estava perdido! Ele estava morto, mas agora está vivo!”
Quando você volta para Deus, volta para a Verdade, para casa… Você se lembra de novo! Deus está trazendo você. Você só volta, quando Ele traz você. Esse trabalho é algo que acontece de dentro para fora, então, é Deus trazendo você de volta. Na verdade, é Ele trazendo-o para Si Mesmo, não é você voltando para Ele. Enquanto a religião formal, a religião dos “ismos”, se preocupa em mudar o homem de fora para dentro, a Verdade é algo que floresce de dentro para fora. Por isso que não se trata de uma prática, mas de uma honesta intenção, aí dentro, de desistir. Isso é algo que nasce do próprio Deus, da própria Consciência, do próprio Ser, aí dentro.
Então, você traz atenção a todo esse movimento desordenado, viciado, da mente e consegue começar a apreciar a Verdade, a deixar tudo por Ela, a, literalmente, morrer por Ela. E tem que morrer mesmo por Ela! Você vai atrapalhar algumas vezes, mas é nessa hora que a Graça do Guru, dessa Presença, a Graça Divina, o Espírito Santo, vai ser mais forte que você e vai lhe revelar quem de verdade Você é. É por isso que você precisa da Graça do Guru, da Graça de Deus. “Porque pela Graça sois salvos; e isto não vem de vós, é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie” – está lá na Bíblia; é a mesma mensagem.