Você não pode encontrar sua Real Natureza, a Verdade ou a Iluminação. Tudo que você pode encontrar é algo objetivo. A Verdade não é algo que você possa encontrar, pois não se trata de algo objetivo. Não é como um tesouro, que você consegue o mapa, vai em busca dele e termina encontrando. Não é assim!
Deus, a Verdade, não é um tesouro objetivo, não é algo que está lá fora, enterrado, escondido em algum lugar. A Sabedoria, a Verdade, Deus não é algo assim. Você não pode percebê-Lo, não pode encontrá-Lo, não pode vê-Lo do lado de fora.
É muito importante compreender isso, porque, assim, você deixa de ir à procura de Deus, da Verdade, como vai à procura de realizações externas; você para com esse comportamento. Aqui, é essencial parar de ir para fora, de buscar externamente. A Sabedoria, Deus, a Verdade, não está do lado de fora. O buscador é a “Coisa” buscada; aquele que procura já é a “Coisa” que está sendo procurada. Por isso, é fundamental você parar.
Todos os Sábios são unânimes quanto à importância da Meditação, porque Ela é o “parar”, é parar de ir para fora, parar de buscar externamente. Por isso, Satsang é muito interessante: não há nada para ser encontrado, aqui, que esteja do lado de fora. Tudo está sendo investigado dentro de você, profundamente, internamente. Nessa aproximação, não há nenhum sistema, nenhuma prática, nenhum exercício. É necessário estar completamente livre de toda intenção, de toda volição, de toda motivação do desejo. O desejo, geralmente, reflete uma procura externa, afastando-o de Si mesmo, Daquilo que Você é aqui e agora.
Geralmente, você trata da questão do desejo se voltando para realizações externas, para objetivos encontrados do lado de fora. É preciso estar completamente livre desta forma de se comportar. Existem alguns momentos, em sua vida, que você experimenta a Liberdade, e é exatamente quando você está livre de toda intenção externa. Todos têm momentos assim!
Em algum momento de sua vida, diante de uma praia, no alto de uma montanha, em uma floresta, assentado num parque ou diante de um pequeno lago, com algumas borboletas, seus olhos contemplaram aquela cena. Naquele instante, como não havia nenhuma intenção interna, nenhum desejo externo, nada para se obter, nada para se conseguir, nada para se conquistar, ali estava a “Coisa”. Simplesmente, porque, naquele momento, não existia nada para se alcançar, nada para se realizar, nada para se obter, nenhuma ideia, nenhuma crença…
Repare que não existia Iluminação para ser alcançada, não existia Deus para ser alcançado. No entanto, lá estava aquela Quietude, aquela “Coisa” sem nome, indescritível. Aquilo estava, exatamente, porque você não estava, o sentido do “eu” não estava, o experimentador não estava. Foi um momento de pura experiência, sem experimentador.
Alguns dias depois, você descreve aquela cena para alguém e, quando começa a descrever, já é a memória, já é o experimentador. Não existe mais nada ali, só memória. Então, as borboletas, o lago e tudo aquilo, agora, são imagens, uma lembrança, uma coisa “morta”.
Quando o pensamento chega para descrever algo, o passado já chegou. O pensamento sempre é passado e o passado sempre conta uma história de um experimentador, que, curiosamente, não estava lá. É apenas a imaginação de que havia alguém lá. Então, a Verdade está quando a descrição não está. Quando a Verdade está presente, não há pensamento, não existe aquele que possa descrever este instante. Assim, existem momentos em sua vida, no dia a dia, em que você está completamente livre de todas as intenções. Estes momentos aparecem em um instante inesperado, como dirigindo o carro em uma estrada.
Você não se lembra disso, mas, quando era criança e saía do colégio com a mochila cheia de livros, a caminho de casa, pode ter passado por momentos assim. As crianças conhecem muitos momentos assim, até mais do que os adultos. Os adultos têm muitas responsabilidades, muitos desejos, o que significa que eles têm mais preocupações, mais aflições.
Nesses momentos de ausência, você fica “sem função”, sem trabalho, sem atividade, sem responsabilidades. Aqui está a Realidade, que chamamos de Consciência, de Verdade, de Presença. Neste instante, você é pura Quietude, pura Bem-aventurança… Não tem “você”! Isso é Meditação!
Repare que eu não descrevi nenhuma técnica, nenhuma prática, nenhuma postura física, nenhuma música, nenhum mantra. Nada disso é necessário, pois é artificial, não é natural. Então, você não pratica a meditação; você constata a Presença desse Estado, que é Meditação, que está presente quando você não está preso na armadilha dos pensamentos, dos sentimentos, das imagens, das histórias que o pensamento produz.
Essa Quietude da Meditação, não é a quietude do corpo ou da mente. Não é desta quietude que estou falando, a qual você pode conseguir por uma técnica, por uma prática de meditação. Estou falando da Quietude de sua Verdadeira Natureza (que é Consciência), de sua Real Natureza Divina, da Quietude do seu Ser, além do corpo, além da mente.
Você vai ficando sensível, aberto, receptivo a Isso; vai ficando mais e mais íntimo dessa “Coisa”. É cada vez maior essa intimidade, essa proximidade com o seu próprio Ser, com a ausência do experimentador, do sentido pessoal, do controle, dos desejos, da tentativa de resolver, acertar as coisas, mudar o mundo. Quando você vai ficando íntimo de seu Ser, vai deixando isso. É algo que começa a se aprofundar, é uma forma de crescimento que acontece.
Os dias vão se passando, os meses, os anos e, em um belo dia, você se descobre com mais facilidade de não se confundir com o experimentador, de não se confundir com a história pessoal, com as circunstâncias, com o mundo à sua volta, com as crenças. Você se descobre, em um belo dia, desidentificado. A situação acontece, em meio a uma circunstância à sua volta, a uma história, e aquilo já não o captura mais, não o envolve mais. É um belo sinal de que algo está acontecendo em um nível real aí dentro.
Você se surpreende, a princípio, mas, depois, começa a ficar natural. Você nem mais se surpreende com isso. A princípio, você se surpreende em não se perturbar tanto, como fazia antes. Este é um ótimo sinal; é sinal de que algo está acontecendo. Antes, algo o desesperava, o deixava frustrado, com raiva, com medo e, agora, você olha e dá um leve sorriso, porque, internamente, você sabe (esse é um “saber-sentir”, não é um “saber” intelectual) que isso não tem nada a ver com o que Você é. Esta é a única prova real, e não esse “blá-blá-blá” todo sobre ensinos Advaita, Neo Advaita, o que é só outra forma de crença inútil.
Por isso, eu disse, no começo da fala, que você não pode encontrar a Verdade, não pode encontrar a Iluminação. Isso tem que florescer de dentro, tem que ser um enraizamento dessa bela e frutífera árvore chamada “Consciência”. Os frutos desta árvore são a Liberdade, a Inteligência, a Compaixão, a Sabedoria, a ausência do medo, a ausência da ambição, da inveja.
Eu não estou fazendo alguma coisa, não estou me ocupando em mudar o mundo, em mudar as situações, em consertar as pessoas. Eu apenas estou quieto, em meu próprio Ser. Não é uma quietude do corpo – a quietude do corpo é preguiça. A preguiça também tem o seu lugar, mas não na Realização. A preguiça é uma coisa e a Realização é outra. Não se trata também de uma quietude da mente que o torna meio “abobado”. Na realidade, é o oposto: quando há essa Quietude Interna, que não é a quietude do corpo nem da mente, há uma grande Inteligência presente, um grande Poder de ação, que nasce desse Estado de Consciência, desse Estado de Presença.