Este é um grande momento! É uma grande oportunidade estar aqui, em Satsang. Estamos trabalhando o fim da imaginação. A princípio, é muito difícil aceitar como uma imaginação essa identificação errônea, falsa, que tem produzido essa identidade ilusória. Você carrega essa fantasia, essa crença e, por isso, torna-se essencial investigar isso.
A forma como você se vê é um grande equívoco. Você não tem a mínima ideia do quanto é falso esse sentimento de identidade separada que você carrega. Você se vê com uma mente e habitando um corpo – dentro de uma cultura religiosa, cristã-judaica, você acredita que é um espírito habitando o corpo. Quando você olha para a sua vida, a vê cheia de problemas. A “pessoa” é a ilusão de ser alguém, o que, basicamente, significa carregar problemas. Esta é a crença: uma pessoa, uma entidade separada, vivendo no mundo e esperando ser salva desses problemas; ou, dentro de um aspecto religioso, sendo um espírito vivendo uma experiência humana e trabalhando pela salvação espiritual.
Eu quero lhe contar um pequeno segredo: não existem problemas e não há “pessoa” para vivê-los. Não há problemas agora e jamais haverá! E não existe nenhuma “pessoa” para ter seus problemas resolvidos, assim como nenhuma alma para ser salva deste mundo material.
Cada coisa está acontecendo da forma como tem que acontecer. Você apenas esqueceu a Verdade sobre si mesmo e, assim, a ilusão que você tem sobre si mesmo é a mesma que você tem a respeito do mundo. Você não pode aceitá-lo como ele é, porque não compreende a si mesmo; se você não se compreende, não pode compreender o mundo à sua volta.
Se você se identifica com o corpo, então, existe um problema. Mas, se você esquece tudo que aprendeu sobre quem você acredita ser (este é o passo a ser dado, dentro desse encontro: esquecer completamente tudo que você aprendeu sobre si mesmo, sobre o mundo, sobre a vida, sobre Deus, sobre essa assim chamada “espiritualidade”), há um rompimento desse modelo, desse condicionamento, desse padrão de crenças. Então, os problemas também desaparecem junto com isso tudo.
Você está muito preso a diversas formas de crença e, por isso, vive em um mundo cheio de problemas, que são criados pelo próprio pensamento. O mundo parece ter muitos problemas, os outros parecem ser muito problemáticos… Você sempre verá as coisas diferentes de como, de fato, elas são. Esse modo de ver o mundo, a vida, a si mesmo e o outro, eu chamo de “sonho”. Esse estado de confusão interna se reflete externamente como “outros em confusão”, o “mundo em confusão”, e a “vida em confusão”.
Na verdade, o que está acontecendo é a ilusão de viver com problemas. Esses problemas, basicamente, são apenas a rejeição do modo em que tudo se apresenta a “você” (corpo, mente e experiências do pensamento). Os Sábios denominam esse estado de confusão de “sonho”. Você está tendo um sonho e, nele, você é alguém – alguém que nasceu neste mundo e que tem que lutar para resolver problemas. Então, ser uma “pessoa” significa estar sonhando.
Não existe nenhuma diferença entre o sonho que você tem agora, no estado de vigília, com toda forma de sonho que você tem à noite, enquanto o corpo dorme. Do ponto de vista da experiência da Vida, tudo isso é apenas um sonho. O homem Sábio sabe que é um sonho; o homem não sábio tem esse sonho como realidade. Tudo é somente uma aparição, como acontece enquanto o corpo dorme. Mas, enquanto o homem Realizado encara a existência do corpo, da mente e do mundo como um sonho, aquele que não está ciente da Verdade sobre si mesmo está encarando a experiência do corpo, mente e mundo como sendo a sua própria realidade. Então, aquilo que, na verdade, é só um sonho, para ele [homem não realizado], é a vida real, muito complicada, cheia de problemas. Dessa forma, não há Graça, não há Beleza, não há Liberdade, não há Felicidade.
Parece que tudo é uma questão de ponto de vista, uma questão de modo de ver. Para o Sábio, a vida é o que é, e isso não passa de um sonho, onde existe o prazer e a dor, a saúde e a doença, o bem e o mal, o ganhar e o perder; para o Sábio, esse movimento de dualidade, de opostos, está presente apenas como um sonho e, por não estar se identificando com o corpo, com a experiência da mente, ele não carrega o sentido de separação; está livre do sentido de dualidade, de conflito… Como não há a rejeição da vida como ela é, como ela se apresenta, para ele, não há sofrimento. Já aquele que está ainda preso ou se identificando com a crença “eu sou o corpo, estou vivendo no mundo e preciso ser salvo por Deus deste terrível sofrimento, destes inumeráveis problemas”, está sofrendo, buscando uma salvação, porque isso faz parte do seu sonho, da sua ilusão – ele está sofrendo em razão dessa crença no sentido de separação, por estar preso a esse sentido de dualidade.
Do nascimento até a morte, a vida sem essa Clareza ou Esclarecimento (que alguns chamam de Iluminação) é confusão, é sofrimento. Esse “sentido de pessoa” sempre estará em sofrimento, porque está dormindo, está sonhando.
Quando você vem a estes encontros, vê a possibilidade de Acordar, de ir além da ilusão do “sentido de pessoa” dentro da experiência do corpo, tendo uma mente e vivendo no mundo como uma entidade separada. Mas, enquanto prevalecer a confiança no sentido de separação, nessa ilusão da dualidade, nessa crença, nesse contraste, nessa divisão, o problema prevalecerá. Ele nunca é externo, nunca está do lado de fora! O conflito está sempre nessa visão interna, nesse modo de encarar tudo isso. Tudo é uma questão de perspectiva, de ponto de vista, de modo de ver. Não importa se, em seu sonho, você é um sábio ou um tolo, se é um rei ou um pedinte, se é uma pessoa rica ou uma pessoa pobre, pois enquanto sua perspectiva vier da visão de uma entidade separada, vivendo uma experiência humana, dentro do sentido de dualidade, a ilusão do problema persistirá, porque aí estará o sonho.
A questão é: quem sonha? Aquele que realizou a Verdade sobre si mesmo levou muito a sério esta pergunta. Alguns de vocês estão, neste momento, apenas se aproximando desta questão fundamental. Quem está neste sonho? Será este um sonho para alguém? Se é um sonho, para quem é este sonho?