Você tem que desfrutar a vida como ela se mostra. Você desfruta de um prato de comida, de um sorvete, de um beijo, de um contato físico, mas não transforma isso numa experiência de “alguém” – não seja um experimentador. Por isso, a questão da relação é uma coisa e do relacionamento é outra.
Como eu sempre falo: vocês transformaram todas as relações em relacionamentos. Então, a esposa, os filhos, a família viram relacionamentos – não são apenas relações. Uma relação é inofensiva, não tem problema nenhum. É como um contato que você tem com um instrumento musical: enquanto ele está em suas mãos, você o toca, mas, quando ele não está mais, não tem problema nenhum.
Quando você tem a fixação, a ideia, a ilusão de que você é uma pessoa, então, o instrumento musical é um peso, porque é um relacionamento, não é apenas uma relação, um contato. A Felicidade não nega nada, não nega a vida, mas o sofrimento sim. É simples tudo isso, não é?
Participante: É simples, mas é difícil de executar, desfazer essa programação toda, como o Senhor disse.
Mestre Gualberto: Eu recomendo você não se ocupar com isso, deixar isso por conta da entrega, da rendição, por conta da Graça. Não é um “fazer positivo” da sua parte; é uma desistência do “fazer”. Até hoje você fez tudo, agora é hora de parar de fazer. A própria ideia de estar na ação é o grande empecilho – acreditar poder ou não poder fazer isso. Esse movimento de “fazer” é um vício muito grande. Então, quando eu lhe falo: “Relaxe! Pare! Renda-se”, a mente diz: “Mas, como eu faço?” Até isso ela quer fazer, como se tivesse um “passo a passo”; não há nenhum “passo a passo”!
Quando a criança sai do útero, da barriga da mamãe, o médico não dá uma aula para ela de como respirar (ela nunca respirou fora da barriga da mamãe); ele dá uma palmada, se for necessário. É bem o que o Guru faz! Ele não ensina você como realizar Deus; Ele só vai lhe dar uma “palmada”, mas vai dar uma “palmada” de verdade, suficiente para você abrir a boca e dar um grito. Quando você dá um grito, o ar entra e, depois, tudo acontece naturalmente.
Então, o Guru faz algo assim: ele faz o “parto” e, depois, dá uma “palmada”. Eu sei o que passou pela sua cabeça. Você pensou: “Eu vou nascer!”. Não! Eu não disse que você vai nascer; eu disse que o Guru vai fazer o “parto”. O processo é natural, mas quem vai facilitar tudo é o Guru. Ele faz o “parto”, dá a “palmada” e você descobre que sabe respirar.
As pessoas vêm a mim e dizem: “Eu não consigo, eu não posso, eu sou muito pecador, eu sou muito burro, eu não tenho rendição, eu não tenho entrega!”. Então, o Guru diz: “Calma! Está tudo aí! Fique aí, porque está tudo aí!”. Ele faz o “parto”, dá a “palmada” e pronto! O que você chama de difícil, eu chamo de trabalho. A Realização não é uma coisa difícil; a Realização é o resultado de um trabalho.
Eu não vejo como algo que requer rendição, que requer trabalho, possa ser fácil. Não é fácil, é trabalhoso. É lindo isso, porque quando há um trabalho, algo realmente acontece. Então, se não houve um trabalho e esse “despertar” foi algo fácil, nada aconteceu ainda. Tem muita gente dando Satsang, mas não aconteceu nada ali ainda, porque não teve trabalho – foi “fácil”. Você vai dizer: “Foi fácil! Não teve trabalho, nada de fato aconteceu!”. Alguns dizem que isso aconteceu depois de assistir a um vídeo ou em uma conversa por Skype, ou seja, não teve trabalho, então, nada aconteceu.
Participante: Mas, nesse trabalho, eu não tenho que fazer também?
Mestre Gualberto: Há um “fazer”, mas ele não é seu! O seu “fazer”, nesse trabalho, é parar de atrapalhar.
O trabalho acontece, mas é um trabalho dessa Consciência, dessa Presença, dessa Realidade, desse Ser, desse Guru interno, que é o Guru externo – só tem Um, que é Deus! É um trabalho sim, mas, é um trabalho já pronto. Na nossa linguagem é um trabalho, mas já está pronto.
O seu trabalho é parar de atrapalhar – isto é um trabalho, não tenha dúvida! Render-se é um trabalho! O detalhe é que as pessoas não querem a rendição, elas querem um trabalho no qual elas estejam atuando, estejam no controle. Há um trabalho enorme para parar de trabalhar, para dar um “stop” na sua rotina, para que você saia de sua programação mental, pessoal, e se volte para dentro, para Isso que Você É!
Portanto, é um trabalho, só que esse trabalho não é nada! O trabalho Real é o trabalho de Deus que, curiosamente, já está acontecendo e, paradoxalmente, já está pronto. Não se faz nada, só se para de atrapalhar. O problema é que vocês não querem parar de atrapalhar.
Participante: Como eu faço para facilitar a tarefa?
Mestre Gualberto: Como eu faço para facilitar? Como eu faço para parar? Como eu faço para não atrapalhar? Como eu faço para agradar? Já está atrapalhando…
Eu preciso mostrar o que você ainda não conseguiu ver, eu tenho que sinalizar. Você tem certeza de que está vendo e eu digo: “Você não está vendo!”, como se eu tivesse que enxergar em seu lugar, só que, na verdade, eu vou lhe dar olhos para ver. Mas, até isso acontecer, eu vou ajudá-lo a descobrir que você acredita ver o que não está vendo ainda.