Felicidade não é uma negação da vida, mas também não é uma afirmação, como a mente egoica deseja que seja. A mente egoica deseja uma afirmação da vida que a Felicidade não conhece.
Qual é o problema, então?
O problema está em viver viciado nas diretrizes que o pensamento tem para você, todas programadas pela cultura, pela sociedade, pelo modelo implantado no mundo. Em cima desse modelo, você foi educado, cresceu, e agora está aí, permitindo-se ser direcionado pelo pensamento para se mover nessa ou naquela direção, agindo de uma forma programada, cultivada pelo medo e pelo desejo.
Então, os seus objetivos, com esse seu modelo de existência, estão fadados ao fracasso, a produzir mais e mais sofrimento, mais e mais mentira, mais e mais confusão, mais e mais miséria.
Haja vista esse absurdo do pensamento descontrolado dentro da sua cabeça, não há Consciência, não há Inteligência, há somente esse caótico, confuso e desordenado movimento.
Basicamente, você pensa; esse é o problema! Você só pensa porque aceita essa tagarelice interna como verdade, como parte de sua realidade. Acontece aí um pensamento objetivo e essencial para o corpo, como: “Tenho sede, quero água”, no meio de um bilhão de pensamentos como: “Está horrível isso”, “Não gosto dela”, “Não gosto dele”, “Estão mentindo para mim”, “Eu vou conseguir”, “Eu posso”, “Eu faço”… Ou seja, um bilhão de pensamentos envolvidos com o autopreenchimento de uma suposta entidade presente, vivendo dentro do corpo.
Como não vai haver miséria, sofrimento, dessa forma, se o que você chama de “vida” é a mentira, a programação de mentir? Não é a Vida! Como haverá Deus, Verdade, Inteligência, Felicidade? Não é possível! Como haverá Realização, completude de Ser, agora, nesse instante?
Dentro desse movimento caótico do pensamento, também cria-se a ideia de evolução: “Hoje não sou, mas amanhã serei”, “Hoje não tenho, mas amanha terei”, “Hoje não estou iluminado, mas amanhã estarei”.
Os sábios dizem que para estar aqui com a única Verdade não é necessário tempo nem esforço. Aí o pensamento faz uma filosofia em cima disso, começa a explicar o que ele tem visto sobre isso e distorce tudo. Então, a mente começa a treinar a “ficar aqui e agora”, e também a ensinar isso: “Fique aqui e agora”; “É só estar aqui e agora”; “Faça esse ou aquele exercício para alcançar isso”. E lá está o movimento do velho “eu”, ainda se ocupando com alguma forma de prática, com alguma técnica de meditação. Vocês todos já praticaram técnicas diversas de meditações para tentar chegar a algum lugar.
O que eu chamo de Meditação é olhar para isso que está neste instante, sem saltar sobre isso, sem dar credibilidade a isso, sem confiar nisso, sem se agarrar nisso. Você faz isso exatamente nesse segundo e, daqui a três dias, faz isso neste mesmo segundo e, daqui a três anos, no mesmo segundo. Você só tem um segundo para fazer isso, e é agora, aqui! Então, repare que não tem nada a ver com prática, mas com Atenção, com Presença, com Verdade… A Verdade para não confiar nessa voz interna, para não confiar nesse sentimento interno, nessa disposição interna, que diz que você é isso ou aquilo, que precisa disso ou daquilo. Por isso que eu nunca coloco vocês em práticas; eu coloco vocês na arte da Meditação, mas não na prática da meditação.
Olhar com atenção, ouvir com atenção, sentir com atenção… Quando o pensamento surgir, mantenha a atenção sobre essa loucura interna, para não ser um pensador. O pensador é, também, só um pensamento. Não tem pensador, só pensamento, repetitivo, continuado, programado, invasor. Todo pensamento é invasor! Você não tem um só pensamento original; nenhum pensamento é!
Pensamento não é a sua natureza, não é real em seu Ser, é só real como um fenômeno, assim como esse sofá. Você nunca nasceu! Como isso também é um fenômeno, não é real em seu Ser.
Seu Ser não é o que você pensa ser! Ele está fora do pensamento! O pensamento não é o seu Ser! Então, você diz apenas isso: “Não é”. O seu trabalho é: “Não é.” Você quer uma técnica? As pessoas vêm a mim e pedem uma técnica. A minha técnica é: “Não é”. Esse sentimento? Não é! Esse pensamento? Não é! Essa sensação? Não é! Essa certeza? Não é! “Mas, Mestre, o Silêncio chegou!” Aí eu digo: “Não é”! No Zen tem muito isso. O monge escuta o Mestre durante um tempo e depois fala: “Mestre, alcancei o Silêncio”. Aí o Mestre diz: “Não é. Jogue fora!”