O que acontece em Satsang? Em Satsang, você se depara com uma fogueira enorme, um calor intenso de Presença, de Consciência, de Atenção e Isso respinga em você; é Algo tão transbordante que vai para você. Você está aqui e recebe Isso.
Quando você dá valor a Isso, que é quando está aqui em silêncio, com todo o seu coração, com toda a sua disposição, você tem a oportunidade de ver a Verdade se revelando como o seu próprio Ser; porque Ela é o seu próprio Ser! Ela não está separada da própria fogueira, que é o Guru, que é a Consciência, que é o Real. Então, todo conteúdo egoico que está aí vem à tona e é consumido.
Na Índia, eles chamam essas tendências latentes da mente de vasanas, que são impressões do tempo na máquina (corpo-mente), a ilusão de uma história, de uma identidade que viveu algo há dez dias, há dez anos ou há dez milhões de anos.
Só existe uma “chave” para a Liberação e ela chama-se Meditação. Mas, Meditação não requer técnica, não é uma prática. Uma prática ou técnica estão sempre atreladas a corpo, mente, tempo e espaço. Meditação é Consciência atemporal, presente aí na máquina, sendo “acessada”, assumindo o lugar Dela – a melhor palavra é “assumindo”, porque Ela também não pode ser acessada. É como o sol que está brilhando lá fora. As janelas estão fechadas, e ainda tem as persianas, mas, quando você as abre, o sol que está lá fora entra. Você não vai trazer o sol, você vai apenas liberar os impedimentos.
Agora, entra a questão da Sadhana (que é o trabalho de entrega, sob a Upadesa, que é o ensino do Guru). Quando esse trabalho de entrega acontece, esses obstáculos desaparecem. Mas, o que está presente, já está presente! Como os obstáculos desapareceram, o que está presente se revela como Iluminação, como Despertar, como Realização de Deus!
Essa é a cura para todas as doenças! Ramana Maharshi dizia que o ego é a causa de todas as doenças, porque a doença não é natural. Quando você sente uma dor de dente, você vai ao médico, porque o natural é não sentir o dente na boca. Natural é o dente trabalhar sem você ter a mínima lembrança de que ele existe na sua boca. Quando sua boca está saudável, você não tem consciência dos dentes. Quando o seu rim está funcionando bem, você não tem consciência dele. Quando seu estômago está bem, você não tem estômago.
O natural é a saúde, que torna aquele órgão “invisível”. Quando o órgão sinaliza um mau funcionamento, surge a ideia da presença dele. Então ele diz: “Estou aqui!”, e a ideia do corpo aparece, assim como aparece a ideia de tratamento para esse corpo. Então, surgem as solicitações da mente para tratar dessa entidade presente, que tem que ficar boa, porque pode morrer… Toda uma história surge!
Entretanto, quando há saúde, não há ideia de corpo, como não há ideia de dente na boca, como não há ideia de rim. Por quê? Porque o corpo é uma ilusão. Ele só aparece quando reclama, dizendo: “Estou aqui!”.
Nessa Consciência presente, não há espaço para a ilusão da separatividade ou para essa “doença”, que é uma ilusão – a ilusão “Eu sou o corpo!”, “Eu estou aqui!”. Quando surge a ideia “Eu sou o corpo!”, “Eu estou aqui!”, e há uma doença, eu vou buscar a causa dessa doença. Se eu for buscar a causa dessa doença, é claro que vou encontrar, porque ela está atrelada a ideia de que “Eu estou aqui!”, “Eu sou o corpo!”. Portanto, é uma ilusão atrelada a outra ilusão, que é a de que “estou no tempo e no espaço e sou real como uma entidade presente”. Enquanto que, na realidade, só há Consciência, e a presença dessa Consciência é o fim de todas as doenças.
A doença primária é o sentido de separatividade; as doenças secundárias, vocês sabem: tédio, solidão, medo, ansiedade e muitas outras. Deu para acompanhar isso?
Assim, diagnosticamos e prescrevemos a medicação. A medicação para essa doença é o fim da ilusão de que existe alguém doente, é o fim do sentido de separatividade. Para isso, é necessária uma tomada de Consciência, o que costumo chamar de “assumir o que Você É”. Quando você assume o que Você É, o sofrimento termina. Quando você não assume o que Você É, você sofre, porque você quer consertar o mundo, quer consertar o corpo, e nada disso tem conserto.
O corpo, como qualquer outra aparição, está destinado a desaparecer no tempo e no espaço, porque o tempo e o espaço aparecem com ele, fazem parte de sua ilusão. Nesse sentido, toda doença e toda morte são bem-vindas a um corpo ilusório, destinado a desaparecer no tempo e no espaço. Assim, a doença e a morte são tão “reais” quanto o corpo é “real”. Todos partilham da mesma “realidade”: a “realidade” da ilusão.