A proposta, nesse trabalho, é ir além da mente, embora haja uma grande confusão sobre o que isso significa realmente. Existe, por exemplo, a preocupação com a necessidade de parar de pensar, porque, para muitos, ir além da mente é isso. Então, existe sempre aquela pergunta: “Eu não consigo parar de pensar, então, como posso ir além da mente?” Essa é uma dúvida muito comum. Na realidade, esse pensar não pode ser parado. Compreendam: não é que esse movimento não possa parar, ele não pode “ser parado”. Percebam a diferença.
Então, essa preocupação de fazer parar o pensamento, é uma preocupação do próprio pensamento; percebam a clara diferença disso. Realização é o seu Estado Natural, além da mente, portanto, além do pensamento, mas você não pode parar o pensamento – isso é algo que precisa ficar muito claro para você, dentro desse trabalho. Você pode tocar em algo bastante importante, estando nesse trabalho, se compreender que a mente pode parar, mas você não pode pará-la; que o pensamento pode parar, mas você não pode pará-lo. Ou seja, é possível estar além da mente, nesta não-mente, e isso acontece quando não há mais esse movimento do pensamento; é muito sutil essa diferença. Quando não há mais o pensar, a não-mente está. Porém, você não chega a essa não-mente parando de pensar, pois não é um trabalho da mente acabar com a própria mente, destruí-la.
Muitos estão tentando isso, por exemplo, em todo tipo de prática de meditação, mas, na verdade, por detrás dessa prática está a mente tentando destruir a “mente”. Ramana chamava isso de “o ladrão, vestido de policial, tentando capturar o ladrão”. Então, eu quero tranquilizar você sobre essa questão de tentar parar a mente: não faça qualquer esforço para parar o pensamento, pois isso é um esforço da própria mente, do próprio ego. Não é necessário praticar nenhuma ação contra a mente, porque isso seria a mente lutando contra ela mesma; você dividindo a mente em duas (uma é o “policial” e a outra é o “ladrão”).
Não tente parar a mente! A única coisa que você pode fazer é ficar quieto e observar! Isso não requer nenhum esforço e é algo muito simples: você apenas para e observa, e deixa a mente maluca solta; não faça nada contra a mente, nem faça nada a favor dela. Não fique a favor nem contra a maluquice que se passar na sua cabeça, pois tudo são pensamentos, e eles não são seus; nem a cabeça é sua, ela é do corpo. A cabeça pertence ao corpo e os pensamentos pertencem à mente, porém, você é essa Consciência, onde surgem o corpo, com a cabeça, e a mente, com os pensamentos.
Eu sei muito bem qual é o problema que acontece com você e vou lhe contar agora. Você já decidiu que existe algo errado com a mente e, então, ficou contra ela, tornou-se inimigo dela. Entretanto, foi aí que você foi capturado pela própria mente. Então, às vezes você diz “Eu não suporto mais esses pensamentos”, como se esse estado não fosse o próprio pensamento “nervoso” dizendo isso. Mas, quem está dizendo isso? Assim, a mente se separa e ela, agora, quer matar a “mente”, e você fica nesse jogo – essa é a dualidade, em que há uma separação: um pensamento querendo matar outro; um sentimento querendo destruir outro.
Realização é fruto da Consciência! Na Consciência não há separação, dualidade, nem há mente. Então, nesse Estado, você apenas assiste à mente, e não há nada errado com ela. Às vezes, pela manhã, você olha para o céu, o vê cheio de nuvens, mas não diz que tem alguma coisa errada com ele; não reclama do céu porque ele está cheio de nuvens. Você não diz: “Eu quero que essas nuvens todas desapareçam, para ficar somente o céu azul”. Os pensamentos são como as nuvens que, às vezes, aparecem no céu, nesse “céu” que é a Consciência, e, quando você apenas fica quieto e observa, essa observação é como um vento suave, que começa a varrer o céu e as nuvens começam a se dissipar.
Então, reparem no que eu disse: o pensamento pode desaparecer, parar, mas você não pode fazê-lo desaparecer, parar. Não é o seu esforço que vai fazer isso, porque esse esforço ainda é o pensamento “nervoso”, é o movimento do próprio pensamento. Estou lhe falando sobre a arte de permanecer desidentificado da mente, deixar a mente e sua maluquice desaparecerem naturalmente, sem esforço. Olhe com profunda reverência, não seja um lutador. Apenas assista! Permaneça destacado, desidentificado, distante, apenas observando. A boa notícia é que, quanto mais profundamente você observa, mais profunda é a sua Consciência; o “céu” fica limpo e o “sol” brilhando, maravilhoso! Essa é a forma de lidar com a mente e, então, toda a Vida se torna transparente, sendo Ela a própria Consciência!