O que nós temos de singular nesta Realização é o fato de que não estamos diante de algo que possamos descrever de uma forma positiva. Nós podemos apontar para você aquilo que Isto não é, não aquilo que Isto é. Não é como apontar para um objeto e dizer: “Autorrealização é semelhante a isto”. Autorrealização é sempre além daquilo que a mente pode descrever, explicar ou traduzir.
O foco de sua atenção está sempre direcionado a coisas, ideias, situações e pessoas, então, você nunca se encontra com você mesmo, você não traz este foco para si mesmo. Seu foco está sempre em ideias, que são pensamentos, objetos, experiências e percepções. Quando se está trabalhando esta Realização, é preciso se tornar consciente de sua própria existência, da importância de sua existência, trazer o seu foco para si mesmo. Todo o seu hábito, cultura e vício é de se voltar sempre para o exterior, para aquilo que é externo a você. Você está trabalhando para obter uma realização externa, para conseguir aquilo que está do lado de fora. Então, você não tem um foco em si mesmo, em seu próprio ser, em sua própria existência. É necessário ver como você funciona, observar os motivos e resultados de suas ações. Dessa forma, você pode ir além dessa prisão que você criou para si mesmo por pura inconsciência, por não saber quem você é.
Agora, observe como isso é interessante: sabendo o que você não é, você pode reconhecer a sua Real Natureza, a Verdade sobre si mesmo. Então, se você sabe, por essa investigação, que você não é os pensamentos, as experiências, as sensações e as realizações externas, você pode reconhecer sua Verdadeira Natureza. Essa é a forma dessa prisão – que você construiu em volta de si próprio de uma forma inadvertida, de uma forma inconsciente – desaparecer.
Você carrega sempre esse sentido de “Eu Sou”, mas ele está mergulhado nas experiências externas, nas experiências da mente, então, você perde a real pureza desse sentido. Assim, esse “Eu Sou” é apenas algo perdido dentro dessa prisão do experimentador, do pensador, do fazedor, o que é uma ilusão. Não existe nenhum experimentador, nem um “fazedor”, nem um pensador; aí está a ilusão! Então, quando você descobre que você não é isso, você está em contato direto com a verdade sobre a sua Natureza Real.
Não basta dizer: “Eu sou Consciência”, “Eu sou Deus”, “Eu sou a Presença Divina”. Isso também é mais um pensamento do pensador. Nós não estamos interessados nisso aqui, porque isso é mais uma ilusão, mais uma crença, mais uma ideia. Uma coisa é certa: o Real não é uma imaginação, não é uma crença, não é uma conclusão, não é uma ideia. Estamos vivendo um momento em que há muitas ideias sobre a Verdade sendo propagadas, o que é mais uma ilusão; isso ainda está dentro da prisão. Aqui, você não pode estar interessado em ideias! Se você está interessado em conhecimento, está no lugar errado.
O Real está além do conhecimento e da ignorância. É somente o intelecto que se interessa pelo conhecimento. O seu Ser não precisa saber, não precisa conhecer, não precisa aprender. Uma vez que você esteja claramente ciente disso, de que nenhum ensinamento pode lhe dizer algo sobre a Verdade, sobre o seu Ser, então você está pronto para ir além da prisão das teorias e crenças do conhecimento.
Isso o assusta de alguma forma? Tudo que você precisa é se livrar dessa tendência de buscar definições sobre quem você é; de tentar, ouvindo falas e lendo livros, ter uma ideia sobre Isso, o que seria só mais uma imaginação.
Uma peça de ouro coberta de poeira continua tendo o mesmo valor. A poeira, nessa peça de ouro, não ameaça em nada o seu valor e beleza. O que eu quero dizer com isso é que toda essa ilusão que você tem sobre si mesmo não diminui em nada a Verdade sobre quem você é. Toda essa ilusão, medo, miséria e sofrimento não diminuem a Verdade de Deus presente. Quando essa sua obsessão pela mente e pelo corpo desaparece, aí está você em sua Natureza Real, em seu Ser. Tudo que você precisa é se livrar dessas tendências de se confundir com uma mente e um corpo, de estar com o seu foco direcionado para o lado de fora, para as exterioridades. A diferença entre você e o sábio, é que este está ciente de seu Natural Estado, do seu Ser Natural, enquanto que você está se confundindo com a ilusão de um fazedor, de um pensador, de um experimentador.
Participante: Como tomar ciência Disso? Como que o ouro se livra de toda essa poeira?
Mestre Gualberto: Você descobre Isso estando determinado, sendo persistente, questionando diariamente, a toda hora. Este deve ser seu único propósito.
Você é como uma folha descendo o rio. Se você perde o propósito, essa folha se agarra a uma das margens e fica parada ali por algum tempo. Quando você se volta de novo para o propósito, a folha se solta da margem e continua descendo.
Em Satsang, diante de um Mestre vivo, você é como uma folha descendo rio abaixo. Esta folha até tenta parar em uma das margens, mas aí um volume maior de água vem e termina arrastando essa folha mais uma vez, soltando-a de novo da margem. Todas as vezes em que você tenta se manter no antigo modelo da mente egoica, vem um volume novo de água desse rio, que é o Guru, a Vida, a Presença Divina, e o arrasta de novo para dentro d’água. Todas as vezes em que você tenta se agarrar aos seus antigos medos, desejos, propósitos e realizações externas, um volume de água novamente solta você de uma dessas margens… Você tem que descer mais um pouco.
Esse fluir com o rio, com a Vida, com o Guru, significa aceitação, não resistência, rendição. Você descobre que não pode se agarrar a absolutamente nada, pois as coisas, as pessoas e os relacionamentos vêm e vão; as experiências vêm e vão. Se você ficar agarrado a uma dessas coisas, você ficará estancado, parado na margem do rio. Você descobre, diante da presença da Graça, que tudo isso são apenas nuvens: experiências, sensações, pensamentos, emoções, sentimentos, objetos, pessoas, lugares, realizações… Qualquer uma dessas coisas pode lhe prender! Esse é o antigo e velho pó; a antiga e velha poeira sobre a peça de ouro.
Assim, essa prisão que você construiu à sua própria volta, só pode ser destruída por uma profunda, honesta e determinada investigação dessa ilusão.