A Consciência não está no tempo; a mente está. Tempo é sinônimo de mente, que são pensamentos. A Consciência é seu Estado Natural – na Índia, eles chamam isso de Liberação, Moksha, que é o Estado de Consciência autofulgente, resplandecente. É como quando você olha para o céu e vê a lua entre as nuvens… É ainda um amanhecer e o sol está começando a apontar, a brilhar no horizonte. A lua está lá, entre as nuvens, e o sol começa a brilhar, a se espalhar pela Terra. O sol vai subindo e a lua, que antes estava tão brilhante, vai empalidecendo… Você olha e se pergunta: “Onde está a lua?”. O brilho do sol é tão grande que a lua desaparece. Ela está lá, mas não faz mais nenhuma frente.
O Estado Natural é algo semelhante a isso. A mente está presente, com todas suas funções naturais: sentir, pensar, emocionar-se, raciocinar, deduzir, concluir, falar… No Estado Natural, a mente está presente com todas essas funções. Mas, como o “sol” está brilhando, a mente já não tem importância. O sol é a Consciência e a mente é a lua. Uma vez estabelecida essa Consciência, uma vez que o sol esteja em pleno meio-dia, a lua faz o trabalho dela sem tirar o brilho do sol. Então, a mente opera em suas funções naturais, mas não toma o lugar da Consciência. O Estado Natural é assim!
No estado não natural, que é o estado do homem comum, a lua está tentando tomar o lugar do sol, tentando fazer o trabalho dele. Então, a “lua”, quando tenta fazer isso, mistura suas funções naturais, que é raciocinar, concluir, deduzir, explicar, conhecer, experimentar… Ela pega isso e cria a ilusão de um experimentador controlando essas funções. Ela passa a assumir um controle que não é dela.
A mente tenta assumir o lugar da Consciência, “a lua tenta roubar o brilho do sol”. Ela não se contenta em apenas refletir o brilho do sol, ela quer roubá-lo totalmente. Ela quer ser um sol à parte, e esse é o sentido de separatividade; é isso que as escrituras chamam de queda de Satanás. Na Bíblia, no livro de Isaías, tem algumas palavras assim: “Subirei acima das mais altas nuvens e me tornarei semelhante ao Altíssimo!”. É toda uma linguagem figurada desse sentido de identidade no controle, sendo senhora de tudo. Isso produz a ilusão do espaço e do tempo para essa suposta entidade presente.
Então, a mente, que tem suas funções naturais (pensar, sentir, deduzir, concluir), em razão dessa ilusão da separatividade, cria o sentido de um “eu” na experiência “corpo-mente-mundo”. Aí, surge a ilusão do ego. A mente, em si, não é má. Pensar, sentir, concluir, deduzir, aprender, lembrar, esquecer, isso tudo é bem natural. Porém, quando está a serviço de uma suposta entidade presente nisso, a serviço de um “eu” separado, complica tudo! É aí que surge o Satã – Satan, em Hebraico, e Diabolus, no Grego!
A noção de tempo e espaço surge para essa “identidade”, não para a mente. Colocando de uma forma didática, nós chamamos isso de “mente egoica”, mas, a mente, em si, é somente a lua em um céu, onde o rei é o sol; a lua apenas reflete o brilho do sol, sem problemas. Ficou claro isso? Por isso que você me vê usar, às vezes, a expressão “mente”, referindo-me a essa mente egoica. Contudo, outras vezes, estou falando somente da mente e de suas funções naturais, não da mente egoica. Ou seja, você pode observar, nas falas, que eu faço esse intercâmbio entre mente e mente egoica. Assim como o corpo tem funções naturais, a mente também tem. O que chamo de mente, nessa “máquina” [corpo-mente], é essa operação inseparável do próprio corpo (fala-se “mente”, mas, na verdade, corpo é mente e mente é corpo). Aqui, estou me referindo às funções não-físicas da “máquina”, mais sutis, como o “sentir”, o “perceber”, o movimento do pensamento, a razão e assim por diante.
Agora, é espaço para o atemporal. Esse espaço para o atemporal é o “sol” em sua fulgência, em sua glória. Uma vez que essa Consciência esteja estabelecida nesse mecanismo, nesse organismo, a mente assume as funções naturais dela. O Agora, que não é o “agora-tempo”, mas o Agora atemporal, que é Consciência, assume o lugar Dele. Então, fica irrelevante o passado ou o futuro, já que essa suposta entidade não está mais presente. É possível lembrar-se do passado, como se lembra de um filme, mas sem aquelas antigas sensações do momento em que ele foi assistido.
Repare que, no momento em que está assistindo ao filme, você passa por várias sensações e sentimentos; as imagens e os sons causam impressões. Porém, depois, quando você se lembra do filme, você ri, porque é um filme que não causa mais nenhum impacto; não é mais “o filme”, é somente uma lembrança sem importância. Então, o passado é essa lembrança sem importância, que, na verdade, está acontecendo agora apenas como parte, também, de uma imaginação, porque não tem nada, de fato, acontecendo. Agora não!
Quando isso está resolvido, é visto assim. Porém, quando não está resolvido, o “filme” volta – que é o passado – ainda com toda aquela carga de impressões imaginárias, que são sentidas agora, aqui. Então, os traumas são assim. Não apenas eles, mas toda e qualquer lembrança egoica opera dessa mesma forma: é apenas uma imaginação aparecendo nesse momento e tomando uma impressão de realidade, porque ainda encontra uma reverberação nessa ilusão de uma “identidade” presente, ainda carregando o passado – que é somente memória, imaginação.
O ego é isso: a ilusão de uma identidade presente agora, aqui, sentindo um trauma, uma culpa, um remorso, um arrependimento (o que chamam de depressão). Ou, ele joga com a memória imaginativa de um futuro (o que chamam de ansiedade), mas é o mesmo processo. É sempre a imaginação de uma “identidade” agora, aqui, sentindo. Não tem nada aqui para sentir isso; há somente a ilusão de que você é real dentro do corpo, e que essa imaginação é sua, desse “alguém” que você acredita ser.
O Estado Natural é a Consciência deste instante, mas é uma Consciência Real. Não é a visão do momento presente; é a Consciência deste instante. Na Consciência deste instante, pode aparecer a memória de um passado, a imaginação de um futuro, mas isso é somente um acontecimento neste instante, como um pensamento, sem nenhuma validação, verdade – não altera em nada O que É.
Se aparece uma lembrança, ou uma imaginação, isso não tem importância. O pensamento nesse Estado Natural é como o feno no fogo forte, que, enquanto cai, já desaparece na chama. A mente do Sábio funciona assim: quando o pensamento aparece, ele já é consumido nessa Consciência. Então, não se estabelece o tempo, o passado ou o futuro. A Consciência é essa Presença agora!