Em Satsang, tratamos da Verdade, que é o real Conhecimento. O real Conhecimento é aquele que não é limitado, não pode ser aumentado ou diminuído. Você sabe que, pelo estudo, é possível o aumento do conhecimento; quanto mais se estuda, mais se sabe, porque se conhece mais. Assim, este conhecimento é limitado por natureza. Por exemplo, se você sofre algum acidente, bate com a cabeça, ou sofre algum prejuízo em uma parte específica do cérebro, é possível que este conhecimento desapareça. Então, esse é um conhecimento que pode ser perdido ou diminuído. Na vida, toda a nossa experiência do mundo é somente uma experiência mental. Assim, esse conhecer, ou esse conhecimento, que pode ser aumentado ou diminuído, é apenas parte do pensamento ‒ é assim, portanto, toda a “sua” experiência de mundo.
A Natureza Verdadeira do Ser é puro Conhecimento, mas não esse tipo de conhecimento. Estamos tratando nestes encontros deste ilimitado Conhecimento do Ser. Toda experiência do mundo que você tem se transforma numa espécie de conhecimento limitado, enquanto a Realização é esse ilimitado Conhecimento, que é sinônimo de Consciência. Realização é pura Consciência! Esse ilimitado Conhecimento, que é Consciência, é a Verdade do Ser. Assim, por direito de nascimento, você é essa Consciência, esse ilimitado Conhecimento, e isso é Sabedoria.
As pessoas procuram a felicidade, mas, em seu estado de pura ignorância, de total inconsciência, não podem encontrá-la. Elas procuram a felicidade no mundo de conhecimento limitado, no mundo mental. A realidade da experiência é pura Consciência, que está presente neste instante, aqui e agora, como Felicidade. Todo problema surge quando você se confunde com o pensamento, com essa consciência limitada, que é uma distorção da realidade, da experiência, e isso é infelicidade. Então, na mente, você não está vivendo a realidade da experiência, mas a ilusão do experimentador; essa é a distorção dessa consciência, a limitação do conhecimento.
Ramana Maharshi mostrava, insistentemente, para aqueles que vinham até ele, que a percepção que eles tinham do mundo era uma ilusão. A visão que você faz do mundo é a ilusão do pensamento. Então, a sua relação com o mundo é o ponto de vista da ilusão de um “experimentador”. Sua experiência do mundo é semelhante à experiência que se tem durante um sonho, em que você acredita que é um “experimentador” do mundo do lado de fora, de um mundo externo.
Você nunca duvida que aquela pessoa com quem está conversando no seu sonho é apenas uma produção da sua própria mente, nem que não existe nenhum experimentador ali. Na verdade, é só a mente no seu próprio jogo de construção. A mente, que é pensamento, está criando o seu corpo e o do outro com quem você, aparentemente, está conversando. Isso acontece tanto no mundo do sonho como neste mundo, onde, aparentemente, você está ouvindo alguém através do Paltalk [sala virtual]. No entanto, tudo isso (essa experiência de falar, ouvir, ver e sentir) são apenas pensamentos, que são desdobramentos dessa impessoal e ilimitada Consciência.
Um dia um homem foi até Ramana e disse: “Mestre, eu estou com dor de dente. Isso é apenas um pensamento?”.
Tendo Ramana respondido que sim, o homem lhe indagou: “Então, por que não consigo simplesmente pensar que meu dente está normal e, assim, me curar?”.
A isso Ramana respondeu: “Quando você está inteiramente absorto, ocupado com muitos outros pensamentos, essa dor diminui muito ou, dependendo do volume de pensamentos, você nem mesmo sente essa dor. É assim, também, quando está dormindo”.
Então, o homem disse: “Mas, ainda assim, ela continua aqui”.
Ramana respondeu: “A convicção humana de que o mundo é real é tão forte, que se torna bastante difícil se libertar dela. Mas, o mundo não é mais real do que o próprio sujeito que o vê”.
Toda experiência que você, preso aos pensamentos, tem do mundo, é completamente equivocada – a experiência de uma suposta “pessoa” presente na experiência; isso é uma ilusão! A Liberação, a Realização, a Verdade do Ser, é a pura experiência, mas sem “alguém” para interpretá-la. Então, se existe dor, é somente a dor; se existe prazer, é somente prazer; se existe pensamento, é somente pensamento. Como disse Ramana, a convicção da mente humana de que o mundo é real é muito forte. Eu quero dizer que, enquanto você estiver preso à ideia de “alguém” presente nessa experiência dos sentidos, do corpo e da mente, a ilusão estará presente; essa limitada consciência estará presente.
Todo o seu trabalho é se desidentificar da ideia de “alguém” presente na experiência. A real forma de se libertar de todo sofrimento é abandonando a ilusão de “alguém” presente, vivo, na experiência. Toda a dificuldade que você tem está nessa convicção de que sua história pessoal é uma realidade, o que dá autenticidade a “alguém”. Então, esse sentido do “eu” – que tem um nome, um corpo, uma história – na experiência e a valorização disso continuarão lhe dando essa crença de que você é quem acredita ser. Assim, se algum dia aqueles que fazem parte dessa história, que você acredita ser sua, forem afastados ou tirados de você, por terem morrido ou ido embora, ficará evidenciado, exemplificado, o sofrimento pessoal dessa consciência limitada, dessa distorção, desse equívoco.
No entanto, se o “sofredor” morre, quem fica para sofrer? Se o “experimentador” desaparece, quem fica para experimentar a frustração, a decepção, a dor ou a falta? Ao acolher, abraçar e ver toda essa manifestação acontecendo, sem as conclusões desse falso “eu”, nem as interpretações dessa suposta entidade na experiência, essa ilusão começa a perder o poder de encanto sobre você, e esse sentido de autoimportância e valorização pessoal começa a ser desmascarado. Essa é a nossa proposta em Satsang: desmascarar esse falso “eu”, despersonalizar a experiência e revelar sua Natureza Verdadeira.