O que você chama de destino é apenas aquilo que está acontecendo, que já aconteceu ou acontecerá ao corpo. Isso já está programado. Então, o dia em que você nasceu já estava marcado para a aparição deste corpo. O dia da sua morte, do desaparecimento desse corpo, também já está determinado, bem como o dia do sepultamento. Tudo pelo qual esse corpo está determinado a passar é o que você poderia chamar de destino. Isso é uma coisa… Outra coisa é o Despertar, que é a consciência de que isso que é chamado de destino é só um sonho associado a esse mecanismo, a esse corpo-mente, a essa máquina. Então, são duas coisas distintas.
Se você não desperta para sua Real Natureza, você passa essa assim chamada “sua vida” na completa ignorância sobre quem, de fato, você é, confundindo-se com o corpo e, naturalmente, sendo vítima do destino, porque o destino não está no seu controle. Você não controla absolutamente nada! Tudo isso só acontece como um fenômeno da Consciência, chamado de destino, mas não tem você nisso! Você não faz os olhos piscarem, a digestão da comida, o coração bater… Não tem você! Da mesma forma, não tem você nascendo, não terá você morrendo e não tem você pensando – o pensamento só acontece também. Tudo só acontece, e esse é o destino da forma, do corpo-mente, dessa máquina. Se você passar a vida inteira só nisso (que é o que acontece com a grande maioria), da mesma forma que você nasceu (sem consciência), você também morrerá.
Você não sabe quem você é, porque se confunde com o corpo e a mente, com esse mecanismo, com os acontecimentos relativos a essa estrutura e, claro, você sofre! Esse sofrimento é a consequência da resistência a esse movimento da vida, é a tentativa de mudar o que é, a tentativa de mudar o que já está escrito.
Alguém disse: “Todos estão destinados a essa Realização!”. Isso não é Verdade! A Realização não é uma destinação; Ela está além do destino. O destino está em nascer, crescer, procriar, adoecer, envelhecer e morrer – esse é o destino de todos. A Realização é um “luxo” – vamos colocar assim. Isso é ser salvo dessa situação, o que é algo ainda raro nessa chamada humanidade. Além disso, a Realização não é uma destinação por outro aspecto também: Isso já é assim! Você não alcança Isso! A dificuldade está nesse paradoxo da Verdade: você já é O que É, e nunca vai deixar de ser, no entanto, se você não toma consciência Disso, você é só um zumbi, um morto-vivo que nasce, cresce, namora, casa, tem filho, adoece, envelhece e morre… dormindo! Morre sem a menor ciência da Felicidade de Ser, que é Pura Consciência, em que não há identificação com o nascimento e a morte. Isso, na linguagem Cristã, seria a salvação em Cristo, salvação no Ser, na Consciência, na Verdade, em Deus! Isso é a Realização de Deus e é um “luxo”!
Você pode, precisa e nasceu para realizar Isso, mas também pode continuar vivendo essa assim chamada “sua vida” da mesma forma e morrer como todos, sem nenhuma ciência de quem é Deus. Saber quem é Deus é saber quem você é, porque não tem Deus separado do que você é, e isso é um “luxo”.
Isso não tem nada a ver com destino, mas com ir além dele, além desse movimento de causa e efeito, além do assim chamado karma. A Bíblia também tem uma expressão nesse sentido, quando diz: “Aquilo que o homem semeia, ele também colhe!” – causa e efeito, o mesmo princípio do karma, na Índia. Por tudo que você faz, você responde. Essa é a ideia do juízo final, do julgamento. Quem passa pelo juízo final, quem passa pelo julgamento, é quem se identifica com o corpo. Esse passa pelo julgamento, que é receber as consequências de seus bons ou maus hábitos. Tudo isso está na dimensão do ego, na dimensão da ilusão, desse sentido de identidade.
O que você faz aqui é deixar esse “senso de fazedor”; você se abandona no Divino, que é o Ser. Então, você não mais está nessa posição de causa e efeito. O corpo continua como um relógio, ao qual foi dada corda, e ele vai até quando terminar a corda, mas você já sabe que não é o corpo, já sabe que o que acontece ao corpo não está acontecendo a você, sabe que o que acontece ao mundo não é assunto seu, sabe que você não tem pai, não tem mãe, não tem filho, não tem marido, não tem cão, não tem gato, não tem casa, não tem conta bancária, não tem nome, não tem forma… Não tem, não tem, não tem…
Você não é nada disso e não tem nada disso! Você é puro Ser, pura Consciência, pura Inteligência, pura Liberdade, pura Felicidade, pura Alegria! Um dia, Cristo disse: “Eu vos dou a minha Alegria, para que Ela esteja em vós!”. Não é a alegria que o mundo dá! Então, vocês têm a minha Alegria! Ela permanece em vós e nada pode tirá-la de vós! Essa é a Alegria da Natureza de Deus, da Natureza da Consciência, da Natureza do Ser.
Na Índia, eles chamam essa Alegria de Ananda. A sua Natureza Real é Ser, Consciência e Felicidade. Por natureza, você está aqui apenas para viver Isso! Consciência não é um sonho. Sonho é inconsciência, é ignorância, é mente em projeção. É difícil, a princípio, você aceitar que está sonhando; que não há essa “sua vida”, mas apenas um sonho acontecendo, o qual não é seu, porque não tem você… É só a mente sonhando. Nesse sonho, a mente está fazendo aparecer personagens, os quais você acredita que estão do lado de fora, mas eles estão dentro da própria mente. O primeiro personagem, que é o mais atrevido, é o “eu”. Quando você diz: “Eu”… Pronto! Já faz aparecer o outro, o mundo e tudo mais.
Tudo começa nessa ilusão principal: “eu”. Não tem “eu”, só tem a mente sonhando. Então, quando você acorda e vê isso, você está livre do sonho, está livre do bem e do mal, do certo e do errado, do que é santo e do que é profano, do nascer e morrer, do diabo e desse “Deus” que a mente concebe. Portanto, você está fora da dualidade, está fora dessa ilusão, e isso é Iluminação, é a Realização da Sanidade. Sanidade é viver como pura Consciência — esse é o estado do Santo. O Santo está além do mundo! A palavra Santo significa completo, íntegro, total, sem emendas, sem rasuras, sem pedaços. Essa é a Natureza da Consciência! Não tem nada a ver com o corpo e seu destino. Assim que acaba a “corda”, o corpo é descartado, mas sua Natureza Real permanece.
Ou você realiza Isso agora ou não realiza. É por isso que a Bíblia diz: “Basta ao homem nascer uma vez, depois disso vem o juízo!”. Basta resolver isso agora! Basta nascer uma vez para resolver isso! Se você não resolve, vem o juízo, que, como acabei de falar, é consequência da identificação com a mente. Se você não realiza Isso, o sonho continua: você vai para o céu, para o inferno, para o purgatório… Alguns podem ir para colônias espirituais, se preferirem, mas não tem ninguém lá também! É o mesmo sonho daqui! Então, nesse sonho, você pode estar no céu, porque acredita que morreu. Isso vai de acordo com a crença da mente, com o fundo de condicionamento que cada um traz. Isso é como mudar de casa: você morava em Fortaleza e foi morar em Gravatá… Você acha que mudou alguma coisa, não é? Mas não mudou nada! A mente carrega suas projeções para onde quer que ela vá, e lá não está Você, porque Você está além da mente, além do tempo, além do espaço, além do nascer e do morrer, além do céu e do inferno, do purgatório, etc.
Essa Realização é a rendição do “eu”, desse falso “eu” que está muito “feliz” onde se encontra. Ele está no seu mundo, dentro do conhecido. Por isso, ele não vai soltar esse “osso” facilmente. Em outras palavras: tem algo dentro de você que quer essa Liberdade, mas também tem algo aí que não tem nada a ver com essa Liberdade, mas apenas com esse mundo. “Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele!”. Amar esse mundo significa amar o conhecido. Isso é mais certo, mais seguro do que esse salto no desconhecido, do que não ser nada nem ninguém, não ter nome, não ter mais certeza e nem garantia de nada.
Acordar é uma questão de tomada de Consciência, que é o reconhecimento de sua Identidade Verdadeira. É necessário que o falso seja visto como falso. É basicamente isso! Não é uma construção; é uma desconstrução da ilusão. Então, quando eu falo para você: “Vamos olhar para isso agora?”, e você diz: “Eu quero olhar para isso, mas chegou o Natal e eu não quero olhar para isso no Natal… Eu vou tomar vinho… Tem a questão dos meus parentes, também, e eu já estou toda programada!”. Aí eu falo: “Tem a virada do ano também…”, e você responde: “Não! Na virada do ano também não dá, porque tem mais parentes para chegar. Eu vou fazer isso em janeiro ou no carnaval”. Mas, daqui até o carnaval vai acontecer tanta coisa! Você nunca sabe se ainda estará interessado nisso até o carnaval, porque você vai sendo absorvido por esse “eu”, por tudo que ele tem como bom, prazeroso e certo.
Assim, você vai colocando Deus por último, ou seja, o Amor do Pai não está em você, o Amor da Verdade não está em você, você não está “queimando” por Isso. Quando você está queimando de Verdade, você não tem mais nada para fazer, você só tem Isso, e é isso que determina o trabalho.
Eu conheci um homem que estava “queimando” por Isso. Ele largou tudo aos 18 anos. Queriam casá-lo, mas ele não aceitou. Com 18 anos, ele se colocou aos pés de Ramana, porque ele estava “queimando” por Isso… E ele resolveu isso rápido: 40 anos depois! Annamalai Swami.
Sem essa Realização, você é só uma marionete da fatalidade. É como se Deus tivesse um tabuleiro e você só fosse uma peça infinitamente sem importância. O movimento dessa peça, que é você, algo infinitamente sem importância, é o movimento dessa “mão” chamada destino. Sem Realização, você é só uma marionete, uma peça nesse grande tabuleiro. Com a Realização, você é o dono do tabuleiro! Você está vendo o jogo todo e, o melhor: você está se divertindo com ele, porque você está vendo como são fantásticos, como são extraordinários os grandes feitos do Senhor, o absoluto Poder da Verdade, a absoluta Soberania da Verdade, a absoluta e extraordinária Grandeza da Verdade. Quem não deixar tudo por Isso, não sairá desse jogo; quem não ignorar completamente o movimento do destino e toda sua história, não sairá do tabuleiro. Permanecerá lá dentro!
Participante: Na Índia, isso é chamado de roda de Samsara! Você não sai de lá enquanto não se realizar.
Mestre: Pronto, é isso! A roda de Samsara é o nome do tabuleiro. Por isso eu disse para vocês que a Realização é um “luxo”: Ela é só para os fortes! E os fortes são aqueles que se tornam um nada por amor a Deus, à Verdade, à Realidade. Por isso tem que perder tudo: para ganhar tudo; por isso tem que morrer: para imortalizar-se. Tem que descobrir que nunca nasceu, que isso era só um jogo para essa Imortalização, para esse Natural Estado de ausência de tempo e espaço. Isso é realizar o Cristo, é realizar o Buda, é realizar a Verdade de sua Natureza Essencial. Então, seus olhos permanecem fixos no Divino; estão olhando para Ele! Ele é o mais desejado, o único desejado, e, então, você canta para Ele!