Estamos juntos dentro de um real interesse pela Verdade. Se o interesse é honesto, verdadeiro, deve ser pelo pleno estabelecimento nesse Estado Natural. Na mente, tudo que se conhece é ansiedade, neurose, depressão, e tudo isso é fruto do medo. Na mente, você não vive o seu Estado Natural. Isso explica todo esse desconforto que você sente e essa busca constante por algo fora dessa condição, resultado do estado comum da mente, com os seus pensamentos, sentimentos, emoções, e suas corriqueiras atividades, que não é o seu Estado Natural.
Você já vive, há muito tempo, preso a esse modelo de condicionamento da mente, que é a pura identificação com hábitos mentais. Como resultado disso, em suas relações com pessoas, lugares, situações, você nunca consegue expressar o seu Ser. Essa não expressão do Ser, é o que chamamos de expressão da egoidentidade. Há em você essa Presença eterna, que, em nossas falas, denominamos Consciência, cuja natureza é Paz e Felicidade. No entanto, esses antigos hábitos de pensar e sentir, essas atividades da mente, não têm nenhuma relação direta com isso, porque as atividades estão relacionadas a objetos. Tudo o que a mente conhece é aquilo que ela mesma denomina. Assim, fica muito claro que tudo isso faz parte dela.
Toda experiência que você tem a partir do corpo, através dos sentidos, e a partir da mente, através de sensações, pensamentos, emoções, percepções, tudo isso faz parte da própria mente. Boa parte das atividades da mente, nas sensações, dependem do corpo, através dos sentidos, porém, uma grande parte dessas experiências, ou atividades da mente, acontecem completamente independentes das sensações, dos sentidos. Essa grande parte acontece nesse campo que o pensamento cria – um campo e um espaço imaginário. O passado, o presente e o futuro estão nesse espaço imaginário que a mente cria. Esse conjunto da obra nós chamamos de “pessoa”, “eu”, “mim”.
Nossa insistência continua sempre a mesma aqui, em Satsang: você não é real! Então, esse conjunto da obra é uma criação imaginária, um acontecimento misterioso; é, na verdade, uma grande brincadeira divina. Por isso, é muito importante o seu interesse pela Verdade, um desejo profundo e sincero, para deixar essa imaginação, e é isso que estamos fazendo em Satsang.
Uma coisa importante que temos para dizer, também aqui, é que o emprego da palavra é sempre limitado. Numa hora direi a você que é necessário um grande esforço nessa direção, noutra hora que nenhum esforço se faz necessário. É um grande esforço, mas não é realmente um esforço, porque não se trata de recuperar uma experiência que você perdeu. Para recuperar uma experiência que você perdeu, um grande esforço se faz necessário. Como aqui não se trata de uma experiência, mas exatamente o fim de todas as experiências, isso não é um esforço, é somente um reconhecimento. Agora, nos deparamos com o paradoxo dessa fala.
Um reconhecimento não requer nenhum esforço; tudo o que se faz necessário é a entrega dessa imaginação, desse falso “eu”, da crença nessa entidade separada. Todavia, essa é a rendição de velhos e antigos hábitos muito arraigados. Após cinco minutos de fala, diante de um cérebro bom, de uma pessoa relativamente equilibrada psicologicamente, a compreensão de tudo isso acontece. Então, a compreensão da necessidade dessa entrega é algo muito simples. Porém, essa entrega em si, em razão de hábitos muito arraigados, desse modelo muito bem estruturado, ao longo de milhares e milhares de anos – significando que a própria estrutura física, biológica, está profundamente condicionada –, torna-se um trabalho que não é fácil.
Estamos diante de algo simples, sem qualquer esforço, mas diante de algo nada fácil, que requer uma tremenda dedicação, entrega, rendição, e isso pode levar alguns minutos; alguns minutos para alguns, como temos isso relatado na história humana, ou pode levar algumas horas, meses, anos, uma vida toda, para outros. Mesmo assim, todos aqueles que se aplicam de verdade, nesse profundo e real interesse de se estabelecer em seu Estado Real, Natural, estão, absolutamente todos, no lucro. Isso porque a grande maioria passa todos os seus anos, que já não são muitos, sem nem mesmo suspeitar que estão dormindo, que não estão vivendo o seu Estado Verdadeiro de Ser, que eles não são quem acreditam ser; quem eles verdadeiramente são, eles nem de longe suspeitam.
Então, isso não é realmente um esforço, mas, sim, uma rendição amorosa de todos os velhos e antigos hábitos de sentir, agir, pensar; de se relacionar, com o próprio corpo, com o próprio movimento interno chamado “mente”, com os objetos externos, com as pessoas do seu círculo mais próximo e os mais distantes. Dessa forma, como resultado da entrega real desse falso “eu”, dessa forma de pensar, sentir e ser, é possível ir além dessa ilusão. Isso é algo que está ficando muito, muito conhecido. Estamos tendo, nesse momento da história humana, uma grande disseminação dessa possibilidade; pouco a pouco, todos estão ouvindo falar sobre Isso. É importante dizer, também, que esse não é um assunto como os outros, de conhecimento técnico, porque Isso não é algo que se aprende. Então, tudo o que você tem são indicações, apenas.
Quando olha para uma bússola, você vê nela um ponteiro, uma seta, sempre apontando em direção ao Norte; todas as indicações são assim. Você pode passar a vida inteira olhando para uma bússola, sem saber dizer para todos onde está o Norte; você não está lá, ainda. Então, você pode adquirir muito conhecimento sobre isso. As embarcações nos séculos passados se orientavam pelas estrelas, e depois surgiu a bússola; todas as bússolas antigas, também, apontavam para o mesmo Norte. Hoje em dia, esse instrumento ainda está em uso; são bússolas modernas, mas continuam apontando para o Norte.
Então, é possível que você, hoje, esteja tendo acesso a um conhecimento muito mais bem elaborado, numa linguagem bem acessível, porque há muitos professores espalhados por toda parte e, assim, há muitas “bússolas”, todas apontando para o “Norte”; há bússolas antigas e bússolas modernas. Se você estiver muito interessado em “bússolas”, estará interessado apenas no instrumento que indica o “Norte”. Assim, você pode ficar preso ao conhecimento ou a uma técnica que lhe agrade, ou a um professor espiritual – você vai estar agarrado à “bússola”.
Compreendem isso? Está claro isso?
O que eu estou dizendo é: vá além do conhecimento, além da indicação. Então, é possível estar no “Norte”, aqui e agora. Eu quero repetir: não se trata de uma experiência a ser alcançada, mas dessa constatação de que você não é o corpo, nem a mente. O que estamos lhe dando nesses encontros, é uma amostra do que significa o “Norte”, não o “ponteiro da bússola” para você ficar olhando para ela. A Verdade é algo que se revela experimentalmente, aqui e agora; é, na realidade, o experimental do que É. Você não pode ficar aí, em seu falso “eu”, porque assim não haverá espaço para essa Realidade.
Ok? Podemos ficar por aqui. Até o próximo encontro. Namastê.