Em Satsang, estamos diante de algo bastante singular, pois é aqui que nos aproximamos de uma constatação direta da Verdade sobre nós mesmos.
Em alguns momentos, quando você tem a oportunidade de ficar sozinho, sem nada, e, por alguma razão, não está ocupado com atividades externas, fica muito claro para você que, nesse momento, você experimenta uma tremenda carência interna, uma profunda insuficiência, um “vazio existencial”, como alguns chamam. Isso é comum a todos, parece ser um destino comum a todos, além de ser, também, algo que produz uma forte necessidade de preenchimento, para afogar essa carência, esse vazio. É isso que nos leva a uma ação, a uma constante ação…
Para sua informação, o que nós chamamos de grandes obras construídas pelo intelecto ou pela emoção do homem nasceram desse estado de carência, de insuficiência e dor. Então, quando você está admirado diante de um quadro – que você chama de uma bela obra de arte – ou diante de uma escultura, uma música, um poema, uma novela escrita, um livro, um grande best seller, tudo isso é resultado dessa busca de preenchimento interno, que levou aquele, assim chamado, “artista”, “músico”, a uma atividade que fez nascer aquilo. Porém, aquilo que é tão admirado, paradoxalmente, nasce de muita dor, muito sofrimento, muita carência… Você pode procurar na história dos grandes mestres da pintura, da música, da dança, e descobrir o que os motivava em suas obras.
O que eu estou dizendo, em outras palavras, é que a Felicidade não cria nada, não produz nada. A mente produz, mas o Ser não! Ele não age, não faz. O Ser é puro Ser, é pura Consciência, é aquilo que sustenta as aparições, não precisa de autoexpressão. Isso é bastante diferente da mente, que precisa, tem uma necessidade de preencher a si mesma com a expressão.
Um homem como Buda, Ramana, ou Krishna, não tem qualquer necessidade de autoexpressão através da mente, porque não há mente ali; não há mais esse vazio, essa frustração, nem esse desejo da ação para compor poemas, esculturas, pinturas, músicas. Com isso, não estou falando que a arte não possa acontecer, mas essa é uma Arte completamente diferente, daquilo que nós consideramos arte, nascida dessa frustração existencial.
Kabir, Rumi e outros santos e sábios também fizeram poemas e canções. Alguns Sábios escreveram livros, Jesus deixou suas falas, Ramana deixou o seu Silêncio. Todavia, os sábios e os santos não estavam lá. Não tinha “alguém” ocupado com uma ação, com a construção de alguma coisa; aquilo era somente um acontecimento. É assim com as falas que nascem em Satsang, que nascem desse Silêncio, dessa Consciência, dessa Presença, que não nascem da frustração, da carência, nem do desejo de autoexpressão.
Então, vou repetir isso para você: é possível que essa ação apareça, mas não é a ação da frustração. A fala que nasce em Satsang ou as ações que nascem dessa Presença, dessa Consciência, são um transbordamento dessa Alegria, dessa Liberdade, dessa Felicidade. Isso é a verdadeira Arte… é o resultado direto da Meditação, desse Estado Natural. A verdadeira Arte é a Arte da Felicidade!
Qualquer coisa que você chama de arte e não nasceu da Felicidade, não é arte genuína. A Verdade é a base de toda manifestação genuína, mas não é uma necessidade que nasce do desejo de autoexpressão, dessa motivação geral que a mente conhece de se preencher na ação. Se nós nos aproximarmos disso, veremos que tudo isso só pode dar uma felicidade, uma alegria e uma realização efêmeras.
Estar em Satsang é estar diante da Vida, da real Felicidade. Essa Vida, Verdade, Felicidade, é algo dentro de Você, mas é algo além da mente. Essa é a última satisfação, a Alegria inefável, sem motivo, algo sempre presente, além dessa ilusão do “eu”.
Estamos juntos?
A Felicidade é aquilo que vive dentro de nós, com todo o seu frescor e pureza, algo que não pode ser contaminado com a mente e seus desejos, projetos, intenções, premeditações. A verdadeira Felicidade não advém, não surge das coisas. Se a Felicidade pudesse vir das coisas, ela deveria ser maior quando tivéssemos mais coisas, menor quando tivéssemos menos coisas, e completamente nula quando não tivéssemos nada. Mas não é bem assim…
O rico é aquele homem que possui muitas coisas, mas ele não é infalivelmente feliz, pois, contrariamente, ele tem muito mais preocupações. Nem o pobre, que tem muito pouco, é necessariamente infeliz por isso. Porém, quando o pobre e o rico vão dormir, quando ambos estão em sono profundo, estão em perfeita paz, sem nenhuma preocupação, sem nenhum sofrimento, ou seja, o pobre não tem dívidas, nem o rico tem preocupações; nenhum dos dois estão doentes, também. Todos se sentem profundamente felizes, quando conseguem um sono profundo, de preferência sem sonhos − Ramana falava sobre isso.
A Felicidade está na ausência da “mente egoica” e não na presença ou na ausência de coisas. Não importa se você é muito rico ou muito pobre: se está no ego, é estar em infelicidade e miséria; se está sem ego, é estar em Felicidade Absoluta!
A verdadeira Arte da Felicidade é a Arte de Ser!
Meu convite para você, em Satsang, é: abandone a ilusão do “eu”. Quando está livre desse desejo de obter alguma coisa ou de se livrar de qualquer coisa, você pode ir além dessa frustração, dessa carência, desse tédio e da solidão… você pode ir além desse destino comum a todos!