A Real Meditação é algo que está no seu viver, no seu dia a dia. Você deve “limpar o terreno” para a Real Meditação, que é deixar de se identificar com o experimentador, em qualquer experiência que ele tenha. Ou seja, o experimentador está lá, você o enxerga e o solta, e, quando faz isso, você “limpa o terreno” para a Meditação. Quando limpa o terreno, “você” não está presente, e isso é Meditação. “Limpar o terreno” é soltar a egoidentidade e, quando isso acontece, não tem o “meditador” – a Meditação está presente.
Meditação não tem nada a ver com a postura do corpo, mas sim com a postura interna da mente. A postura de desidentificação com a mente egoica não tem nada a ver com a postura física, mas sim com a postura interna da mente diante dessas reações que surgem. A meditação está no falar, no ouvir, no ver, no sentir, no pensar, sem “alguém” lá. O pensamento é o pensar sem “alguém”, somente um pensamento; o ver é o olhar sem “alguém”; o ouvir é o escutar sem “alguém”; o falar é a fala sem “alguém”. Isso funciona! Prática nenhuma funciona, porque toda prática se torna mecânica.
A “mente” egoica captura aquilo e o transforma em algo dela e, quando ela faz isso, aquilo passa a ser algo de sua estrutura. Então, o que acontece constantemente é você se tornar um expert em meditação, por não haver a investigação da natureza real da Meditação, até porque isso nos é passado por meditadores e não por Sábios realizados.
Portanto, isso não funciona fora da Meditação e você passa a maior parte do tempo fora dela. Você passa a maior parte do tempo tendo que levar seu filho ao médico, encarar a situação de um acidente com um ente querido, lidar com um cliente para fechar um negócio, ou seja, fica a maior parte do tempo trabalhando ou fazendo outra coisa, inclusive lidando com o mundo externo.
Você tem que trazer Meditação para esse momento e, assim, ele se torna pura Meditação, o Estado de Meditação. A Meditação está agora, aqui, falando, rindo… Enfim… Meditação é permanecer fora da mente, fora da consciência egoica, da egoidentidade.
Quem convive comigo já me pegou fora de Meditação? Quando é que eu estou fora da Meditação? Meditação não se trata de uma prática, mas sim do seu Estado Natural. Meditação é Iluminação – isso é clássico no Zen. No Zen, você não medita para iluminar; Meditação é Iluminação; não há separação entre Meditação e Iluminação.
Um discípulo fala para o Mestre Zen: “Mestre, eu estou meditando e ainda não tenho paz”. O Mestre lhe diz: “Continue”!
Algum tempo depois ele retorna e fala: “Mestre, eu estou meditando e já encontrei a paz… Agora eu estou na paz”. O Mestre diz para ele: “Então, continue, porque isso vai passar”!
Para que serve alguma coisa que só funciona quando você está afastado do seu viver? Você está trabalhando, caminhando, conversando com pessoas, fazendo qualquer atividade e a coisa não está lá? Se você precisa ter um momento reservado para poder viver essa coisa, isso serve para quê? Pergunto novamente: Quando é que eu estou fora da Meditação? Quando há Meditação, não há “você”. A Meditação é estar desidentificado, sem uma identidade nisso que está aqui presente… Então, o seu olhar é Meditação!
Por que a sua mente silencia aqui? Pare agora a sua mente! [silêncio] Não teve nenhum esforço da sua parte. Onde está o pensamento? Não tem. Por que isso acontece aqui? Em razão do Estado de Presença ser tão forte, tão real, que a própria “psicosfera” (palavra apresentada a mim, nesses dias, por um de vocês) muda quando eu olho para você. Você olha para mim porque esse Estado Natural, aqui, está sendo expresso em palavras, no olhar, em gestos, no Silêncio. O Estado Natural é Meditação, é Consciência.
Isso é como a presença do fogo. Quando você apaga o incêndio, você não acaba com o fogo. Você cria uma situação para o comburente (aquele elemento que incendeia) não mais se manter aceso. Então, a impressão que você tem é de que o fogo foi embora… Mas tudo é fogo! Só que o comburente não incendeia mais. Você jogou água, então o comburente não tem agora a mesma facilidade… Ou você joga uma química sobre o comburente e diz: “Abafei o fogo”… Não! O fogo está sempre presente! Tudo é caloria, tudo tem calor! O fogo desapareceu, então você diz: “Acabou o incêndio”. Sim, acabou o incêndio, mas não acabou o fogo. Se você facilitar, havendo ainda algum comburente ali, ele pode pegar fogo.
Enquanto houver alguma facilidade para um comburente incendiar, o risco de fogo surgir é muito grande, porque, na verdade, o fogo ainda está por lá; tem que trabalhar com cautela, porque, se vacilar, ele vem de novo. O fogo é assim… Ele está aqui, e o que cai nele vira fogo! Caiu no fogo, vira fogo, a não ser que você pegue o objeto incendiário, que é o comburente, e dificulte para ele, acabando com o oxigênio ou com outra condição que o faça incendiar. Então, na verdade, você não está extinguindo o fogo, mas a possibilidade do fogo se manter no comburente; você vai em cima do comburente, não do fogo, pois o fogo não dá para apagar!
O “comburente” é esse aqui, que está aceso… Isso aqui é o comburente! Então, você dificulta a vida do fogo, nesse objeto, e o fogo desaparece. Entretanto, o fogo, em si, não acaba! Fogo é fogo! Fogo queima tudo… e está aqui! Agora, o fogo precisa de um comburente, não é? Tem que queimar isso, depois queimar aquilo e aquilo outro… Não é assim? Não é o comburente que mantém o fogo vivo? Mas, quando você diz que “o fogo morreu”, não morreu, não! Cuidado, porque não morreu, e, se vacilar, o comburente incendeia de novo!
A Consciência é como o fogo – não apaga nunca! A Consciência, que é esse Fogo, precisa de uma condição para se alastrar e se manter. A condição para essa Consciência, para esse Fogo da Presença, se manter é a ausência do ego, da egoidentidade… Colocou o ego, acabou o Fogo! Pensou, “viajou”, imaginou… Acabou!
Você pergunta: “Mestre, por que na sua Presença a mente silencia?”. Porque o Fogo é tão forte, tão forte, que o “comburente” aí incendeia. Ainda: “Mestre, por que longe da sua Presença não tem Consciência? Por que longe da sua presença não tem Fogo?”. Porque esse comburente está misturado com água, com produtos químicos, e não tem como pegar fogo (Risos). Tem fogo lá? Tem, mas há um montão de dificuldades e não tem como ter fogo. Não é bem assim? É bem assim… Tire a dificuldade, limpe o terreno, que, então, o fogo se alastrará. Fique diante de um Buda, de um Mestre vivo, que ali o Fogo é tão forte que se cria uma condição para esse “comburente” não ter nenhuma dificuldade para incendiar.
Participante: Há poucas pessoas no mundo todo que conseguiram deixar o ego, não é? São poucas as pessoas iluminadas no mundo, não é?
Mestre Gualberto: Não tem ninguém iluminado! “Pessoa” não ilumina! Então, não tem “pessoa iluminada”! Primeiro, não tem nem “pessoa”, muito menos “pessoa iluminada”. Quanto a esse Estado de Realização, Iluminação, se a sua pergunta é se existem muitos ou poucos assim, não sei lhe dizer.
Participante: Então, largar esse ego é o trabalho de uma vida?
Mestre Gualberto: É! De uma vida! Feliz aquele que dedicar a sua vida a esse trabalho, que é o trabalho de uma vida. Feliz aquele que tiver essa bênção de dedicar a sua vida inteira a esse exercício de olhar e olhar… É o maior empreendimento, a maior e mais linda coisa! A única coisa que realmente importa é descobrir o Sábio que está aí, a Verdade sobre si mesmo; descobrir esse Estado fora do que se conhece, fora da mente, que é Bem-Aventurança, Amor, Verdade, Sabedoria, Liberdade. Isso é a única coisa que importa! Quantos estão vivendo esse Estado? Isso é irrelevante.
Hoje em dia há muitos se apresentando como conhecedores Disso. E conhecem mesmo o aspecto teórico, verbal, têm bons cérebros, leram bastante, ouviram muitas palestras, estudaram bastante sobre Iluminação, como, por exemplo, um menino que escreveu para mim dizendo ter assistido 400 vídeos do Mooji e me perguntou o que estava faltando.