Você, como pessoa, está sobrecarregado de conceitos sobre a vida, de como a vida deveria ser ou como ela poderia ser para você. Isso é conflito! Isso é sofrimento! Nessa Liberação, não há o sentido de pessoa e, naturalmente, não há conflito, porque a vida é maior que o sentido de alguém. Não tem alguém! Chame isso de Amor, Liberdade, Paz, Alegria, Felicidade, mas é Você… Você em seu Estado Natural! Você como nasceu para Ser: sem passado, sem futuro, sem nome, sem história.
Não é inteligente ser uma pessoa, não há Inteligência… Quando não há Inteligência, não há Verdade e, se não há Verdade, a ilusão se instala falseando tudo. A Inteligência é Sabedoria, e Sabedoria é Verdade. Quando há Verdade, não há ilusão! Sem ilusão, não existe dois, só há um, só tem essa coisa sem nome, que não é pessoal. Não tem nome, não tem forma, não tem cor, não tem corpo, não tem idade, não tem referência…
Dá para acompanhar isso?
Participante: Dá! Só que, na prática, é difícil conseguir fazer isso não sendo uma pessoa…
Marcos Gualberto: Você não pode! Isso não é para você! Isso é quando “você” não está. Vocês não estão em Satsang para descobrir o que fazer. O “fazer” é muito artificial, o “fazer” é uma coisa aprendida. Tudo que você faz, você aprendeu. Você está sentado aí porque você aprendeu a sentar desse jeito. Aprendeu a beber, a falar, a gesticular; aprendeu as posturas físicas que você tem… são todas aprendidas no tempo! Isso é artificial, não é natural! Isso é parte de uma história específica de um mecanismo, de um organismo, ao qual deram um nome quando nasceu.
Você aprendeu a expressar sentimentos, emoções; você aprendeu a pensar – você até acredita que pensa, porque aprendeu a pensar. Você acredita que fala, porque aprendeu a falar. São fenômenos ligados ao aprendizado desse mecanismo, desse organismo, no tempo, e isso não é natural. Isso é artificial, isso é superficial… Isso não é você! Qualquer coisa que você faça não é você; qualquer coisa que você aprenda, não é você.
Então, você não está em Satsang para aprender algo. Vocês têm que fazer uma clara distinção entre espiritualidade e Realização de Deus. Espiritualidade se aprende! Eu não trato de espiritualidade. Eu não ensino o que você deve comer, como você deve se vestir, como você deve falar. Eu não ensino nada disso! A espiritualidade cuida disso; eu não! Eu lhe mostro como desaprender tudo, inclusive essa espiritualidade que vocês trazem quando vêm me visitar. As pessoas ficam chocadas quando vêm me ver, porque elas chegam muito “espirituais”; uma coisa de afetação, aprendida, e não uma coisa natural.
Deus não tem nada a ver com espiritualidade; Deus tem a ver com naturalidade, com ser natural. Um bebê, antes de ser educado, está muito próximo de Deus, porque ele é natural, expressa sentimentos, emoções – tudo é muito real até certa idade. Depois, ele também aprende, entra no mundo mental e começa usar isso para conseguir as coisas, artificializando tudo; não tem mais verdade, porque ele aprendeu…
O problema com vocês é esse… Vocês estão muito artificias para tropeçar na naturalidade de Ser… Saber é Ser, mas isso não se aprende. O saber que se aprende não é Ser, é a espiritualização, é a socialização, é a ética, são os princípios morais e todo tipo de coisas que se aprende hoje em dia. Mas, isso não é Sabedoria, isso não é Verdade, não há Riqueza nisso, não há Profundidade, Inteligência, porque isso não é inato. O que é inato, é profundo; o que é aprendido é artificial, é uma fachada, é uma máscara.
Então, vocês não vêm aprender, em Satsang – eu não sou um professor. Não foi isso que meu Guru me passou. Aquilo que está aí dentro, é constatado, é descoberto, não se aprende. Isso aflora! Isso é como uma dessas flores aqui…
Elas não aprenderam Isso, elas nasceram com Isso. Elas receberam as condições necessárias e floresceram. Para mim, o sentido de sadhana, ou prática espiritual, não é algo sendo acrescentado a você, para lhe dar uma formação. Mas, é algo sendo sinalizado para você… Para perceber como florescer.
Então, é claro que essa artificialidade de vida aprendida deve ser esquecida, deve ser abandonada; seu materialismo deve ser abandonado e seu espiritualismo também. Você precisa desaprender a ser alguém ligado ao mundo e precisa descobrir como deixar, também, de ser alguém ligado a esse mundo da espiritualidade. Precisa desaprender tudo isso! Você precisa aprender a investigar sua Natureza Real; precisa aprender a investigar como um cientista no laboratório, que parte de uma hipótese e investiga alguma coisa. Ele tem uma teoria e tenta confirma-la através de experimentações científicas.
Aqui, você é o cientista e é o próprio laboratório, com todo equipamento dentro. Você vai investigar, vai olhar para dentro, vai abandonar o que os padres disseram, o que os pastores disseram, o que os gurus sem barba ou de barba grande disseram. Você vai abandonar tudo, porque é a sua vida, não é a vida deles. Você vai aprender a olhar para você, para o que se passa aí dentro, nessa investigação de sua Real Natureza, nessa observação de si mesmo…. Por exemplo, o que você sente quando esse “eu” é desafiado na rejeição, na crítica, sendo maltratado, desafiado de alguma forma? O que você sente? Como é essa reação? Quem é que reage nessa tentativa de se defender? Se defender de quem? Quem está ofendendo quem?
Então, você vai observar, vai descobrir isso dentro de si mesmo… Você aprende essa autoinvestigação e isso abre o espaço, abre o terreno para a Meditação. Meditação é uma coisa muito importante e ela não é o que, também, se ensina por aí. Há um caminho natural dentro de você para ser descoberto – esse caminho é sem esforço. A Meditação, como é ensinada, requer muito esforço. Você tem que controlar a mente, você tem que esvaziar a mente, você tem que… tem que… E você diz: “Mas, como se faz isso? Se estamos falando de algo que não se aprende, que já está dentro e que floresce, apenas?” A Meditação deve ser algo assim; não pode ser uma coisa ensinada, não pode ser uma coisa aprendida. Deve ser algo que floresce de dentro!
Enquanto você respira, só respira porque está vivo e a respiração, para aquele que está vivo, é muito natural. Essa capacidade de respirar já nasceu com você. Então, aquele primeiro tapinha que o médico lhe deu, é exatamente o que o Satguru faz quando ele lhe dá uma sadhana – é o único ensino que ele tem para lhe dar. Ele lhe dá o tapinha no bumbum para você começar a respirar, mas você já respira por você mesmo e Ele sabe disso.
O Satguru não é um professor; o professor é o guru. Na Índia, todo mundo que ensina é guru… Então, tem o professor que ensina, que é o guru, e tem o Satguru… O Satguru é aquele que desperta você para Isso que Você é. Ele não te ensina nada, ele te dá um tapa no bumbum. A sadhana que Ele lhe dá é para despertar você para aquilo que você já traz aí. Você respira e o médico te devolve para mãe, te devolve para Existência. Ele não te ensina nada; ele te dá um tapa no bumbum… E diz: “Cara, respira! Vamos lá! Vamos embora, é a sua vez!” É o Satguru que faz isso, não é o professor! O professor tem muita coisa para lhe ensinar…
Você nasceu para realizar Isso, assim como o bebê nasce para respirar – senão, porque ele nasceria? A única coisa que importa na sua vida é ser o que você nasceu para ser. Você nasceu para ser Deus! Ter o Olhar de Deus, ter o Amor de Deus, ter o Silêncio de Deus, ter a Compaixão de Deus, ter a Sabedoria de Deus, ter a Paz de Deus, ter o desprendimento que Deus tem, em toda sua manifestação, onde tudo é Dele e nada é Ele! Onde tudo é Ele, tudo é Dele e nada é Dele.
O sinal clássico dessa Realização é não sofrer, é não ter problemas. A limitação é sempre da forma, mas você não é a forma. Na ideia de ser alguém, você se confunde com a forma. Então, se houver uma limitação na forma, você se sente, também, limitado. Isso porque o sentido de alguém ainda está presente. Mas, se isso cai, não importa a condição do corpo, nem a condição política do país – se o presidente vai ser preso mesmo ou não.
A história é um filme, um jogo da mente e você está fora dela. Fora da mente, você está fora do jogo ou vê o jogo só como um jogo. Como um jogo, vamos rir, vamos brincar, vamos nos divertir, mas sofrer não. Sofrer é muito estúpido! Sofrer é inconsciência, sofrer requer esforço. O Natural não conhece esforço. Deus não se esforça; Deus é natural! Sair de pontos de vistas, sair de enquadramentos, sair de particularizações, sair de regras prontas… Deixar tudo isso!