Estamos diante de um novo conhecimento e aqui a palavra conhecimento é usada de uma forma muito estrita, específica. Autorrealização é a aproximação de uma nova forma de conhecimento – o conhecimento de uma natureza diferente da que nós usamos para esse tipo de palavra. Designamos conhecimento como a tradução verbal de uma dada experiência, percepção ou a ciência de algum tipo de objeto. Aqui, quando falamos dessa Realização, que é a realização da Verdade sobre nós mesmos, estamos falando de um conhecimento completamente diferente daquele.
Assim, em encontros como esse, estamos discutindo o conhecimento de nossa Real e Verdadeira Natureza, o único conhecimento real que nos interessa aqui. O que nos interessa é saber quem ou o que nós somos – esse é o Real conhecimento! Esse conhecimento tem o significado bastante estrito, é o conhecimento daquilo que realmente nós somos e isso implica uma completa ausência de qualquer ideia preconcebida, de qualquer conceito, crença ou conhecimento no sentido comum.
Não estamos aqui nesse encontro de Satsang tentando alcançar um objetivo imaginável, ou uma ideia preconcebida. Assim, esse conhecimento não nasce de uma ideia preconcebida, nem de um objetivo imaginável. Esse legítimo conhecimento é o conhecimento do desconhecido e, dessa forma, um conhecimento diferente do comum. Então, quando falamos do conhecimento do Ser, conhecimento de nós mesmos, estamos falando do desconhecido e o desconhecido não pode ser preconcebido ou imaginado, porque isso faria parte, ainda, do pensamento. O que é parte do pensamento é parte da mente, e o que é parte da mente não é real, não é verdadeiro.
Portanto, aqui nós temos a primeira coisa dentro dessa aproximação, desse trabalho: é necessário ir além do conhecido, além da mente, além do conhecimento! Então, o verdadeiro conhecimento do Ser é o desconhecido. A Verdade jamais pode ser capturada, apreendida, pela mente e, sendo assim, ela não pode ser aprendida. A mente não pode apreender, capturar isso… essa não é uma forma real de aproximação. Muitos estão tentando fazer isso através dos estudos, chegando até mesmo a dizer que existe um “passo a passo” pelo estudo da Advaita. Você pode estudar a Advaita e intelectualmente criar um passo a passo, mas você não pode apreender a Verdade pelo intelecto, não pode capturar isso.
Esse assunto é um assunto que não tem forma, não é um objeto, não é algo que possa ser analisado… A Verdade não é algo assim! Tudo que é possível se conhecer é algo assim, mas o desconhecido não é algo assim. Então, você não alcança a Verdade, não atinge a Verdade, não “chega lá”. Quando a Verdade está presente, “você” não está, o conhecido não está. Parem com essa bobagem! Você não pode capturar isso ouvindo falas de Satsang, pois essas falas não servem para isso! E por que não? Porque esse assunto não tem forma, não é um objeto de pesquisa, não dá para estudar isso. Se você anda ouvindo muitas falas sobre isso, está somente acumulando conhecimento e conhecimento ainda é parte da mente… isso não é a Verdade!
Existe uma forma de ouvir isso, mas não é pelo intelecto, nem ouvindo um professor. Um professor vai lhe dar conhecimento sobre isso, mas isso não é a Verdade. Outra coisa aqui é que, enquanto estiver ouvindo um professor, você adquirirá conhecimento, o que representa um novo condicionamento, um novo aprendizado, uma nova ciência, porém, isso não é a Verdade, é somente uma forma de ouvir a Verdade. Um professor não pode lhe dar isso, mas um Mestre vivo sim! Somente um Mestre pode fazer você ouvir a Verdade. Um Mestre vivo é a Verdade, não é um professor, não está tratando com o conhecimento… O Mestre não está lhe comunicando informações, conhecimento, pois ele não é um professor, não estudou isso.
A Verdade não estuda conhecimento. A Verdade expressa a Verdade! Então, você pode ouvir somente a Verdade vinda da Verdade, ou seja, a única forma de ouvir a Verdade é ouvindo a Verdade nascendo da própria Verdade. Dessa forma, você é tocado pelo desconhecido, por Aquilo que não tem forma, não é explicável – isso é ouvir a Verdade da Verdade! Não precisa do intelecto, ele não entra nisso, porque Isso não é algo que passa pelo raciocínio, pela lógica, pela conclusão. Isso é algo que vai direto ao SER, ao coração, é a Verdade com a Verdade.
Você tem que ser “iniciado” na Verdade… Na Índia eles chamam Isso de “iniciação”. Um Mestre vivo lhe dá essa iniciação da Verdade! Percebam a graça e a beleza disso: não é um conhecimento sendo passado, não é uma informação sendo comunicada, não é algo que vem de um professor para um aluno, nem são amigos, em volta de um professor, discutindo um tema sobre alguma coisa que possa ser compreendida, analisada, estudada – tudo isso ainda está dentro dessa dimensão da egoidentidade, dentro da dualidade.
A Verdade não pode ser entendida, nem ser comunicada com uma forma, uma lógica, uma didática. A Verdade está nessa comunhão da Verdade com a Verdade. Assim, o verdadeiro discípulo, o devoto, pode ouvir através dessa iniciação – essa é a forma de ouvir – e a Verdade é despertada em seu coração. Você não vai apreender a Verdade, vai despertar para a Verdade. O verdadeiro Guru desperta o verdadeiro discípulo, ou devoto, porque Ele tem essa Presença, essa Graça… Ele é essa Verdade! Então, ele tem a Presença, a Graça, o Poder e a habilidade de despertar um discípulo, um devoto, para aquilo que Ele É, para a Verdade Dele mesmo.
Percebam a clara diferença aí… um professor leva o aluno somente até onde ele chegou, assim como um Mestre vivo desperta o devoto para isso que Ele É. Você só pode compartilhar aquilo que você tem! A impressão que tenho, nessa fala, é de que eu estou apenas fazendo uma introdução (risos). Então, a única técnica possível – se é que podemos usar essa palavra – está na arte de ouvir, que é ser iniciado pelo Poder, pela Presença, Graça, daquele que é a Verdade. Assim, a Verdade desperta a Verdade; não ensina a verdade, pois ela não precisa ensinar. A Verdade apenas desperta, porque a Verdade do Guru é a Verdade do discípulo, do devoto. Portanto, esses encontros de Satsang que nós temos não fornecerão informações nem teorias sobre isso. Dessa forma, a minha recomendação é: “Permaneça em silêncio, nessa participação passiva, mas dentro de uma atitude de plena consciência, plena atenção!”