O fato é o seguinte: você pode ler e ouvir muitas falas sobre Isso, mas não vai resolver. O que é definitivo, nesse trabalho, é a Presença da Graça. Não é você quem faz, não é o seu esforço, sua inteligência (que é a capacidade de compreender isso de forma lógica). O que faz Isso acontecer é Deus, o Guru, a Presença, o Ser.
Como dizia Ramana: “O Guru externo dá um empurrão e o interno puxa!”. Então, o Guru externo empurra, o Guru interno puxa e você se assenta em seu Estado Natural. É uma ação da Graça, da Presença do Guru. Somente Deus revela Deus; Somente Deus vê Deus; Somente Deus entrega Deus e é por isso que o Guru é necessário.
A fala Neo Advaita diz que não há Guru, não há ensino, não há trabalho — eles estão certos —, mas isso quando este Estado Natural já está aí. Antes disso, há muitas Vasanas, tendências latentes da mente para manter o programa de sofrimento, de mentira, de ilusão. O “eu” é essa contração: “Estou aqui! Não gosto disso! Não gosto daquilo! Estou dentro do corpo! Que dia horrível de sol! Que dia horrível de chuva! ‘Fulano’ nem falou comigo hoje. Afinal, quem ele pensa que é”! É essa contração: “Estou aqui, admirando uns e desprezando outros… Então: “Eu estou aqui! Está tudo ruim”, ou: “Está tudo tão maravilhoso! Eu quero mais”! Estou exagerando? É assim ou não é?
Não dá para dar conta disso sozinho — somente se for na teoria, porque, na prática, não. Esse trabalho é uma ação da Graça, então, você precisa abrir o seu coração e orar a Deus. Já que você se sente uma “pessoa”, essa pessoa tem que “pedir penico” — se render. Aí, quando você se volta para o Guru, que é a própria Presença do Guru interno do lado de fora, a Compaixão flui.
Participante I: Acho que isso é o mais incrível nesse trabalho. A gente só constata que algumas coisas não estão mais ali. Só de se manter na sua Presença, de estar nesse trabalho com o Senhor, de repente, a gente constata que não tem mais aquele apego que tinha antes.
Mestre Gualberto: Aquilo cai! Cai de uma forma tal que, a princípio, você estranha. Aquela sentimentalidade não está mais ali, aquele “amor” não está mais ali, aquela “dependência” não está mais ali. Ai você diz: “Que coisa boa! Que maravilha! A Graça…”.
Participante I: Uma libertação!
Mestre Gualberto: Uma libertação já!
Então, quando vocês vêm a Satsang, vocês não vêm aprender com “alguém” que está fora do ego. Vocês entram em comunhão com a Verdade e têm a oportunidade de se render. Aqui, rendição significa desistir de si mesmo, abandonar o orgulho, a arrogância. Essa é a real vaidade: a vaidade de ser “alguém”, de ser uma ilha no oceano, onde o “eu” é o centro e “tudo deve girar em torno de mim”. Vaidade, arrogância… Você pode dar qualquer nome para isso.
Participante II: Mestre, qual é a diferença entre essa vaidade, arrogância e um ego divinamente egoísta, o divino egoísmo?
Mestre Gualberto: Se você não se importa com as pessoas, porque elas amam ser quem elas são, e você decidiu não mais entrar nesse jogo, isso é o divino egoísmo. O divinamente egoísta é ser Deus e Deus não se importa com “pessoas”; Deus afoga pessoas no lago, mata todas elas. Deus destrói a ilusão da pessoa — isso é o divino egoísmo. Eu tenho me sentido assim nos últimos anos. Quando você vem a mim “pedindo penico”, eu me volto para você. Mas, se você quer continuar no seu ego, é com você mesmo. Então, eu vou viver minha vida e deixar você viver a sua miséria. Isso é ser divinamente egoísta!
Se você quer realizar Deus, tem que ir por esse caminho: deixe todo mundo ser miserável, cada um em sua miséria… Viva em êxtase, livre da mentira! Não se associe a pessoas — escute isso, é muito sério! Não se associe a pessoas, sobretudo, quando elas estiverem “atacadas”, em uma crise forte de egoidentidade; deixa-as sozinhas, cada uma com seu inferno particular. Não peça brasas emprestadas! Não vá buscar brasas lá!