A própria busca perpetua uma forma ou outra de sofrimento, porque, basicamente, “Aquilo que é” pode ser procurado, mas não pode ser encontrado. Vocês falam: “Estou à procura de mim mesmo…”. É isso? Você tem que procurar a si mesmo? É a si mesmo que você está procurando? Você não está aqui e agora? Que inquietação é essa? Que intranquilidade é essa? Que desassossego é esse? Então, que procura é essa? O que vieram fazer aqui? O que vocês vão fazer? Para onde vocês vão? Esse é o vício da procura, esse vício de procurar coisas novas. Você arruma um namorado, depois arruma outro, depois outro… Arruma um carro, depois arruma outro, depois outro… Qualquer coisa tem que ser nova, para ficar velha na sua mão e você poder ir atrás de uma outra coisa. Por que isso? Onde é que está o “x” da questão? Qual é o problema real?
Participante: A busca da felicidade…
Mestre Gualberto: Não é possível encontrar a felicidade! Descarte isso! Olhe para isso que está aqui, que é essa inquietude, essa intranquilidade, todo esse desespero humano, esse conflito, esse medo, esse desconforto, toda essa dor e infelicidade. E agora? Você já sabe que procurar não vai dar, pois você vai encontrar uma outra coisa para tentar tapar esse buraco, mas essa outra coisa vai ser menor que esse buraco e não vai conseguir tapá-lo… O buraco é muito maior! Então, o problema é esse buraco, esse vazio, essa infelicidade. E de onde nasce essa procura? Será do vazio ou será uma imaginação sobre o que se pode fazer com esse vazio? A imaginação do que se pode fazer com esse vazio dá início à procura e, aí, tudo o que se encontra é menor que esse vazio: você coloca algo nesse vazio e ele o engole. Tudo que se encontra é muito pequeno diante desse enorme vazio da infelicidade, da incompletude, da insuficiência, da dor.
Freud, Jung, Adler, Maslow… Quem resolveu isso, doutores? Ninguém resolve isso! Quem resolve isso? [Participante aponta para o Mestre Gualberto] .
Não é assim… Eu não resolvo isso. Você resolve isso! O que eu posso fazer é o que o meu Guru fez por mim: mostrar como você pode resolver isso aí. Eu estava sozinho, nessa mesma situação de vocês. Quando eu encontro vocês, vocês não me surpreendem, porque eu sei bem o que é isso, mas isso não está mais aqui. Você resolve isso por uma ação da Graça… Você resolve não continuar perpetuando isso e, aí, isso se resolve por uma ação da Graça, uma ação Divina, uma ação de Deus, uma ação dessa Coisa Desconhecida… uma ação do Guru.
Nesse sentido você está certo: se você não atrapalhar, eu resolvo. Você resolve me deixando resolver, mas não pode fugir. Eu ensino você a ficar quieto, a ficar aí, a não se mexer, a não se mover. Eu trago a quebra do encanto pelas coisas externas, dessa tentativa de você encontrar alguma coisa lá fora para preencher aí dentro. Eu ocupo isso! Por mais de vinte anos, meu Mestre ocupou o lugar de todas as coisas na minha vida, foi o tempo que eu precisei. Cada um precisa de um determinado número de anos, de meses, de dias, ou de horas, porque somos muito teimosos… Não é? Eu ensino você a desaprender, a deixar de olhar para fora… Eu ensino você a olhar para dentro. Todo o meu trabalho é para que você pare de buscar em toda parte, em todo lugar, alguma coisa para colocar nesse vazio.
A Verdade é que você nasceu para Ser, somente Ser… não para ser mãe, pai, empresário, filho, avó, avô, esposa, professora, médico… Você nasceu para Ser, só Ser, e você se esqueceu disso. Você está sendo “alguma coisa”, e isso é um buraco, um vazio, que jamais se preenche. Aí, para piorar, a mente (isso é um velho truque dela) se compara com outros e diz: “Aquilo sim é que é ser feliz”. Não satisfeito com querer ser “alguém”, você quer ser um “alguém” como aquele “alguém”, então vai estudar, lutar, se preparar, trabalhar naquela direção. E ser “alguém” significa ter as coisas que “alguém” deve ter, pois “alguém” especial, como você se vê, se sente, deve ter casa, carro, um marido, uma esposa, depois meia dúzia de filhos, depois uma casa de praia…
Todos os familiares ficam muito felizes, quando você dá um filho para o seu marido. Você mesma se sente realizada! Você se sente um homem realizado quando dá netos para a sua mãe, sobrinhos para a sua irmã, para o seu irmão… Você deixa todo mundo feliz! Mas você olha para si e diz: “É só isso?”. Então, a mente diz: “Não! Tem mais alguma coisa que você ainda não conquistou”. Aí, parece que, quanto mais coisas você coloca, mais este vazio se torna evidente.
Para preencher esse vazio, você também vai para as religiões, vai buscar gurus… Esse vazio é criado somente pela sensação de ser “alguém”. Não é por Ser, mas pelo desejo de “vir a ser”, pela intenção de ser. Você, que nasceu para Ser, esqueceu como Ser, confundindo-se com as operações da mente cultural, social, educada e treinada para obter. Assim, não tem como a felicidade ser a sua Real Natureza, e, no lugar disso, há a infelicidade.
Você vê como não se trata de buscar? Buscar o torna mais infeliz! Ser é uma questão de desaprender essa coisa de “vir a ser”, de ser “alguém”, aí só fica Isso: Ser! Então, a mente para com essa tagarelice interna, esse monólogo, essa coisa de falar com você mesmo o tempo todo. Você é alguém que, constantemente, está sendo ofendido, magoado… Você encontra uma coisa e diz: “Agora vou ser feliz!”, mas aquilo frustra você. É uma frustração muito grande ser “alguém”: ser mãe, pai, marido, esposa…
É incrível como isso é simples! Então, do que é que estamos mesmo tratando em Satsang? Estamos falando do fim da ilusão de ser “alguém”; estamos apontando para um Estado livre do ego, do medo e do sentido de uma “pessoa” presente, com as suas buscas e insatisfações intermináveis. Estamos falando do fim da mente egoica, que transporta em si tantas crenças e ideias, tantos conceitos e conhecimentos, tantas experiências e tantas soluções, as quais nunca resolvem nada e, ainda, criam mais situações, que, por sua vez, criam mais situações. Então, é melhor ir além da “pessoa” e deixar o mundo por conta Daquele que está brincando dessa forma. A princípio, parece uma coisa muito cruel para você, mas é apenas leela (como os indianos chamam essa brincadeira) o modo como Deus lida com tudo.
Você cria filhos para eles terem filhos e perpetuarem toda a miséria humana, porque essas crianças também vão ter filhos que, por sua vez, vão ter filhos, e essa dor humana, essa miséria, essa leela continua. Você não vai mudar isso! Você vai acordar desse sonho; é só o que você pode fazer. O sonho é assim: carrega o bem e o mal, a crueldade e a bondade, a estupidez e a sabedoria humana, o construir e o destruir. Então, acorde do sonho! Assim, você está além do ego, da mente, desse jogo, desse vazio, dessa inquietude, desse absurdo estúpido que é a vida humana sem o Divino; a vida do “eu”, com todos os “meus” (minha casa, minha esposa, meus filhos, meu marido, meu corpo, minha mente, minha saúde, minha doença…). E agora?