Você vê um pianista e sua desenvoltura, habilidade, espontaneidade, quando ele está tocando e você diz: “Como é bonito isso. Ele é tão natural fazendo isso”. Você olha e diz, ainda: “Eu queria conseguir fazer assim”. Então, na primeira vez que você se assenta ao piano, você vê o quanto isso é complicado, mas para ele é tão simples… Quando ele faz isso, há tanta graça, tanta beleza, tanta naturalidade nisso.
É exatamente a mesma coisa quando você se depara com um Sábio, com um Ser realizado, e você diz: “Como é bonito Isso! Por que eu não consigo? Isso é tão espontâneo, tão natural… Por que meu piano não toca, não produz música assim?” Mas você não deve se sentir assim, pois aquele pianista começou o treinamento aos cinco anos de idade. Quando ele tinha dois anos, a mamãe já o colocava sentadinho no banquinho e fazia-o brincar com as teclas, pegando os seus dedinhos delicados e batendo com eles nas teclas… Ele começou muito criança, vem trabalhando nisso há muitos anos.
O Sábio realizado é resultado de muitas horas de “piano”. Um homem como Ramana, que nunca foi capturado na teia da ilusão, já nasceu com muitas horas de “piano”. Então, você não deve se sentir assim… É necessário você se “assentar ao piano” e começar. Como os seus dedos não têm habilidade, ainda, o cérebro “não funciona bem com as mãos”, não há, também, uma memória motora nos dedos, no mecanismo, na “máquina” [corpo], e, então, você não acerta as “notas”… É muito esforço e zero de resultado… Muito Satsang e você olha e diz: “Não está acontecendo nada. Ainda não consigo ver a vida, o mundo, assim, nem consigo ver as pessoas dessa forma”; ou “Eu ainda fico ofendido, magoado, sinto rejeição”; ou “A ‘partitura’ está na minha frente, sei que as notas estão ali, mas eu não consigo acertar”…
Compreendem o que eu quero dizer? Eu conheço a teoria toda, já ouvi isso milhares de vezes. Confie no que estou lhes dizendo. Não desistam! Vocês têm dificuldades, ainda, porque não sabem como este mecanismo egoico funciona. Vocês não conseguem perceber todo o truque, distraem-se muito, com facilidade; não percebem o que está acontecendo claramente aí dentro, os velhos truques da mente, e ela está nesse exercício há muito tempo. Quando nós nos encontramos aqui, eu digo para você: “Não desista”! Depois que tudo está resolvido, não há mais problema nenhum, e aí a música é produzida com facilidade. Mas, no momento, você precisa dar tempo a si mesmo. A Verdade não está no tempo, mas a ilusão é o tempo!
Existem alguns professores advaitas que já estão “tocando o piano” com habilidade, facilidade, vendo que é simples demais, então, eles podem dizer para você: “Não precisa praticar… Está tudo tão claro! Não há nada que se possa fazer, ou que se precise fazer”. Essa é a fala neo advaita nesse tempo, mas essa não é a minha experiência, com meu Mestre. Um dia eu ouvi uma fala de Jiddu Krishnamurti em que alguém da plateia perguntou para ele: “Senhor, isto parece tão simples quando o senhor fala, mas eu não consigo viver isso”. Sabem qual foi a resposta do Krishnamurti? “Saia daqui e viva isso. Você não vive porque não tem interesse”. Tinha tanta força em sua argumentação, tanta sabedoria em sua fala que, de fato, não se pode discutir com um Buda, mas isso não resolve, porque a pessoa sai dali e tudo continua na mesma.
Eu tive a felicidade de nunca ter ouvido ninguém falar sobre essa “coisa”. No ano de 2007, em que aconteceu Isso aqui, que a “bomba caiu”, eu não sabia o que tinha acontecido, porque eu não tinha ouvido nada sobre Isso. Eu tinha o contato com Ramana, meu Guru, mas no coração. Eu não tinha lido sobre Isso, não sabia quem ele era, quem tinha sido. Somente muitos anos depois eu fiquei sabendo a história dele e somente agora, há pouco tempo, eu comecei a ler sobre Ramana. Eu não sabia nada sobre Isso, então, eu fui muito feliz. A minha guiança esteve no “coração” durante 21 anos, de 1986 até o ano de 2007, quando a “bomba caiu”, e eu não sabia o que tinha acontecido: “O que é isto? Por que está tudo assim? Por que eu estou em tudo? Por que estou dentro dela, dele, dos objetos? Por que só tem Eu?… Por que essa ‘coisa’, que eu chamo agora de Alegria? Por que é tudo uma bobagem? Tudo é muito engraçado!”.
Durante 21 anos, tinha medo, dúvida, tristeza, problemas, mas havia uma direção Dele… Ramana estava vivo aqui, muito longe de uma imaginação dessa coisa estar acontecendo hoje à minha volta. Então, na minha experiência, você tem que ter paciência com isso, confiar em seu Mestre. Em algum momento, na sua vida, a Graça de Deus vai tocar você e atraí-lo − é quando o Guru toma forma para você.
Portanto, não é como diz a neo advaita. Talvez alguns já nasceram “tocando piano”, e outros estão fingindo que tocam (isso é muito mais comum acontecer), mas essa não é a minha experiência, pois eu não nasci “tocando piano”. Em meu caso não foi com 16 anos, nem com 8 anos (como é o caso de Papaji, que somente pôde definir tudo isso, conseguiu assentar o Estado, aos 34 anos de idade, diante de Ramana). Então, no meu caso não foi com 16 anos, nem com oito anos, mas aos quarenta e cinco anos.
Ontem fizemos um bolo: 55 anos… E eu estou aqui há dez anos, em meu Estado Natural. Eu tenho 10 anos! Eu sou uma criança! Vocês não devem se lembrar da minha idade cronológica, biológica, pois eu não me importo com essa idade. Já que gostam de se lembrar das coisas, lembrem-se de quando o Guru nasceu, quando seu Mestre nasceu. Quando ele nasceu, já nasceu por causa de você, para encontrar você. Ele nasceu para amar você, ser o único Amor da sua vida, da única Vida real. Então, você tem que ter paciência com você mesmo e precisa confiar Naquele que “chegou” antes de você.